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· Arte · · T. Maria Cruz · F. Direitos Reservados

Paul Perry

«Tenho o gene da curiosidade»

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Paul Perry na Biblioteca do Mosteiro

Autor de quatro best-sellers do New York Times, e documentarista de obras como Afterlife (Quase-Morte), The Lost Years, e Dali's Greatest Secret (O Segredo de Fátima de Dalí), Perry faz parte dos cavaleiros na Ordem de São Miguel da Ala (OSMA), a mais antiga ordem de cavalaria de Portugal. Sempre olhou o jornalismo como a profissão perfeita. Enquanto editor em algumas das mais prestigiadas revistas da América, no decorrer do seu percurso procurou o caminho das descobertas de grandes mistérios. «O mistério é o que torna o mundo excitante e a vida vale a pena ser vivida», salienta Perry. 

O que o motivou a desenvolver o documentário Dali's Greatest Secret (O Segredo de Fátima de Dalí)? 
Tenho o que eu chamo, em tom de brincadeira, «o gene da curiosidade», porque, sobretudo, nasci curioso. Um grande artista pode levar a sua mente para lugares que nunca teria ido sozinha. Foi assim que me senti quando vi o quadro A Visão do Inferno, de Dalí, pela primeira vez. Estava repleto de imagens que eu nunca teria concebido sozinho, imagens muito poderosas do próprio inferno e vários cenários de como lá chegar, tal como a guerra e o ódio, que conduzem à destruição da alma. Pude ter esse imaginário logo ao olhar para aquele magnífico quadro, mas quis saber por que é que Dalí usou tanto o poder da imaginação, num quadro para o qual foi contratado para pintar. Normalmente não faria tanto esforço num trabalho contratado como este. Mas algo tinha verdadeiramente acontecido na produção deste mesmo quadro. De repente, acreditava no inferno e isso fazia com que acreditasse também no céu. Quis saber o que tinha acontecido – por que se tinha transformado –, e foi nesse momento que decidi contar a história de Dalí e desse quadro.

Paul Perry e Dalí

Em traços gerais, de que trata o documentário?
Este documentário é a história nunca contada do artista Salvador Dalí e a forma como o seu quadro, A Visão do Inferno, teve um impacto profundo na sua vida e no seu trabalho. É uma representação de uma das visões religiosas vistas pelos três pastorinhos em Fátima, em Portugal, em 1917. Há cem anos! O quadro foi concluído em 1962 e veio num momento em que o artista estava profundamente preocupado com a sua morte. Ele pensou em ser clonado ou até congelado na esperança de ser ressuscitado décadas mais tarde, como forma de, pelo menos, alcançar alguma expressão de imortalidade. Mas, enquanto trabalhava em A Visão do Inferno, ele via-se a ser puxado às suas raízes religiosas. Na pesquisa feita para este filme, descobrimos que mantinha escondida a sua devoção recém-descoberta da maioria das pessoas para que ele não perdesse a sua reputação intelectual e anti-igreja. Acima de tudo, o Dali's Greatest Secret é algo com que todos nós sonhamos, a vida eterna. E porque manteve escondida a sua transformação de volta à Igreja Católica, este filme é um aditamento significativo à biografia de Dalí. Estou muito orgulhoso por isso, mas não só. Este filme é uma conquista artística e jornalística!

O que mudou na vida de Salvador Dalí depois de ter pintado esse quadro?
A organização que encomendou o quadro, um apostolado católico conhecido como «O Exército Azul», acabou por esconder o quadro debaixo da cama de uma freira na sede da organização em Nova Jersey. Dalí não sabia que a pintura estava escondida e não parecia importar-se. Pintou quadros religiosos por muitos anos, mas depois de ter acabado A Visão do Inferno o número de pinturas religiosas que ele criou aumentou consideravelmente. Existe mesmo um quadro que se encontra na galeria da arte papal do Vaticano, que foi pintado ao mesmo tempo que A Visão do Inferno, e que foi claramente inspirado na mesma fonte do pensamento criativo. O quadro que se chama A Trindade é bastante risqué para uma instituição religiosa.
A sua vida mudou com o resultado desta pintura. Encontrámos muitas fotos de Dalí a ir à missa depois de este quadro ser concluído. Muitas vezes escapava da sua casa, com a sua esposa Gala, e assistia à missa em segredo. De facto, o ex-presidente da câmara de Cadaqués, na Espanha, perto de Port Lligat, onde Dalí vivia metade do ano, disse que Dalí começou a ir à missa na Igreja de Santa Maria diariamente, sendo que muitas vezes com o próprio presidente. É difícil acreditar que Dalí pode ter tido uma vida tão secreta, mas, foi assim, de acordo com muitos que viviam este segredo com ele.

