E foi na Bienal de Paris, em 2018, que teve também uma surpresa.
Sim, é verdade. A melhor peça da Bienal de Paris, uma das mais reconhecidas feiras de antiquário do mundo, foi uma peça nossa, uma salva portuguesa de cobre esmaltado e dourado do século XVI com armas reais portuguesas. O interesse nesta peça está no facto de existirem, à volta do brasão de Dom Sebastião, motivos africanos, sendo a primeira na Europa que se produziu unindo os dois continentes e onde o exotismo foi revelado como arte. Foi também a primeira vez que uma peça portuguesa foi premiada num certame e é um orgulho para todos nós.
Como descobriu essa peça?
A peça estava com um colecionador há muitos anos, que a poderá ter comprado num outro antiquário e, segundo consta, essa salva do século VXI estaria na cozinha da casa. Resta acrescentar que o sucesso desta peça foi tão grande que os diretores do Museu Guimet, ao aperceberem-se da relevância da nossa faiança na introdução do oriental na arte europeia – que deu origem às primeiras chinoiseries –, no ano seguinte, pediram-me várias peças emprestadas para uma exposição sobre a porcelana Ming do período Wanli, com o intuito de mostrar a importância que a faiança portuguesa teve no desenvolver deste gosto.
«Os antiquários conferem aos museus objetos que valorizam as coleções expostas»
Quando a loja foi fundada, noutros tempos, conseguiu prestigiar o nome.
Desde que a minha mãe abriu o antiquário, em 1990, sempre estive ao seu lado, embora exercendo atividade como médico. Não conseguia resistir e juntei duas paixões. Com isso, absorvi os seus conhecimentos e o seu imenso rigor. Em 2007, decidi abrir dois espaços com o António, pensando num local maior, mais dinâmico e multifacetado. Os tempos eram de facto outros, mas a minha estadia em Bruxelas, durante sete anos, deu-me uma visão mais internacional da arte e do mercado de arte. Sabia que tinha de promover uma mudança neste mercado em Portugal, de forma a tornar-se menos estático, mais competitivo e profissional, utilizando o modelo europeu.
A galeria é também um espaço de exposições, tendo agora uma sobre as mulheres na pintura.
Não pretendo ser galerista, no sentido da palavra. Mas sempre tive arte moderna que, mesmo no tempo da minha mãe, estava presente, por isso, e porque sinto que alguns artistas merecem mais carinho, comecei a realizar exposições abertas ao grande público. E, neste sentido, e depois de outras que já passaram por aqui, temos, até ao fim de julho A Tribute to Women. Artists in the São Roque Collection, onde vamos expor 91 peças de 40 mulheres pintoras, umas mais conhecidas do que outras, mas todas importantes, desde Josefa d’Óbidos, passando por Vieira da Silva, Paula Rego, Graça Morais, Maria Keil, entre outras. Este é um singelo tributo a estas mulheres, a quem as barreiras impostas por questões sociais, políticas ou culturais, impediram não apenas de seguir o caminho artístico, mas também de obter o seu verdadeiro reconhecimento nesse domínio.