Dança: uma forte expressão cultural - Os ritmos quentes de Angola

Dança: uma forte expressão cultural - Os ritmos quentes de Angola

Existem muitos símbolos de liberdade, uns mais idênticos que outros, variando de cultura em cultura. Pergunte-se a Portugal pelo cravo vermelho, a França pela pintura A Liberdade Guiando o Povo e, aos Estados Unidos, pela Estátua da Liberdade.

Elementos estáticos, que nem o tempo faz esquecer. Mas, em certas nações, a representação da liberdade vai além do tangível. Em terras angolanas, os símbolos de liberdade conseguem ter ritmo e melodia. Através da expressão corporal, Angola exprime utopia, dores e pesares, lutas e conquistas. Por meio de movimentos ondulares, representa a força da mulher zungueira, a alegria das crianças com os carros feitos de lata e a familiaridade de uma mesa recheada de peixe seco e mandioca. Destas manifestações surgem narrações que dispensam argumentos, sátiras que não precisam de palavras, aprendizagens isentas de diálogos. Em cada canto, e em cada rua, fazem-se sentir. Não têm lugar, horário ou estrato social. Não excluem géneros ou feitios. Seja em formato de semba, kizomba ou afrohouse, a dança é um inesgotável património milenar, que honra a liberdade, a história, a cultura e a tradição.

Através da expressão corporal, Angola exprime utopia, dores e pesares, lutas e conquistas.

De segunda a domingo, Luanda mergulha em cores e luzes ao som dos ritmos afro-latinos. As noites mornas da capital são motivo para abraçar a cultura e deslizar na pista a pares ou a solo. É nas ruas que muitos aprendem a entrar no ritmo e a desanuviar dos problemas mundanos. Aliás, as danças nos musseques têm vindo a dar que falar nos quatro cantos do mundo, pelas energias positivas e radiantes que canalizam. É neste contexto que ficamos a conhecer o grupo de dança Fenómenos do Semba. Imaginemos o seguinte: com um prato de comida na mão e uma dança angolana à mistura, um grupo cria uma coreografia que, em pouco tempo, viraliza nas redes sociais e põe o mundo a mexer em pleno período pandémico. Na realidade, isto foi o que aconteceu em 2020.

No espaço de dois dias, os Fenómenos do Semba reuniram dois milhões de visualizações com a coreografia que dedicaram à música Jerusalema, e o nome correu mundo. Poucos conseguiam tirar da cabeça a tal melodia, o ritmo que fez abanar o pé inconscientemente por tantas vezes. Hoje, o grupo de dança, composto por 13 membros, soma outros sucessos internacionais, olhando para o mundo digital como uma porta direta para o exterior. Há nove anos que andam por estas bandas, fiéis à divulgação da cultura angolana, embora ainda considerem insuficientes os apoios que o Estado presta aos artistas. Mas nada os demove. Com a pele do rosto suada, poses e ritmos por entre passos que marcam um estilo, garra no olhar e sorriso no rosto, assim vão traçando um caminho sólido, que acaba por ser o reflexo de muitos outros grupos artísticos do país. O que é certo é que passos significativos vêm sendo dados rumo à divulgação da cultura angolana, veja-se pela kizomba, recentemente considerada Património Cultural e Imaterial do país. 
Em Angola, quem dança não desaprende. Quem sente não esquece. Eis um dos encantos da terra quente.

Luanda mergulha em cores e luzes ao som dos ritmos afro-latinos

Texto: Joana Rebelo
Fotografia: Direitos Reservados e outras do Edson Azevedo 

Back to blog