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Mário Macilau

Desenhar a luz

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Começou a fotografar ainda criança e foram os acontecimentos de uma época de tréguas e paz que despertaram Mário Macilau para o poder da fotografia. Tudo o que o rodeava podia ficar para sempre nas suas imagens. Era o tempo das polaroids em que, por quase magia, a foto saía em papel pela máquina no momento e deliciava quem posava. E foi com a foto a preto e branco que se destacou porque assim pôde desenhar com a luz. A vontade de não querer ser um fotógrafo comercial levou-o às imagens marcantes que não precisam de legendas e perante as quais até sentimos o pó da estrada.

Durante o ano de 1992 saboreava-se no ar da cidade de Maputo a paz que chegava depois de 15 anos de guerra. Mário Macilau deveria ter perto de dez anos e observava os estrageiros que estiveram nas missões de paz, a registar todos os momentos. Era também o auge das polaroids, com os mais idosos a acharem fascinante terem de repente um gémeo. Este tempo foi o despertar dos fotógrafos de rua. Iam aos bairros e apontavam a lente para tudo. O fotógrafo observava e sentia que tinha de aprender e começou a captar imagens para si, ao mesmo tempo que procurava um estilo. Não houve qualquer momento ou foto especial que o fizesse acreditar que valia a pena continuar. O prazer era disparar. Fez a mala e viajou por Moçambique, procurando momentos desajeitados, quotidianos e banalidades. As suas fotografias seriam janelas escancaradas sobre a vida dos outros. E encontrou a ausência de cor. As suas fotos começam a ser vistas a preto e branco e a justificação era a poesia que os jogos de luz captavam. Os temas retratados eram sobre injustiças sociais. Usava a fotografia como metáfora, para que quem visse usasse o livre arbítrio. As influências foi buscá-las ao bairro onde nasceu e ainda vive, o Polana Caniço, onde sentia as carências de quem trabalhava de manhã à noite e, no fim do mês, recebia pouco mais de cinquenta euros. A mãe sempre sorria e colocava na mesa uma panela cheia de amor misturado com comida que tinha de chegar para as sete pessoas que viviam na casa. Mostrar essa felicidade era o objetivo do seu trabalho. O fotógrafo amadureceu e questionou-se sobre o que sentia ao observar as suas fotos. Viu que a fotografia é a sua linguagem, aquela com que comunica com os outros. E o preto e branco continuará a ser a sua marca, não porque não goste da cor, mas porque foi assim que a fotografia nasceu. Os trabalhos de Mário Macilau estão expostos pelo mundo: China, Dubai e Londres foram os últimos locais a receber as suas imagens. E lançou o livro que tem por base o projeto Growing in Darkness, que retrata imagens dos meninos que sobrevivem nas ruas da cidade de Maputo. As imagens falam de uma realidade atual, onde há olhares que saltam para fora da fotografia.

A fotografia é a sua linguagem, aquela com que comunica com os outros.

Cristina Freire
T. Cristina Freire
F. Mário Macilau
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