
900 anos de Ponte de Lima - História, gastronomia e tradição numa vila encantadora
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Ponte de Lima nasceu como povoação no século XII, com a concessão do Foral, mas a sua localização foi determinada por um fato histórico anterior: a construção da ponte romana. Este importante elemento do itinerário XIX, que ligava Braga (Bracara Augusta) a Astorga (Asturica Augusta), definiu para sempre a situação do futuro burgo neste exato ponto da extensão do rio Lima, a cerca de 25 km do Oceano Atlântico. Ficava assim para sempre criada a posição central de «Ponte» no vale do Lima, tornando este local, para os tempos vindouros, num imprescindível ponto de passagem para exércitos, comerciantes, construtores, peregrinos e outros viandantes.
A fixação sistémica da população e a sua concentração na margem esquerda do rio Lima só se veio a verificar, contudo, com a fundação da vila por D. Teresa, a partir de 1125. Com a Carta de Foral, a Condessa Portucalense protegia os habitantes da vila e conferia-lhes uma condição privilegiada ante o físco e a justiça, ao mesmo tempo que incentivava a realização da feira. Em 2025, Ponte de Lima celebra os 900 anos da Carta de Foral, realçando um estatuto único: o de vila mais antiga de Portugal.
«Ponte de Lima é também destino equestre internacional; a ligação profunda entre o cavalo e a comunidade mantém-se até hoje.»
Quando falamos em Ponte de Lima, é inevitável aludirmos a um conjunto de elementos que ajudam a traçar a sua identidade, que assaltam ao espírito quase instantaneamente e que constitutem marcas profundas da localidade e dos seus habitantes. Trazem a história e a realidade rica da vila. A centenária Avenida dos Plátanos constitui indubitavelmente uma das imagens mais marcantes e inconfundíveis da vila de Ponte de Lima. Estendida paralelamente ao rio Lima, esta alameda de árvores frondosas, a mais impressionante destas Terras, tornou-se, com o avançar do século XX, um incontornável espaço de lazer, convívio e comércio para os limianos, inspirando também, nas suas diversas configurações ao longo do ano, o olhar e as palavras dos artistas.
E é nesta vila que encontramos um dos maiores encantos da região do Minho. Charmosa e encantadora, é convite para tantas e tantas atividades e para desfrutar do facto de ter sido abençoada pela mãe natureza. Em diversos pontos do concelho, no alto dos montes, nos miradouros, ou em baixo nas planícies, através da extensa rede de ecovias, é possível admirar e imergir nos elementos naturais mais significativos, que preservam com maior vigor a diversidade da vida animal e florística e que formam também lugares de uma beleza cénica única. Da beleza do Rio Lima às Aldeias de Mesa dos 4 Abades, passando pelo Carvalhal do Rio Trovela, pelo Lugar da Vacariça, pelo Monte da Nó ou pela Serra D’Arga, são vários os lugares incríveis a descobrir, entre caminhadas ou passeios, contemplados por paisagem e floresta únicas, na imensidão de uma natureza maioritariamente rural.
As bandas filarmónicas e o folclore também são identidade, numa terra que é passagem fundamental para o Caminho Português de Santiago. Ponte de Lima é também destino equestre internacional; a ligação profunda entre o cavalo e a comunidade mantém-se até hoje. Desde 2007, a vila organiza a Feira do Cavalo, um dos maiores certames deste género realizado em Portugal.
A vila orgulha-se do seu vasto Património Cultural Imaterial, vivido pelas populações e transmitido às gerações seguintes, não cristalizado no tempo mas sempre evoluindo e sujeito a mudanças. Dele fazem parte os cantares ao desafio, a feira quinzenal-uma das mais antigas do país, a festa das Feiras Novas, que atrai todos os anos milhares de pessoas à vila, ou a Serrada da Velha, manifestação popular com larga tradição em Ponte de Lima, que se assinala a meio da Quaresma.
«Os sabores que aqui se provam representam genuinamente a identidade de um país gastronomicamente rico e toda a história de um concelho.»
Quem passa por Ponte de Lima leva na memória o que o olhar viu mas também o que a boca saboreou. Os sabores que aqui se provam representam genuinamente a identidade de um país gastronomicamente rico e toda a história de um concelho. A começar pelos enchidos e fumados, tão ligados, desde tempos ancestrais, à tradição da matança do porco, acompanhados por broa de milho, que todas as casas coziam em forno de lenha. A partir daí, há do melhor para provar e aprovar: o arroz de sarrabulho, o bacalhau de cebolada, a carne minhota ou a lampreia, são pratos inesquecíveis. Acompanhados, claro está, com um bom vinho verde bebido na malga.
Se hesitar, tente lembrar-se que 900 anos de história não são para qualquer vila. Com o bónus de que Ponte de Lima tem tudo: paisagens para se deslumbrar, gastronomia para se deliciar e tradição para viver.
Texto: Carla Martins
Fotos: Câmara Municipal de Ponte de Lima