REINALDO TEIXEIRA, Presidente da Liga Portugal

REINALDO TEIXEIRA, Presidente da Liga Portugal

INSPIRA-ME A PALAVRA EMPREENDER, O FAZER CRESCER, O FAZER ACONTECER.»

Foi eleito em abril deste ano Presidente da Liga Portugal, cargo que diz assumir com absoluto sentido de missão. Com mais de 30 anos de ligação ao mundo do futebol, é também na gestão e no ramo imobiliário que põe em prática a sua liderança. Numa grande entrevista à Villas&Golfe, Reinaldo Teixeira revela-se um homem focado, que privilegia o espírito de equipa e o fairplay, tanto na vida pessoal como profissional.

O que significa para si assumir o cargo de Presidente da Liga depois de quase 30 anos de ligação ao futebol profissional?
Não sou muito de personalizar em mim os cargos, tenham eles dimensão pequena ou grande. Considero-me uma pessoa de equipa, ponderado, sem receio de assumir responsabilidades em nenhuma área. Senti o desafio e pensei muito. Uma ponderação que, curiosamente, foi até numa experiência maravilhosa ao volante das estradas que ligam o Alentejo e o Algarve. Mas se tiver de resumir, apesar de muito ponderado, foi um passo firme e decidido rumo a uma missão e não a um desígnio mais pessoal.


O que é urgente mudar no futebol profissional em Portugal? O que na sua opinião é subestimado e sobrevalorizado?

Subestima-se a capacidade técnica e as competências das sociedades desportivas, mesmo das que não têm a dimensão das maiores. Mostram-se sempre capazes, com maiores ou menores dificuldades, de acompanhar a evolução da modalidade e das atividades paralelas e periféricas do futebol profissional. Já sobre a sobrevalorização, [] talvez esteja sobrevalorizada a emoção e o grito, o comentário parcial e a forma pouco elegante - e muitas vezes sem conhecimento de causa - quando se fala desta indústria, que gera milhares de empregos e milhões de euros de contribuições para Portugal. Mas sendo mais específico, começava por pedir mudança política que ajudasse a mitigar os custos de contexto das sociedades desportivas, nomeadamente ao nível das explorações comerciais, seguros, impostos e infraestruturas.

«Subestima-se a capacidade técnica e as competências das sociedades desportivas, mesmo das que não têm a dimensão das maiores.»

Para além do papel institucional, continua a sentir o futebol como adepto? Ainda vibra como quando assistia aos primeiros jogos?

Confesso que nunca vibrei muito, nem durante a minha curtíssima carreira de jogador na Associação Cultural de Salir, onde joguei até à idade de sénior. Nunca fui muito emotivo. [] Mas sim, gosto muito de um grande jogo de futebol, que decida futuros imediatos, como um título, uma luta pela permanência ou pela subida. Tenho imenso gosto em ver bons jogos, mas admiro coisas como a boa gestão, a qualidade das infraestruturas, as ações junto dos adeptos, o valorizar do produto e o fair-play. Sou apaixonado pelos momentos em que vejo os derrotados a reconhecer o mérito do vencedor e os vencedores a sentirem a dor do vencido.

«Sou apaixonado pelos momentos em que vejo os derrotados a reconhecer o mérito do vencedor e os vencedores a sentirem a dor do vencido.»

O projeto da Arena Liga Portugal, no Porto, representa uma nova etapa para o futebol português. Que visão de futuro esteve por detrás desta infraestrutura?

O seu a seu dono: a decisão de construção do novo edifício-sede da Liga Portugal é do anterior presidente. Quanto ao equipamento em si, está capacitado para as necessidades operacionais e eventos relacionados com a atividade do organismo. Chamo a atenção, por exemplo, para os novos espaços da Liga Portugal Business School, que tem agora três áreas com capacidade para 40 formandos cada. Todos os serviços que prestamos às sociedades desportivas estão acomodados e num espaço funcional para o efeito. O edifício carrega outras desafios, nomeadamente nas suas áreas mais públicas, que agora vamos rentabilizar e reordenar em função dos públicos e de outras valências que pretendemos dar a conhecer e oferecer à comunidade.

«Inspira-me pensar que cada ato ou decisão das equipas onde me integro podem servir para melhorar a vida das pessoas e a economia local.»

O Porto é também uma cidade de sabores. Há algum restaurante, prato ou vinho que faça parte da sua rotina de prazer e convívio?

