
VASCO VIEIRA, ARQUITETO - «Na arquitetura, a simplicidade e sustentabilidade são o novo luxo.»
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Nasceu na África do Sul mas foi em Portugal que o trabalho como arquiteto ganhou frutos. Vasco Vieira é hoje um dos arquitetos mais reconhecidos do país, distinguido como um dos dez melhores arquitetos a nível internacional. É no Algarve que concebe a maioria dos seus projetos, todos com uma arquitetura única, que faz sonhar…
Nasceu em Joanesburgo, na África do Sul, e mudou-se para Portugal depois de concluir a sua licenciatura, em 1994. Que inspirações traz do seu país de origem e o que o motivou a vir para Portugal?
O clima na África do Sul era muito semelhante ao clima no Algarve e os espaços exteriores eram uma parte fundamental da vivência. Foi essa ligação interior e exterior que destacou os meus primeiros projetos no Algarve de muitos outros arquitectos. Os meus pais sempre ambicionaram voltar para cá, por isso, logo que terminei o curso, vim para Portugal.
Trabalhar na estância de Vale do Lobo, no Algarve, foi um impulso importante para o seu percurso e carreira?
Vale do Lobo foi um passo muito importante na minha evolução como arquitecto. Foi lá que apreendi a lidar com clientes de todas as nacionalidades, a maioria deles muito exigentes e que procuravam qualidade. Como nesse período fui tanto o arquitecto chefe do empreendimento como director de construção, aprendi a conjugar a arquitectura com a arte de bem construir, conhecimentos essênciais para o meu futuro percurso.
«Vale do Lobo foi um passo muito importante na minha evolução como arquitecto.»
Criou em 2003 o seu próprio escritório, o Vasco Vieira Aquitetos, e pouco tempo depois foi considerado um dos 10 melhores arquitetos a nível internacional. Como define o seu trabalho e o que o distingue?
A minha arquitectura é uma arquitectura muito funcional, dentro do conceito “form follows functional”, com todos os espaços a relacionarem-se e interagirem de uma forma natural e lógica, permitindo aos ocupantes uma fácil interação com o edifício.
Há algum projeto que destaque particularmente pelo gosto que lhe deu fazer?
Tenho vários projetos que se destacam, mas os que me dão mais gozo são aqueles aonde a ecologia e a sustenbilidade são os conceitos principais. Onde a natureza e a arquitetura estão em perfeita harmonia, como é exemplo o Hotel Areias do Seixo (pioneiro na hotelaria ecológica em Portugal) e a Moradia em Moraleja (Madrid).
Várias décadas de trabalho passadas… faria algo diferente na sua vida, do ponto de vista profissional?
Na realidade penso muito pouco no passado, vivo muito dia a dia. Então, estou feliz por todo o meu percurso.
Na sua opinião, o que é que uma casa deve ter para fazer sonhar, independentemente do seu tamanho e caraterísticas?
O fundamental em qualquer projeto é a qualidade dos espaços e as várias sensações que uma pessoa sente na casa. Os proprietários que ocupam e vivem nas nossas casas dizem que as nossas casas criam uma vivência feliz. Isto tem muito que ver com a luz natural e a ligação dos espaços interiores com a envolvente exterior.
O mercado do luxo imobiliário está cada vez mais forte em Portugal. Como vê esta realidade e em que é que ela tem influenciado o seu trabalho?
Desde muito cedo que trabalho no setor de luxo, tanto ao nível da habitação como na hotelaria e em empreendimentos. Fui convidado a desenvolver projetos em quase todo o mundo, em mercados supostamente mais luxuosos do que o mercado português na altura, e foi nessas viagens que percebi que Portugal e os empreendimentos de luxo do Algarve em particular, eram superiores em todos os aspetos a esses mercados. Era só uma questão de tempo para o mercado internacional perceber todas as qualidades que Portugal tinha para oferecer, que agora são mais do que evidentes, tornando Portugal um dos destinos mais procurados pelo comprador de imobiliária de luxo.
Considera que hoje em dia há uma procura maior pelo bem-estar e não propriamente pelas questões materiais na concretização de uma casa? O slow living sente-se na arquitetura?
Sim. A definição de luxo mudou muito nos últimos anos, e em particular por causa do Covid, as pessoas passaram a valorizar muito mais as coisas simples da vida, como o contacto com a natureza, o bom clima, a família e a boa comida. Na arquitetura, a simplicidade e sustentabilidade são o novo luxo.
«A minha arquitetura é uma arquitetura muito funcional.»
Como é o seu dia-a-dia? O que faz para equilibrar a vida pessoal e profissional?
Durante a semana tenho a agenda quase sempre preenchida com reuniões, tanto com clientes como com os vários intervenientes nas obras. Os fins de semana são dedicados a desenhar e desenvolver os novos projetos. Então, na realidade, tenho muito pouco tempo para outras atividades.
Quais as aspirações do Arquiteto Vasco Vieira para os próximos anos?
Como já transmiti, não penso muito no passado e também não penso muito no futuro. Mas ambiciono continuar a evoluir como arquiteto e como pessoa.
«O fundamental em qualquer projeto é a qualidade dos espaços e as várias sensações que uma pessoa sente na casa.»
Texto: Carla Martins
Fotos: Marcelo Lopes