Beatriz
Manteigas é, acima de tudo, pintora, mas também investigadora, tendo igualmente
feito alguns trabalhos de ilustração, embora recuse o ‘título’ de ilustradora.
Neste momento, a sua relação com a Ilustração é de admiração, o que se reflete na sua
dedicação à coordenação do encontro internacional em Ilustração YETI - Youth Education Through Illustration,
uma iniciativa da associação que dirige e da qual é, em conjunto com o seu
companheiro, fundadora – a Associação Quinta das Relvas - Artes e
Sustentabilidade.
Acredita
que um bom pintor terá de ser também investigador: «O contínuo estudo e investigação
são necessários para o nosso crescimento. Luto diariamente contra receitas e
zonas de conforto». Enquanto aluna de Doutoramento em Belas-Artes
(especialidade em Desenho), é investigadora e integra o CIEBA - Centro de
Investigação e Estudos em Belas-Artes da Universidade de Lisboa.
«O prémio está na constante perseguição de uma clara utopia»
Questionada
sobre as suas fontes de inspiração, assegura: «não tenho epifanias a olhar para
pequenos acasos compositivos durante uma viagem de comboio (…). Faço esse
exercício, claro, mas por autoimposição». As suas referências acabam por
influenciar a sua metodologia de trabalho e cultura visual, mas Beatriz
«[aprendeu] a selecionar informação e a respeitar o próprio trabalho, dando o
devido valor às críticas e observações (…)». E acrescenta: «Estou a aprender
gradualmente a voltar a pintar, acima de tudo pelo gozo que me dá, e acredito
que nessa libertação encontrarei os melhores resultados. Quando sentimos essa
liberdade no ato de criar, gera-se uma adrenalina muito própria que será talvez
a única resposta em Arte». A sua última série de trabalhos, Liquid Societies, que, tal como I want to go home, é inspirada no tema
dos refugiados, «não parte das problemáticas da Arte Contemporânea, mas acaba
por tocar nelas – a ‘liquicidade’ da Arte e da Cultura, dos nossos valores e
dos valores da sociedade. O [seu] sentimento pela criação, e que [pensa] ser
comum a muitos autores, é também líquido - uma bipolaridade entre inspiração e
inquietação». De resto, os trabalhos em torno dos refugiados, para os quais
contribuíram também os seus conhecimentos em Anatomia Artística, o tema do seu
Mestrado, «é um pano que dá para mangas de inúmeros casacos diferentes e
[sente] que ainda mal [começou]». Aliás, faz parte da sua metodologia o
trabalho em séries e «cada série é um degrau de uma escadaria complexa e é
comum no [seu] percurso subir alguns degraus, descer e voltar a subir pela
escada do lado. E voltar atrás». Essa é uma das razões pelas quais há um fio
condutor nos seus trabalhos: «há uma base que mais vale aceitarmos ser inerente
à nossa existência. Um emaranhado de fios».
Sobre
os prémios que já recebeu, frisa que mais importante que os prémios é a
formação: «um prémio não me traz conhecimento, traz-me reconhecimento». E
remata: «o prémio está na constante perseguição de uma clara utopia». Do futuro
espera segurança em termos financeiros proveniente do seu trabalho plástico. Se
considera este anseio longínquo, julga ser ainda menos provável não ter que se
identificar nas inaugurações, ainda que já tenha estado em muitas, já que tem exposto
com frequência em Portugal e além-fronteiras. Não gosta, pois, de inaugurações.
Mas gosta de criar, de pintar, uma inquieta e livre forma de vida.
Beatriz Manteigas
Inspirações e inquietações
Nasceu
em Lisboa em 1990. Ainda criança «acordava muito cedo e ia para a sala
desenhar». Apesar de os seus pais serem professores, «o interesse pelas Artes Plásticas
sempre existiu no seio familiar». Também em criança visitou os grandes museus
nacionais e europeus, embora nos últimos anos «os [tenha] vindo a revisitar com outra
maturidade». É pintora e investigadora, tendo também no seu curriculum alguns trabalhos de
ilustração. Expõe individual e coletivamente em Portugal, mas também lá fora,
ainda que menos amiúde. Já foi inúmeras vezes premiada e anseia conseguir viver
financeiramente do seu trabalho plástico.