
João Rodrigues, fundador do projeto Silent Living - «O turismo deve ser uma forma de enriquecer as localidades em que estamos.»
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João Rodrigues é o rosto sereno por detrás de Silent Living. Comandante da TAP na sua vida profissional, foi com um desejo profundo de oferecer aos outros uma experiência real de silêncio interior e comunhão com a natureza que criou este conceito, que integra várias casas e espaços únicos em Portugal, cada um com a sua identidade e propósito. A sustentabilidade, o respeito pela tradição e a simplicidade definem o sentido do Silent Living, num reflexo da sua própria jornada pessoal.
Como surge a ideia de criar o projeto «Silent Living»?
A ideia de criar o «Silent Living» surgiu de um desejo profundo de oferecer aos outros uma experiência de ligação real com a natureza, consigo mesmos e com as pessoas ao seu redor. […] O projeto é uma forma de honrar a ideia de tranquilidade e simplicidade que sempre esteve presente na minha vida.
«O projeto é uma forma de honrar a ideia de tranquilidade e simplicidade que sempre esteve presente na minha vida.»
Porquê «Silent Living» e em que consiste este conceito?
O nome «Silent Living» surgiu porque muitos dos nossos hóspedes nos falavam sobre a sensação de silêncio profundo que experimentam nas nossas casas. Não é apenas o silêncio em termos de som, mas um silêncio interno, uma sensação de paz que permite a reflexão e uma ligação mais profunda com o ambiente e consigo mesmos. O conceito é mais do que um simples design minimalista ou o silêncio literal. Trata-se de criar espaços onde as pessoas possam parar, respirar, desacelerar e viver plenamente o momento, longe do ritmo frenético do mundo moderno.
Quais são os diferentes espaços de que dispõem e o que os distingue?
Atualmente, temos várias casas e espaços únicos em Portugal, cada um com a sua identidade e propósito. As Casas Na Areia e Cabanas No Rio, na Comporta, começaram como casas de fim de semana da famı́lia, perto do mar e do rio. A Casa No Tempo, em Montemor-o-Novo, é uma herdade agrı́cola que foi passada de geração em geração. Já o Santa Clara 1728 em Lisboa, no bairro cultural de Alfama, é onde vivo com a minha famı́lia. O nosso projeto mais recente é a Casa Na Terra em Monsaraz, que se exprime na sua ligação com a água do Alqueva. Cada um é projetado para refletir o ambiente e a comunidade local, valorizando os materiais, a cultura, gastronomia e a história da região.
«O turismo regenerativo e a sustentabilidade são pilares fundamentais do Silent Living.»
Em que medida o turismo regenerativo, a sustentabilidade, a preocupação com as comunidades locais, foram considerados por si na criação deste projeto?
O turismo regenerativo e a sustentabilidade são pilares fundamentais do Silent Living. A nossa ideia não é apenas preservar a natureza, mas regenerá-la e restabelecer um equilı́brio saudável. Utilizamos materiais locais, trabalhamos com artesãos e construtores da região e garantimos que as nossas práticas sejam o mais sustentáveis possı́veis, como o uso de energias renováveis e a implementação de sistemas de reciclagem e compostagem. A ligação com as comunidades locais é igualmente importante, pois acreditamos que o turismo deve ser uma forma de enriquecer as localidades em que estamos, criando oportunidades de trabalho e valorizando o conhecimento local.
Para além das casas e da Herdade no Tempo, têm ainda dois restaurantes, o Solo e o Ceia. Que tipo de experiência gastronómica podemos encontrar nestes espaços?
A nossa abordagem à gastronomia segue o mesmo princı́pio que guia todo o projeto: simplicidade, mas com um profundo respeito pelos ingredientes e pela tradição. No Solo e no Ceia, procuramos criar experiências gastronómicas autênticas, utilizando o melhor que a terra e o mar têm para oferecer. […] Cada refeição é pensada para ser uma verdadeira experiência sensorial. Ambos os projetos são pensados para refletir a agricultura regenerativa que desenvolvemos na Herdade No Tempo, que tem como foco a produção de comida saudável e muito nutritiva e ao mesmo tempo a salvação do nosso planeta, retendo carbono, aumentado a capacidade de retenção de água no solo, melhorando a biodiversidade e assim combatendo as alterações climáticas.
O mais recente membro da família «Silent Living» é o Santa Fé, um barco recuperado que faz hoje passeios pelo Rio Tejo. O que acrescenta esta experiência ao vosso conceito?
O Santa Fé é uma extensão natural do nosso conceito. O barco oferece uma nova maneira de experienciar o Rio Tejo e a sua beleza permite aos nossos hóspedes um contato ainda mais direto com a natureza e a tranquilidade do espaço, além de proporcionar uma experiência única de lazer e descoberta. Os passeios de barco reforçam a ideia de desacelerar, viver o momento e apreciar a paisagem de uma perspetiva única.
Que público procura experienciar este conceito e o vosso projeto e qual o feedback que têm tido?
O nosso público é bastante diversificado, mas em geral, são pessoas que buscam uma pausa do ritmo acelerado da vida moderna. Muitos são profissionais que estão à procura de um refúgio para descansar e se reconectar. Outros procuram uma experiência mais profunda, uma imersão em espaços tranquilos que os ajudem a desacelerar e refletir. O feedback que temos recebido é maravilhoso: as pessoas falam do impacto emocional da experiência, da sensação de bem-estar e da paz que encontram nas nossas casas. […]
A importância de estar presente e viver o momento em plenitude é uma aprendizagem que traz da sua vida pessoal para este projeto?
Sim, sem dúvida. A filosofia de Silent Living tem muito que ver com a minha própria jornada pessoal. Sempre acreditei na importância de estar presente, de nos desligarmos do mundo exterior e de focar nas coisas simples que realmente nos fazem bem. A minha própria experiência de vida e a forma como procuro viver de forma mais simples e focada refletem-se diretamente no projeto.
A arquitetura minimalista, a integração com a natureza circundante, a preocupação com uma alimentação nutritiva… Considera que o luxo se encontra na simplicidade?
Sim, acredito que o verdadeiro luxo está na simplicidade. O luxo não está em ter mais coisas, mas em ter as coisas certas e em saber apreciá-las plenamente. No Silent Living, a arquitetura minimalista visa criar um ambiente onde a simplicidade e a funcionalidade se unem de forma harmoniosa, sem sobrecarregar os sentidos. A integração com a natureza e a preocupação com uma alimentação nutritiva fazem parte desse conceito de simplicidade, pois acreditamos que essas práticas não só são mais saudáveis, mas também mais sustentáveis e autênticas.
Como aplica o “Silent Living” no seu dia a dia e na sua vida?
No meu dia a dia, tento aplicar os mesmos princı́pios de desaceleração, conexão e simplicidade que defendo no Silent Living. Tento viver de forma mais consciente, prestando atenção às pequenas coisas e valorizando o que realmente importa. Acredito que a verdadeira felicidade está nas experiências simples e nos momentos de ligação, tanto com as pessoas quanto com o ambiente.
«[…] as pessoas falam do impacto emocional da experiência […] e da paz que encontram nas nossas casas. […]»
Texto: Carla Martins
Fotos: Direitos Reservados