Eugénio de andrade, a Arte dos Versos

Sob o mote de celebrar o centenário do nascimento de Eugénio de Andrade, o Museu da Cidade do Porto abre as portas a uma exposição em homenagem ao poeta, no dia em que o mesmo completaria 100 anos de vida. A ideia passou pela criação de um programa expandido, que varia entre uma exposição, um Curso Breve, ciclos de leitura e de conversas, percursos e um programa educativo. O destaque vai para a exposição Eugénio de Andrade, a Arte dos Versos, patente na Biblioteca Municipal Almeida Garrett. Com entrada gratuita, encontra-se aberta ao público de terça a sábado, das 10h00 às 18h00, sendo que, à segunda-feira, o horário altera e, aos domingos e feriados, está encerrada. Graças à curadoria de Jorge Sobrado e Rita Roque e à colaboração de Arnaldo Saraivo, é exibida uma exposição nostálgica, com documentação inédita, organizada através do acervo da Fundação Eugénio de Andrade. Postais, cartazes, viagens, manuscritos, textos datilografados e objetos pessoais são alguns dos elementos que estão representados na mostra, com o intuito de dar a conhecer as diferentes fases de vida de Eugénio de Andrade. Mas não acaba aqui. A exposição engloba trechos de filmes em que o poeta terá participado, onde são revelados depoimentos de amigos, assim como o olhar de outros escritores sobre Eugénio e os trabalhos que deixou. 
Também estão disponíveis as sessões Leitores de Eugénio, que ocorrem quinzenalmente, às quintas-feiras, e contam com a presença de leituras afetuosas do intérprete Pedro Abrunhosa. É, portanto, uma outra maneira de prestar homenagem, convidando jornalistas, políticos, investigadores e artistas a recitar os poemas que lhes são prediletos. A homenagem estende-se até abril e, para aqueles que já tiveram a oportunidade de explorar o programa, temos boas notícias: o Museu da Cidade do Porto revela que poderá existir um segundo momento expositivo, dedicado às cumplicidades artísticas do célebre poeta.

Celebrar o centenário do nascimento de Eugénio de Andrade

Entre os amantes de literatura e poesia portuguesa, ficou conhecido com o pseudónimo de José Fontinhas. O seu nome era Eugénio de Andrade. Nascido no Fundão, foi morar para Lisboa aos 10 anos, após a separação dos pais. Passou pelo Liceu Passos Manuel e pela Escola Técnica Machado de Castro e é na sua juventude que envereda pela poesia, também influenciado pelo poeta António Botto. Com as andanças da vida, passou por Coimbra e foi na cidade Invicta que acabou por ficar, até à data do seu falecimento, em 2005. Eugénio de Andrade não ficou preso à expressão literária, tendo produzido também ensaios e livros infantis e aventurando-se, ainda, enquanto tradutor de nomes ilustres como Federico García. Foi em 1940 que divulgou a sua primeira publicação, denominada Narciso, sendo que a sua última, Lugares do Lume, teve lugar em 1998. Pelo caminho, foi gloriado com múltiplos prémios, e, atualmente, continua a ser um nome que ultrapassa fronteiras.

A homenagem estende-se até abril

Como forma de revisitar um fragmento da obra de um dos poetas portugueses mais célebres do século XX, segue-se um poema selecionado pela revista Villas&Golfe que invoca reflexões profundas sobre a natureza e o corpo e sobre a transcendência dos limites da vida. Uma realidade desconhecida. Um amanhecer hesitante. Desfrute.

Sei agora como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.

É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.

É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.

Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.

«Até Amanhã», in «Até Amanhã», 1956