Nesse capítulo, o Porto é uma cidade tramada para quem se quer manter na linha… A vasta oferta da cidade, os chamados sabores da região, o modo de preparação e o carinho que cada cozinha empresta ao prato são uma tentação. [] Gosto de comer, conviver, de boas conversas com os amigos. Mas, bem, do Porto há que realçar os seus pratos-emblema, como as tripas e as francesinhas, deliciosas em muitos restaurantes.


Para além do futebol gere ainda outros negócios. O que mais o inspira para além do futebol e da gestão?

Inspira-me a palavra empreender, o fazer crescer, o fazer acontecer. Inspira-me o gerar trabalho para as pessoas e fazê-lo sem perder um milímetro dos meus princípios e valores éticos. Comecei a carreira empresarial em 1983, ligado às áreas de hotelaria, imobiliária, turismo e, mais tarde, o ensino. Inspira-me aldeia da Pena, a vila de Salir, em Loulé. Inspira-me a beleza das nossas cidades e aldeias. Inspiram-me as voltas de bicicleta, trabalhando o físico e convivendo com os amigos. Mas também me inspira o equilíbrio entre o negócio e o bem-estar social das pessoas e das comunidades. Inspira-me pensar que cada ato ou decisão das equipas onde me integro podem servir para melhorar a vida das pessoas e a economia local.


Ser Presidente da Liga de Portugal é estar no centro de muitas decisões e pressões. Que valores pessoais transporta para a liderança desta organização?

Gosto de acreditar que os valores que me guiam são valores universalmente tidos como valiosos para todo o ser humano. Portanto, carrego comigo o respeito pessoal e cívico, a frontalidade na palavra e a tolerância no convívio, o diálogo. Também sou de reconhecer um erro sem complexos, pois muitas vezes as realidades e os contextos ultrapassam-nos.


Com uma vida profissional intensa, tem algum ritual diário que o ajude a manter-se em equilíbrio, consigo e com a família?

Acho que o único ritual diário que tenho é estar acordado o mais possível. E procurar encontrar horas que coincidam com todas as minhas atividades profissionais e sentimentais. Tenho o enorme privilégio de estar numa família de gente de trabalho e de responsabilidades pessoais, em que todos compreendem as tarefas de cada um. E, talvez por isso, o tempo de qualidade é muito grande, quase maior do que o tempo real. Tive a sorte de a minha mulher – sou casado há 28 anos - e um dos meus filhos já estarem nas nossas empresas e de aceitarem este desafio a que me propus. O mesmo também permitiu que, com o meu foco na Liga, os diretores dessas empresas também dessem um passo em frente. A família apoiou, gerou-se harmonia e abriu novos desafios para o nosso quadro empresarial de diretores, comprometidos e leais às empresas. Até porque os meus 61 anos de idade já não vão andar para trás.


Há algum produto ou acessório pelo qual tenha algum gosto em particular? Relógios, carros…

Gosto muito de carros, particularmente os desportivos. Mas não sou de extravagâncias, muito menos no trabalho e em representação de entidades e de outros. O meu saudoso pai foi corredor de automóveis. E, como desde miúdo o acompanhei, continuo a gostar muito de ralis e raides, modalidade que ainda pratiquei, tal como o atletismo.


O futebol está em constante transformação. Como vê a Liga de Portugal daqui a 10 anos, e qual gostaria que fosse o seu legado?

Nos dias de hoje, projetar a 10 anos, é muito difícil. A mudança e a evolução são constantes gerando fatores que não se conseguem programar ou prever a tanta distância. Mas há fatores inabaláveis. Estamos a trabalhar para isso: tornar a Liga Portugal mais sustentável, mais de acordo com a realidade. Não nos podemos desfocar dos valores, da postura de transparência e de isenção, enquanto temos de criar medidas que visem maior rentabilidade às sociedades desportivas. A Liga será tão mais forte quão mais fortes forem as sociedades desportivas. Para isso, muito foco no controlo de custos, no gerar de mais receitas e no assumir de mudanças com visão de futuro nos regulamentos e estatutos.

A Villas&Golfe celebra lifestyle e sofisticação. O que para si representa o verdadeiro luxo no quotidiano?

É um luxo sentirmos que realizamos, que concretizamos, que se ultrapassaram dificuldades. É um luxo estarmos rodeados de pessoas de valor, que querem fazer bem, pessoas que têm prazer em contagiar pelo bem e em fazer bem ao outro. E o tempo. O tempo é um luxo que devemos preservar e acarinhar com boas ações e decisões, nos negócios como na vida. Um luxo incalculável.

 

Texto: Carla Martins
Fotos: Pedro Trindade

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