Pintura Dalí
Onde se encontra actualmente a obra - A Visão do Inferno?
Bem, não está debaixo da cama de uma freira, isso posso afirmar! Esqueceram que o quadro estava debaixo da cama da freira. Foi uma freira a limpar o aposento que o descobriu. Estava selado na caixa de madeira que Dalí tinha construído. Uma outra freira - uma amante de arte - percebeu que se tratava verdadeiramente de um quadro de Dalí. Foi ter com o homem que o encomendou - John Haffert -, e ele contou-lhe a história do quadro. Quando a notícia desta obra perdida de Dalí começou a espalhar-se, o quadro foi exibido numa exposição itinerante da obra de Dalí, e, em seguida, devolvido ao «Exército Azul». Em 2008 foi posto à venda pelo Exército Azul e adquirido por um colecionador de arte particular de Connecticut. Encontra-se na sua galeria privada e às vezes é emprestado, para exposições em museu. É uma magnífica obra de arte. Cada vez que olho para o quadro vejo imagens novas e diferentes. Dalí não era apenas um mestre do visível, mas também do subconsciente.
Da Esquerda para a Direita: Nicolas Descharnes, Dee Perry (wife Paul Perry), Amanda Lear, Paul Perry e uma réplica da Visão do Inferno

O que significa para si o facto de o documentário ter sido várias vezes premiado (Festival de Cinema de Madrid, Berlin International, Festival de Cinema de Nevada)?
Significa que captámos o génio e os pensamentos subconscientes de Salvador Dalí. Essas são coisas muito poderosas e difíceis de captar, tanto mais de uma pessoa tão ilusória como Dalí. Penso que o que isso significa é melhor resumido pelo Cardeal Monezemolo, de Espanha, que assistiu ao filme, em São Marinho, comigo, com os produtores associados do filme e vários membros da realeza europeia. «Capturou relâmpagos numa garrafa», disse ele. Isso é uma coisa muito difícil de fazer e isso deixa-nos - porque isso foi um trabalho de equipa -, muito orgulhosos.

E o Perry que ligação tem a Fátima?
Tenho que ser sincero com Fátima. Inicialmente não gostava do local. Era muito novo e moderno e parecia muito mais comercial, do que outros locais de peregrinação que visitei. Mas regressei várias vezes a Fátima, desde a primeira vez que fui lá para trabalhar na história do quadro. E cada vez que vou aprendo a amá-lo mais. E torno-me mais receptivo ao facto de que é tão moderno porque tem de ser: Fátima aconteceu há apenas 100 anos, é moderno no mundo dos milagres e locais de peregrinação. Além disso, tenho alguns bons amigos lá, como Carlos Evaristo, que é bem mais do que uma estrela de televisão em Portugal, é também um especialista na história das relíquias sagradas, que é o tema do nosso próximo filme. E, claro, o duque de Bragança, cujo conhecimento tem, na profundidade que só a realeza pode proporcionar. Há tanto em Portugal que é novo para os meus olhos americanos. Sempre que lá vou experimento um mundo que é novo para mim, e um mundo que não consigo deixar de explorar.

Paul Perry com Duque de Bragança

Estamos a pouco dias da vinda do Papa a Fátima. O que lhe diria sobre o quadro que inspirou o Dali's Greatest Secret?
Bem, não havendo muito tempo com o Papa, falaria directamente e muito rápido. Dir-lhe-ia que a Irmã Lúcia viu uma foto do quadro em 1997, e disse ao seu intérprete: Dalí tinha representado o Inferno tão de perto que não seria humanamente possível. «Para mim, isso faz do próprio quadro uma visão religiosa, uma fonte de poder transformador». Depois dar-lhe-ia uma cópia do filme. Ele também tem o gene da curiosidade, então, quem sabe, onde isso o levaria... 

Maria Cruz
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