Mercado de São Paulo - Entre Aromas, Cores, Sabores e Saberes

Mercado de São Paulo - Entre Aromas, Cores, Sabores e Saberes

A vida começa cedo no agitado Mercado de São Paulo, em Luanda. Homens e mulheres de vários lugares começam a chegar trazendo com eles carrinhos carregados de diversos produtos, num festim de sabores, cores e olfactos. Vêm ocupar o seu lugar num dos mercados mais conhecidos e também mais organizados de Angola. Verduras, carnes, ervas, ovos, roupas, panelas, velas e um sem número de outros objectos começam a preencher as bancadas.

Um dos produtos mais comuns no Mercado de São Paulo é o famoso gindungo, a baga picante muito usada na gastronomia angolana para temperar molhos, peixes e carnes. De vários tamanhos, formas e até cores, a introdução do gindungo na gastronomia angolana fica a dever-se às influências do Oriente e às malaguetas trazidas da América pelos navegadores portugueses.

As influências de outros continentes são, aliás, bastante visíveis na culinária angolana. De resto, em toda a culinária africana, já que este nunca foi um continente isolado. O arroz branco asiático, por exemplo, substituiu o arroz vermelho africano na alimentação dos angolanos. A manga, a fruta-pão, a cana do açúcar, o gengibre e a pimenta preta, todos produtos passíveis de serem encontrados no Mercado de São Paulo, são igualmente produtos originários dos países do Sol nascente. Já das Américas, chegaram a Angola produtos como a mandioca, o feijão, o tomate, o milho, o amendoim, a batata e a papaia. Estes produtos, trazidos de outras paragens, complementam-se actualmente com outros tipicamente angolanos, como sorgo, o milho painço e o milho miúdo, feijão frade, lentilhas, inhame, quiabo, melancia, tamarindo e o fruto do embondeiro, que resulta, muitas vezes, em sumos, gelados, sopas e cozidos.

Para além de estes alimentos servirem para saciar a fome, muitos deles são também usados para a cura de doenças e maleitas. Aliás, não é raro encontrar no Mercado de São Paulo e em outros mercados de Luanda vendedores que são também curandeiros, ou seja, pessoas que acumulam o saber tradicional, herdado dos pais e avós, e que sabem de cor e salteado os benefícios e indicações de cada um dos produtos que têm à venda.

O brututu, espécie de tronco alaranjado no seu interior, é um dos produtos que se encontra à venda em São Paulo e que pode ser usado para prevenir e até mesmo curar algumas doenças, especialmente hepáticas, acreditam os curandeiros e atesta a história da medicina tradicional em Angola. Altamente desintoxicante e purificadora, esta raiz pode tratar doenças como a hepatite, a icterícia e a biliosa. É ainda reconhecida no tratamento de doenças do estômago, fígado, vesícula, baço e aparelho urinário, sendo que a sua capacidade purificadora permite a fluidez do sangue, combatendo o colesterol e normalizando a tensão arterial. Um produto que se revela, assim, de enorme utilidade.

Não se pense, no entanto, que o brututu é o único ingrediente no Mercado de São Paulo com estas características. Na verdade, basta travar dois dedos de conversa com os vendedores do local para se perceber que o que não falta por lá são produtos com propriedades medicinais. Um conhecimento que tem sobrevivido aos séculos e que ainda hoje é muito usado, não só por ainda persistir alguma falta de medicamentos, mas especialmente porque de facto estes produtos têm benefícios comprovados. Para os conhecer a todos, basta sentar-se à conversa com os vendedores deste mercado de cheiros, sabores e saberes e deixar-se embrenhar nesta cultura de múltiplas sensações.

Texto: Andreia Barros Ferreira

Fotografia: Manuel Teixeira

Back to blog