Fineza Teta - «A arte é o espelho onde a nação se revê.»
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Com um olhar que traduz a alma de Angola em cor, textura e emoção, Fineza Teta dá rosto a uma nação que celebra meio século de independência. Artista plástica, curadora e empreendedora cultural, a criadora da «cara de Angola com 50 anos» para a capa da Villas&Golfe transforma a tela num espelho onde o país se reconhece — entre memórias, cicatrizes e renascimentos.

O que representa para si criar a «cara de Angola com 50 anos» para a capa da Villas& Golfe Angola?
Criar a «cara de Angola com 50 anos» para a capa da Villas& Golfe Angola representa para mim um gesto de profunda responsabilidade, celebração e reflexão. É dar forma visual à maturidade de um país que, ao longo de meio século, construiu a sua identidade entre desafios, conquistas e esperanças. Através da arte, traduzir a essência do povo angolano, pintar a alma de uma nação sobre um retrato de força, beleza e renascimento.
Como traduziu, em cores e formas, meio século de história e identidade angolana neste quadro?
As cores e formas são como vozes da nossa memória — o vermelho da coragem, o dourado da esperança e os traços fluídos em negro da diversidade que nos une. Cada linha é um tempo, cada cor uma emoção, uma identidade na pluralidade. Juntas contam a jornada de um povo que aprendeu a transformar dor em beleza.
O monumento das Vítimas dos Conflitos Políticos em Angola vai ser inaugurado e é um marco simbólico. Que mensagem quis eternizar nessa obra?
Quis eternizar o perdão, a união e o recomeço. Que o monumento fale de reconciliação - honrando a memória do passado, mas como compromisso com o futuro. Uma obra que respira paz e convida o coração de Angola a permanecer inteiro.
«Criar a “cara de Angola com 50 anos” para a capa da Villas& Golfe Angola representa para mim um gesto de profunda responsabilidade, celebração e reflexão.»
Quando está no estúdio, sozinha com pincéis e memória, qual foi o «momento tchubala» em que percebeu que já não pintava rostos, pintava Angola?
Foi quando o silêncio começou a falar mais alto do que as cores. Nesse instante, percebi que cada rosto trazia o reflexo de um povo inteiro — e que, ao pintar uma expressão, estava a desenhar a alma de Angola.

A sua arte mistura tradição e modernidade. Como encontra o equilíbrio entre o passado que inspira e o futuro que quer revelar?
O equilíbrio nasce do diálogo entre o tempo e a intuição. Trago o passado como raíz e o futuro como vento — deixo que ambos dancem sobre a tela até encontrarem harmonia.
Qual foi o momento em que percebeu que a sua arte deixara de ser só pintura e passara a ser memória coletiva?
Quando as pessoas se reconheceram nas minhas obras. Entendi que já não falava apenas por mim — mas por todos que, através da arte, reencontram a sua história e sentem orgulho em ver Angola refletida em cor e sentimento.
Que papel acredita que a arte deve ter na construção da memória e da identidade de Angola?
A arte é o espelho onde a nação se revê. Ela guarda o que fomos, revela o que somos e inspira o que podemos ser. É através dela que a memória ganha cor e a identidade se torna viva e perene.
A curadoria e o design fazem parte do seu universo criativo. O que une todas essas dimensões no seu trabalho?
O fio condutor é a criatividade a emoção. Seja na pintura, no design ou na curadoria, procuro criar pontes — entre o sonhar, olhar e o sentir, entre a espontaneidade e estética e o significado. Tudo nasce e é inspirado pelo mesmo gestor, Deus: dar forma ao invisível.

Ao olhar para Angola com 50 anos de independência, qual é o seu maior desejo para o futuro cultural e artístico do país?
Desejo que a arte continue a ser voz e caminho. Que os artistas encontrem espaço para sonhar, criar e transformar. Que Angola celebre o seu futuro com a mesma coragem com que pintou e trilhou a sua liberdade. Que ser criativo e ser artista sejam reconhecidos e elevados a categorias essenciais da salvaguarda da expressão identitária e da reconstrução nacional.
«[Desejo que] Angola celebre o seu futuro com a mesma coragem com que pintou e trilhou a sua liberdade.»