Wanderley Ribeiro, Presidente da Associação Agro Pecuária de Angola (AAPA) - Cultivar a nossa independência: Produzir para libertar
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«Porém, a nossa luta não termina aqui. O objetivo é a independência completa do nosso País (...)» (Proclamação da Independência de Angola, 1975)
A nossa independência é uma obra em curso, cujos alicerces da soberania política foram construídos com sucesso. Entretanto, Angola enfrenta ainda o desafio de converter esta independência política em independência económica. Sempre esteve claro que este percurso não seria curto nem fácil, mas, meio século depois, a nossa soberania alimentar está amarrada à capacidade alheia. A verdadeira liberdade, hoje, mede-se pela capacidade de um país alimentar o seu povo com o que produz e criar prosperidade com o que transforma.
Neste domínio, o balanço dos 50 anos deixa a desejar; além do factor importação, a falta de conhecimento técnico e científico sobre a agricultura empurram-nos para campos de baixa produtividade e rentabilidade. O êxodo rural (22% da população urbana logo após 1975 vs 70% em 2024) e a relevante taxa de crescimento populacional (3,08%) aumentam a responsabilidade de quem trabalha no campo, mesmo sendo cada vez menos. Hoje, com quase 70% dos angolanos com menos de 30 anos, a nova geração ainda não encontrou, na agricultura, um símbolo claro de emancipação. Isso porque a libertação não vem apenas da actividade agrícola, mas do conhecimento.
É curioso estar a fazer um balanço sobre os 50 anos da nossa independência na perspectiva agrícola, quando eu nem sequer era nascido naquela altura. A minha geração tomou conhecimento dos factos pelos registos históricos e pela voz dos nossos mais velhos. Entretanto, […] O testemunho nos foi passado e com ele a responsabilidade de sermos agentes activos na consolidação da independência completa de Angola. Se por um lado a geração da utopia libertou o território, a geração actual tem de libertar o potencial — da terra, da ciência, do conhecimento e conquistar novas fronteiras.
Apesar dos esforços empreendidos ao longo destes 50 anos, na última década a agricultura tem assumido um novo protagonismo rumo à diversificação da economia. É um caminho sem volta, ou se preferirmos, é o caminho de volta. Mas, para isso, é preciso ler os sinais do tempo. Estamos numa corrida global em que, para muitos somos apenas um ponto de chegada para o consumo, quando na verdade, temos tudo para ser produtores do nosso próprio futuro.
A agricultura e o agronegócio necessitam da melhor das nossas capacidades para que a nossa curva de aprendizagem e crescimento seja célere e sustentável. Enquanto que no campo, continuamos a cultivar a nossa independência económica, é na ciência e no homem novo que encontraremos o impulso para prosperar. Assim, com sabedoria e com o trabalho árduo que nos caracteriza, colheremos a liberdade e a prosperidade que tanto buscamos. Angola Avante, à Produção!