Praia do Sobe e Desce - Momentos Memoráveis
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«Quem vem e atravessa o rio» Kwanza, depois do Restaurante Mangais e do Campo de Golfe, o céu é azul, tingido por teias de algodão doce, como rastos brancos de avião que há muito passou. O mar tinge-se de verde, debruado por brancas espumas, quando as ondas regurgitam na areia de ouro pequenas fúrias salgadas. O sol arde no horizonte, grande e quente, como só o sol de África sabe ser, mas nem por isso afugenta os homens do mar, e as crianças de sorrisos largos e vestes garridas que brincam na água morna.

Felicidade… é o que se pressente quando se sobe e desce a suave falésia de cor ocre; quando as mulheres de formosa pele de ébano e trajes alegres, debruçadas sobre si mesmas, esgaravatam e encontram mais uma quiteta (conquilha)… e mais uma, além mais outra, porque aqui o mar é generoso. Felizes são os pescadores que descem da tenda, em cima da tímida falésia, até ao mar, apetrechados de barcos, redes, cordas e sapiência, para de novo subirem, carregados com o que o mar lhes deu, puxando o barco pesado ao som de valentes ditongos.
Paula Tavares e Francisco Faísca, numa atitude filantropa, quiseram dar a mão a estes homens, mulheres, a estas famílias que vivem do mar. Há muito que trocaram as paisagens portuguesas pelas de Angola e, desde então, têm sabido retribuir a forma carinhosa como foram recebidos, ajudando quem mais precisa.

Simultaneamente, a Praia do Sobe e Desce começou a ser um prolongamento do magnífico Restaurante Mangais, do qual são proprietários. Nas palhotas, no cimo da falésia, o festim faz-se de suculentos mariscos, que entraram vivos na panela, aos olhos dos comensais, e de outros sabores do mar, acompanhados por excelentes vinhos, por alegria, por conversas animadas. Paula faz sempre questão que sejam eventos memoráveis, para os convidados, cuja satisfação não carece de palavras, para os pescadores, cujos olhares brilham quando a balança acusa mais uns gramas de marisco, e para ela própria, dona de um coração que só se alegra quando vê felicidade ao seu redor.

Sobem e descem, os homens, as mulheres, as crianças, as areias douradas, descendo pelo hálito do vento e subindo pela mão do mar; sobem e descem as ondas, todos os seres vivos, porque a suave falésia, que um dia foi abrupta, ordena que subam e desçam e todos obedecem, não ao ritmo de batuques frenéticos, mas como uma Kizomba voluptuosamente demorada… descem todos, para um reconfortante banho no mar, subindo de seguida e abalando, depois do sol de fogo mergulhar no mar, como quem apaga a luz atrás de si…
Texto: Maria Amélia Pires
Fotografia: Miguel Costa