Agronegócio - Uma estratégia de soberania.

Agronegócio - Uma estratégia de soberania.

Angola tem uma oportunidade histórica de transformar a sua paisagem económica a partir da terra. O agronegócio é mais do que um setor produtivo: é uma estratégia de soberania, prosperidade e independência. Com recursos naturais abundantes, energia crescente, juventude dinâmica e vontade política, Angola tem tudo para ser um gigante agrícola em África e um exemplo de transição económica sustentável. A natureza já fez a sua parte. Cabe agora ao país — aos seus empreendedores, governantes, investidores e comunidades — fazer da agricultura o centro de uma nova Angola: rica, livre de dependências e com raízes bem firmes no futuro.

Durante décadas, Angola foi reconhecida internacionalmente como uma potência petrolífera. O crude moldou a economia, sustentou o orçamento do Estado e definiu, em grande parte, a relação do país com o mundo. No entanto, a dependência excessiva de um único recurso natural tornou o modelo económico vulnerável aos choques externos e impediu o desenvolvimento de outros setores estruturantes.

«Angola tem uma oportunidade histórica de transformar a sua paisagem económica a partir da terra.»

Hoje, o paradigma começa a mudar e o agronegócio surge como uma das alavancas mais promissoras para uma Angola sustentável, auto-suficiente e rica. Com mais de 35 milhões de hectares de terras aráveis, cerca de 58% da população ativa ligada ao setor agrícola e uma localização geográfica privilegiada, Angola reúne os principais requisitos para se tornar um caso de sucesso continental e até global no domínio da agricultura moderna e profissionalizada.

Angola possui recursos hídricos abundantes, com uma rede hidrográfica que cobre em torno de 70%  do seu território, o que permite a adopção de sistemas de produção por irrigação artificial de culturas variadas, sem total dependência das chuvas, sobretudo no actual contexto de alterações climáticas. Soma-se a isto uma população jovem com uma média de idade inferior a 20 anos pronta a ser capacitada e integrada numa economia produtiva, com impacto direto nas comunidades locais.

Os investimentos feitos nos últimos anos no setor da energia, tanto em barragens como em energias renováveis, criam as condições necessárias para suportar unidades agroindustriais, centros de transformação e zonas de desenvolvimento agrícola integrado, com menor custo energético e menor impacto ambiental.

O país importa ainda cerca de 70% dos alimentos que consome, segundo dados do Banco Mundial. Este desequilíbrio é um dos grandes desafios do país. A aposta em modelos de produção adequados à região, cultura e contexto sócio-económico, adaptados aos princípios da resiliência climática, o uso eficiente da água, reaproveitamento de resíduos e utilização responsável dos produtos químicos, é essencial para reduzir a fatura das importações, garantir a segurança alimentar interna e transformar a agricultura numa indústria exportadora. A produção nacional de cereais, frutas tropicais, hortícolas, raízes e tubérculos tem vindo a crescer, impulsionada por empresas que investem em tecnologia, certificação e boas práticas agrícolas.

A agricultura profissional e estruturada tem um efeito multiplicador evidente na economia: gera emprego directo e indirecto, dá formação e integra os sistemas de produção com as comunidades, fixa populações no interior e cria um ecossistema rural dinâmico que alimenta também os setores secundário e terciário. Por cada grande unidade agrícola instalada, surgem novas oportunidades: desde o transporte e logística, à embalagem, conservação, transformação, comercialização e exportação. Esta cadeia de valor tem o potencial de absorver milhares de jovens e promover o desenvolvimento territorial equilibrado, combatendo a sobrecarga urbana das grandes cidades.

«[…] o agronegócio surge como uma das alavancas mais promissoras para uma Angola sustentável, auto-suficiente e rica.»

O verdadeiro salto qualitativo do agronegócio angolano acontecerá com o reforço da transformação agroindustrial. O país não pode apenas produzir — tem de transformar, embalar e exportar produção de valor agregado com marca própria. A industrialização agrícola cria produtos de maior valor, reduz a perda pós-colheita (que ainda atinge níveis superiores a 30% em algumas regiões) e posiciona Angola como um fornecedor confiável em mercados internacionais exigentes. As Zonas Económicas Especiais, os programas de fomento à produção interna (como o PLANAGRÃO e PRODESI) e os incentivos ao sector produtivo têm sido importantes, mas ainda há um longo caminho a percorrer, sobretudo no acesso ao financiamento, na formação técnica de quadros e na logística rural. Angola tem conquistado lentamente o seu espaço nos mercados internacionais através das suas frutas tropicais de qualidade premium (como a banana, manga, pitaia, abacaxi ou maracujá), café de origem controlada e mel de florestas nativas. A aposta na certificação, nos modelos de boas práticas agrícolas e na clara definição dos produtos com vantagem competitiva, representam medidas estruturais e decisivas no posicionamento do agronegócio angolano como uma marca internacional de excelência. E porque a agricultura é ciência e a evolução caminha com a competitividade, o futuro do setor depende também da modernização e digitalização dos sistemas de produção, da análise e tratamento de dados, do uso de tecnologia de precisão, da inteligência artificial e sobretudo da capacitação contínua de quadros técnicos e gestores rurais.

«O verdadeiro salto qualitativo do agronegócio angolano acontecerá com o reforço da transformação agroindustrial»

Texto: Carla Martins
Fotos: Direitos Reservados

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