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· Arte · T. Maria Amélia Pires · F. Direitos Reservados

Beatriz Manteigas

Inspirações e inquietações

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Nasceu em Lisboa em 1990. Ainda criança «acordava muito cedo e ia para a sala desenhar». Apesar de os seus pais serem professores, «o interesse pelas Artes Plásticas sempre existiu no seio familiar». Também em criança visitou os grandes museus nacionais e europeus, embora nos últimos anos «os [tenha] vindo a revisitar com outra maturidade». É pintora e investigadora, tendo também no seu curriculum alguns trabalhos de ilustração. Expõe individual e coletivamente em Portugal, mas também lá fora, ainda que menos amiúde. Já foi inúmeras vezes premiada e anseia conseguir viver financeiramente do seu trabalho plástico.

Beatriz Manteigas é, acima de tudo, pintora, mas também investigadora, tendo igualmente feito alguns trabalhos de ilustração, embora recuse o ‘título’ de ilustradora. Neste momento, a sua relação com a Ilustração é de admiração, o que se reflete na sua dedicação à coordenação do encontro internacional em Ilustração YETI - Youth Education Through Illustration, uma iniciativa da associação que dirige e da qual é, em conjunto com o seu companheiro, fundadora – a Associação Quinta das Relvas - Artes e Sustentabilidade.
Acredita que um bom pintor terá de ser também investigador: «O contínuo estudo e investigação são necessários para o nosso crescimento. Luto diariamente contra receitas e zonas de conforto». Enquanto aluna de Doutoramento em Belas-Artes (especialidade em Desenho), é investigadora e integra o CIEBA - Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes da Universidade de Lisboa.
«O prémio está na constante perseguição de uma clara utopia»
Questionada sobre as suas fontes de inspiração, assegura: «não tenho epifanias a olhar para pequenos acasos compositivos durante uma viagem de comboio (…). Faço esse exercício, claro, mas por autoimposição». As suas referências acabam por influenciar a sua metodologia de trabalho e cultura visual, mas Beatriz «[aprendeu] a selecionar informação e a respeitar o próprio trabalho, dando o devido valor às críticas e observações (…)». E acrescenta: «Estou a aprender gradualmente a voltar a pintar, acima de tudo pelo gozo que me dá, e acredito que nessa libertação encontrarei os melhores resultados. Quando sentimos essa liberdade no ato de criar, gera-se uma adrenalina muito própria que será talvez a única resposta em Arte». A sua última série de trabalhos, Liquid Societies, que, tal como I want to go home, é inspirada no tema dos refugiados, «não parte das problemáticas da Arte Contemporânea, mas acaba por tocar nelas – a ‘liquicidade’ da Arte e da Cultura, dos nossos valores e dos valores da sociedade. O [seu] sentimento pela criação, e que [pensa] ser comum a muitos autores, é também líquido - uma bipolaridade entre inspiração e inquietação». De resto, os trabalhos em torno dos refugiados, para os quais contribuíram também os seus conhecimentos em Anatomia Artística, o tema do seu Mestrado, «é um pano que dá para mangas de inúmeros casacos diferentes e [sente] que ainda mal [começou]». Aliás, faz parte da sua metodologia o trabalho em séries e «cada série é um degrau de uma escadaria complexa e é comum no [seu] percurso subir alguns degraus, descer e voltar a subir pela escada do lado. E voltar atrás». Essa é uma das razões pelas quais há um fio condutor nos seus trabalhos: «há uma base que mais vale aceitarmos ser inerente à nossa existência. Um emaranhado de fios».
Sobre os prémios que já recebeu, frisa que mais importante que os prémios é a formação: «um prémio não me traz conhecimento, traz-me reconhecimento». E remata: «o prémio está na constante perseguição de uma clara utopia». Do futuro espera segurança em termos financeiros proveniente do seu trabalho plástico. Se considera este anseio longínquo, julga ser ainda menos provável não ter que se identificar nas inaugurações, ainda que já tenha estado em muitas, já que tem exposto com frequência em Portugal e além-fronteiras. Não gosta, pois, de inaugurações. Mas gosta de criar, de pintar, uma inquieta e livre forma de vida.

T. Maria Amélia Pires
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