No terreno, situado numa encosta íngreme, existia uma casa dividida em dois terraços, revestida a ardósia que se estendida pela eira, e um celeiro em xisto. Dos 1697 m2 apenas 600 m2 estavam destinados à construção da RPFV House. O corredor aberto, desde a rua até ao coração da casa, paralelo à ampla esplanada de receção sob a qual se esconde parte da habitação, faz-nos percorrer o cenário do jardim sul. O piso térreo (ao nível -2, abaixo da cota de rua) foi reabilitado e ampliado. O piso 1, balanceado sobre o terreno, ganha forma em torno do pátio maior que é recortado pelo pátio do piso térreo, e é o espaço mais vivo no dia a dia familiar. A norte, a entrada para o estacionamento coberto leva os habitantes até à cozinha, pela sobriedade de um corredor estreito e longo. A sul, a sala tem vista para o jardim. Da rua apenas se vislumbra o terceiro piso (a zona de quartos) que se sobrepõe parcialmente ao volume do piso intermédio e que dá abrigo ao pátio e à porta de entrada. A cobertura do piso intermédio, ao nível da rua, é uma ampla esplanada de onde a vista alcança a arrebatadora paisagem do vale agrícola dominado pelo Monte Córdova.
RPFV House
Num diálogo com a terra
Este foi um projeto com muitos percalços no percurso. Em primeiro lugar a sua localização em zona de reserva agrícola, tornou penosa a aprovação no Ministério da Agricultura. Por outro lado, algumas vicissitudes no desenvolvimento da construção «impediram que se concluísse tão rápido quanto desejável», refere o arquiteto José Carlos Nunes de Oliveira, CEO do atelier NOArq. O projeto, iniciado em 2013, apenas se concluiu no início de 2018.
Vários foram os desafios que acompanharam esta obra: a convicção de que seria possível construir naquele lugar; o desejo de assentar uma construção nova sobre os velhos muros da casa parcialmente desaparecida - «o edifício revela esses dois lados, uma renovação e uma construção nova. Só quem entra no edifício tem esta perceção. A casa é um exercício desafiante em termos estruturais – a volumetria é constituída por dois balanços que impressionam: um corresponde ao corpo dos quartos, que está suspenso sobre o pátio central; o outro, o volume da sala de jantar, cozinha e despensa, que se projeta sobre a vinha que preenche o vale a nascente».
Um outro desafio foi construir em ardósia – uma pedra muito exigente e pouco tolerante a práticas menos cuidadosas –, conseguindo que a esplanada de cobertura conservasse as lajetas originais da eira. Desta forma, no pavimento é visível a data de 1851 gravada numa pedra. A fachada também manteve o revestimento de ardósia que caracterizava a casa que existia no lugar.
Por fim, surgiu o desafio das caixilharias que dão corpo à ideia de vazio e de prolongamento do espaço, ao mesmo tempo que conferem resguardo e conforto aos residentes. Em particular, pretendeu-se a sua extensão ao espaço de garagem, permitindo a transformação de um espaço secundário num espaço privilegiado e polivalente. A diferença é a luz. Hoje em dia o vidro concentra as melhores características que se pode exigir a um material de construção: «maior rigidez, segurança e potencialidade, comparativamente aos materiais comuns que constroem os portões de garagem», realça o arquiteto. Existe o estigma de que o vidro é frágil, mas, mais uma vez, o trabalho da equipa da HYLINE foi exemplar. «Instalámos Pockets na face exterior das paredes de fachada e revestimo-los a ardósia. Houve a preparação de um sistema de recolha de água na parte superior destes Pockets, para evitar qualquer infiltração que houvesse, por detrás desta ardósia, recolhendo e encaminhando a água para o lugar certo», explica Bruno Brás, PCA da BBG. E ainda, sobre a garagem, Bruno concluiu que «é uma porta de uso intensivo, é aberta todos os dias, e tem o mesmo tipo de leitura que uma janela normal, em que não há qualquer obstáculo no piso, não se vê alumínio, pois tudo está completamente embutido». Trata-se de uma porta que fecha a 90 graus e está completamente motorizada. E o vidro tem uma reflexão extraordinária, que lhe dá um aspeto de «quadro de parede gigante».
O sistema de HY40 é o best-seller da HYLINE. É um sistema perfeito, que combina piso integrado, tornando o alumínio invisível e sem interrupção dos materiais no piso, que se complementa em várias áreas, desde a parte estrutural à parte tecnológica. As portas são motorizadas, os pisos e os aros embutidos, os vidros com eficiência energética muito acentuada. Esta é uma forma de se viver um conceito em função daquilo que é a necessidade da arquitetura. Os arquitetos desenham e a HYLINE arranja forma de desenvolver e transformar. «Com o vidro procura-se a arte do puro visual; depois, em termos estruturais, o que ninguém quer ver, são os suportes das caixilharias, o ferro das amarrações; os sistemas de drenagem em aço inox e o alumínio, que é o segundo componente mais importante da janela. Mas todos são preponderantes», conclui Bruno, ele que é o mentor do sistema HYLINE e, muito em breve, irá lançar três novos produtos, dois deles a serem apresentados ao público na BATIMAT 2019, em novembro.
A base da construção é uma grande caixa de betão. Seguidamente todos os caixilhos foram recobertos com isolamento térmico e impermeabilização, e, depois, uma segunda parede interior foi envolvida e revestida a placas de ardósia. Escolheu-se também a pedra para revestir tudo o que tinha que ver com sanitários, cozinhas, etc.; uma madeira, que percorre a casa; os tetos, que são em gesso; e o revestimento numas escadas em microcimento da cor das paredes. Aquela que era a casa em blocos de xisto transformou-se numa massa escura de ardósia, em perfeita harmonia com a natureza envolvente.
Perfil da moradia aos olhos do arquiteto:
Área bruta construída: 643 m²
O projeto é: sólido
Detalhe: a luz direcionada
Conexão com: a terra
Cliente: um feliz encontro
Perfil da moradia aos olhos de Bruno Brás:
O projeto foi: desafiante
Tecnologia: ambicioso
Detalhes: minimalismo
Otimização: de recursos e pessoas
Experiência: formidável