
Real Gabinete Português de Leitura - A catedral da cultura portuguesa no Rio de Janeiro
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Imponente, magnânimo e com um elevado prestígio entre os intelectuais, o Real Gabinete Português de Leitura, localizado no centro do Rio de Janeiro, é um verdadeiro oásis de conhecimento. Com um acervo de mais de 350 mil obras e considerado uma das maiores e mais importantes bibliotecas de língua portuguesa do mundo, é aqui que «vivem» verdadeiras relíquias, como a primeira edição do livro “Os Lusíadas”, de Luís de Camões, além de raras publicações dos séculos 15 e 16.
A história conta que, em 1837, 43 emigrantes portugueses no Rio de Janeiro decidiram criar a biblioteca, com o objetivo de ampliar os conhecimentos dos seus sócios e dar oportunidade aos portugueses residentes na então capital do Império de ilustrar o seu espírito. Destes homens, a maioria era composta por comerciantes da praça, alguns perseguidos em Portugal pelo absolutismo. De sublinhar que o Real Gabinete Português de Leitura surge 15 anos depois da Independência do Brasil.
Com inspiração nas «boutiques à lire» francesas da época, o Real Gabinete Português de Leitura começou por ser uma pequena biblioteca, que apenas abrigava algumas centenas de livros, mas ao longo dos anos o espaço cresceu em tamanho e importância. É já na segunda metade do século XIX que os dirigentes constroem uma sede de maiores dimensões e condizente com a importância da instituição. As comemorações do tricentenário da morte de Camões [1880] são o grande pretexto para «motivar» a colónia portuguesa e levar adiante o projeto.
A imponência do Real Gabinete Português de Leitura vai, assim, além da literatura. O seu edifício, com uma arquitetura inspirada nas construções do reinado de D. Manuel I em Portugal e projetado também por um português, o arquiteto Rafael da Silva e Castro, não deixa o olhar indiferente. A fachada, inspirada no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, foi trazida de navio para o Rio, e conta com quatro estátuas que a adornam, retratando Pedro Álvares Cabral, Luís de Camões, o Infante D. Henrique e Vasco da Gama. Já os medalhões da fachada retratam os escritores Fernão Lopes, Gil Vicente, Alexandre Herculano e Almeida Garrett.
O interior, que também segue o estilo neomanuelino, é um lugar onde vai querer ficar e inspirar-se. O teto do Salão de Leitura apresenta um belíssimo candelabro e uma claraboia em estrutura de ferro, o primeiro exemplar desse género na arquitetura brasileira. O espaço conta ainda com um incrível monumento de prata, marfim e mármore, que celebra a época dos Descobrimentos.
Aqui, respira-se literatura, pensamento, informação, história. Livros, revistas, jornais e manuscritos, muitos dos quais raros e valiosos, integram o acervo no seu todo. Falamos de exemplares únicos como as «Ordenações de D. Manuel», de 1521, ou um manuscrito da comédia «Tu, só tu, puro amor», de Machado de Assis. Além da sua vasta coleção de livros, a biblioteca também conta com exposições, palestras e várias outras atividades culturais durante todo o ano, como cursos sobre Literatura ou Língua Portuguesa. O espaço conta ainda com uma importante coleção de pinturas de José Malhoa, Carlos Reis, Eduardo Malta, Oswaldo Teixeira e Henrique Medina.
Acompanhando os tempos, o Real Gabinete criou uma biblioteca digital que permite o acesso gratuito a obras raras e históricas da literatura portuguesa, ao qual se pode ter acesso em qualquer lugar do mundo, perpetuando não só a língua portuguesa mas o espírito português da descoberta.
Texto: Carla Martins
Fotos: Direitos Reservados