Nuno Borges, Fundador da Toyota de Angola - Angola: 50 anos de Desafios e Futuro
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Nuno Borges, fundador da Toyota de Angola e membro do Conselho Económico e Social, olha para os 50 anos da Independência com a experiência de quem acompanhou de perto a evolução do país. Reconhece os obstáculos, valoriza os avanços e acredita no potencial de Angola como potência regional, desde que invista na diversificação, na formação dos seus cidadãos e na melhoria do ambiente de negócios.

O que representam, para si, estes 50 anos de independência?
A independência, em 1975, trouxe liberdade e soberania, mas também grandes desafios. Angola viveu disputas geopolíticas que resultaram numa longa guerra civil, só concluída em 2002. Até então, a economia foi marcada por crescimento negativo, elevada inflação e forte dependência do petróleo. O fim do conflito permitiu a reconstrução: milhões de famílias regressaram às suas terras, a esperança de vida aumentou, a mortalidade infantil diminuiu e o número de escolas e hospitais cresceu. Apesar dos avanços, persistem desigualdades, pobreza e necessidade de melhorar a educação e a saúde.
Quais foram os maiores avanços económicos deste meio século?
A reconstrução de estradas, pontes, caminhos de ferro, portos e aeroportos foi fundamental, bem como a expansão das telecomunicações, a construção de barragens e o crescimento da produção de energia solar. O novo aeroporto Dr. Agostinho Neto, a refinaria de Cabinda, o porto Caio e o Corredor do Lobito são projectos estruturantes que alavancam e promovem a diversificação da economia.
Que desafios estruturais permanecem?
A excessiva dependência das receitas do petróleo coloca o país numa situação muito vulnerável. É urgente diversificar a economia, aproveitando o potencial agrícola, mineral, energético e turístico. Ao mesmo tempo, importa reforçar a estabilidade macroeconómica, melhorar o ambiente de negócios, investir na formação e promover investigação científica.
Que sectores considera estratégicos para a soberania económica?
A agropecuária, pesca, turismo, mineração e a sua transformação local, promovendo a sua industrialização. Angola tem recursos naturais abundantes, terras aráveis, minerais, água e sol que devem ser base de uma economia diversificada, sustentável e geradora de emprego.
Qual deve ser o papel do investimento estrangeiro?
É essencial, não apenas pela entrada de capital, mas também pela transferência de conhecimento, tecnologia e criação de emprego. Angola deve ser mais atractiva para investidores, removendo barreiras e reduzindo riscos.
«É urgente diversificar a economia, aproveitando o potencial agrícola, mineral, energético e turístico.»
Angola pode afirmar-se como potência regional?
Sem dúvida. A sua localização estratégica, os abundantes recursos naturais e a juventude da sua população assim o indicam. Para consolidar este papel é vital melhorar a qualidade do ensino, formação de quadros dentro e fora do país e melhorar o ambiente de negócios.

Que balanço faz dos anos à frente da CFAO Mobility Angola?
Fundada em 1991, a Toyota foi um desafio profissional e pessoal muito enriquecedor. Trabalhar com a cultura de rigor e exigência japonesa, e liderar equipas angolanas com grande sucesso foi para mim um orgulho. Aprendemos com os sucessos e também com as dificuldades, sempre com motivação e paixão.
«Trabalhar com a cultura de rigor e exigência japonesa e liderar equipas angolanas com grande sucesso foi para mim um orgulho.»
Que mensagem deixa aos jovens empresários angolanos?
Acreditem no país. Nada é fácil, mas com humildade, integridade, persistência e trabalho, vai ser possível realizar os nossos sonhos. É preciso saber ouvir, aprender continuamente e fazer tudo com paixão e resiliência.
Como imagina Angola daqui a 50 anos?
Vejo Angola como potência regional, hub logístico e tecnológico global, com mais equidade social e oportunidades para os jovens. Os riscos existem, mas acredito que a diversificação económica, a inovação tecnológica e a formação dos angolanos garantirão um futuro promissor.
«[…]acredito que a diversificação económica, a inovação tecnológica e a formação dos angolanos garantirão um futuro promissor.»