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500 anos de Camões

Portugal que o poeta escreveu pró mundo

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São muitas as nações que se revêm nos seus grandes poetas, veja-se pelos ingleses com Shakespeare, os alemães com Goethe, os italianos com Dante e os franceses com Molière. Mas como Camões está para Portugal, arrisca-se quase a dizer que mais nenhum. Luís Vaz de Camões é o cantor máximo das glórias lusitanas e, ao longo do tempo, a sua obra Os Lusíadas passou a ser encarada como o reflexo do povo português. De interesse nacional e universal, a epopeia narra a época que desconstrui e redefiniu o mundo: os Descobrimentos. Era preciso imortalizá-los, e assim foi feito, a partir das aventuras de Vasco da Gama durante a descoberta do caminho marítimo para a Índia. 
Meio milénio após o nascimento do poeta, continuam a celebrar-se os feitos que fez em vida. Os seus sonetos atravessam séculos e as palavras continuam a influenciar autores de diferentes gerações. De olho aberto e o outro fechado pelas lides da guerra, o seu imaginário universal surge-nos de calções tufados, cabelo ruivo, louros na cabeça e golas em renque, disponível para ceder os seus versos ao mundo, aos países lusófonos, ao Portugal ora concertado, ora desconcertado, ora ambicioso, ora desleixado. Pouco se sabe sobre a vida de Luís Vaz de Camões, mas é quase unânime que nasceu no ano de 1524. Não se lhe conhece a cidade onde nasceu, mas cresceu no seio de uma família da pequena nobreza. A escrita e as referências culturais evidenciam a prática de uma educação clássica e formal. Sabe-se da vida boémia, das noites passadas em bordéis e da pensão paupérrima que recebia da Índia. Esteve preso pelo menos duas vezes e foi militar, tendo sido a batalha em Ceuta que lhe custou meia visão. O ano da sua morte é incerto, mas aponta-se para 1579, em consequência da peste. Não teve herdeiros, nem deixou património. Morreu pobre, sem reconhecimento, como um génio incompreendido e esquecido, e só vários anos mais tarde é que lhe foi atribuída notoriedade.
OS SEUS SONETOS ATRAVESSAM SÉCULOS E AS PALAVRAS INFLUENCIAM GERAÇÕES
Assim que o mundo se deparou com a valentia de um povo que se aventurou por mares nunca dantes navegados, resistindo aos testes dos deuses, ninfas, sereias, reis e gigantes, a epopeia tornou-se uma das obras mais traduzidas da literatura portuguesa, considerada também uma das mais brilhantes de sempre. Serviu como fonte de patriotismo em momentos decisivos da História. Por exemplo, no tempo de ocupação espanhola, em horas de cerco, a obra era considerada a leitura «sagrada»; e no regime salazarista foi utilizada como instrumento de propaganda colonialista. A verdade é que a dedicação que o poeta prestou à cultura, à poesia e às letras fizeram-no pertencer aos que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando. E, por isso, 500 anos depois do corpo quebrar, o espírito continua a viver na memória de uma pátria saudosista, e na de tantas outras que se mostram inspiradas pela força da união.
Preparado para mais um ano de festejos mundanos que carregam o seu nome, entrega o seu legado a mais um 10 de junho. Viva o Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas.


Joana Rebelo
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