Foi no Algarve que pisou, pela primeira vez, um palco, e a personagem de um jovem idealista levou Diogo Infante a acreditar que representar era algo sério e para o resto da vida. Para ganhar dinheiro e ajudar em casa, faz um curso de turismo, trabalhando como guia-intérprete. Mas ser ator foi mais forte e regressa a Lisboa, onde nasceu, para ingressar no Conservatório. Fez novelas, séries e cinema. E, no teatro, chegou a encenador e produtor. Já realizou uma curta-metragem, que foi a Cannes, e tem um guião escrito para um filme. De regresso ao Teatro Trindade, agora como diretor artístico, apostou numa programação onde há clássicos, mas também haverá música.
O Algarve foi importante para si e para o seu futuro?
Foi lá que vivi a minha adolescência, e a primeira vez que pisei um palco, tinha 17 anos, foi no Teatro Lethes, em Faro. É uma sala muito bonita, uma réplica do São Carlos, em miniatura. Simultaneamente, tirei um curso de guia-intérprete, direcionado para o turismo. Estava no Algarve e precisava de ganhar dinheiro.
Quando subiu ao placo percebeu que o turismo não teria futuro consigo?
Sim, tive essa consciência. A peça chamava-se «Os Cães» de, Tone Brulin, um autor belga. Era uma peça sobre o apartheid, na África do Sul, e eu fazia um jovem idealista, romântico, contestatário que se revoltava contra o pai, que era um bóer. Esse texto foi um desafio forte, levando-me a perceber o que queria mesmo.
«Nós, infelizmente, não sabemos valorizar o papel das artes e da cultura na formação das pessoas»
Manteve durante algum tempo ambas as atividades.
A vida nem sempre nos coloca no sítio certo na hora certa, e foi assim, durante algum tempo, até que, já como guia profissional e com a vida mais ou menos instalada, perto dos 21 anos, percebi que estava a passar ao lado de um sonho, ser ator profissional, com todas as limitações e dificuldades num país como era o nosso, há trinta anos.
Foi quando decidiu voltar para Lisboa?
A família reuniu-se toda, éramos poucos, só nós os três: eu, a minha mãe e a minha avó. Disseram-me para fazer o que entendesse que elas ficariam bem. Entenda-se «bem» sem o meu contributo para a casa. E parti. Felizmente tudo correu muito bem. Fui para o Conservatório e, passado um ano, já estava a trabalhar como ator. Primeiro no Teatro Nacional e, depois, a fazer cinema e televisão foi uma sequência até hoje.