A carreira musical sempre esteve nos seus planos?
Pensava seguir medicina, ser músico profissional não estava nos meus horizontes, apesar de ter ponderado ir para o Conservatório, algo que o meu pai achou não ser boa ideia. Mas a música não estava fora do meu contexto, fiz a primeira aparição pública na televisão com 6 anos, recebi 47,50 escudos, foi o meu primeiro cachet. Agora há muito o hábito de se ir tocar às televisões sem compensação e isto não pode acontecer, porque os músicos criam conteúdos.
E quando tinha cerca de 20 anos surge o grupo Trovante.
Estávamos em 1976, quando um coletivo de amigos, da mesma geração e com a mesma forma de ver a sociedade, se juntou. Acabámos por nos encontrar em torno da poesia do Francisco Viana. E nasceram canções. Houve também um convite para gravarmos o primeiro disco para a editora Sassetti, o Chão Nosso. O Trovante tinha uma componente interventiva muito forte e, a partir daqui, começámos a trabalhar com outros amigos: Fausto, Adriano Correia de Oliveira, Zeca Afonso, e gravámos o segundo disco. Musicalmente, fomos evoluindo e fomos crescendo. Foi determinante alargarmos o nosso espectro musical, o público era cada vez maior e tudo foi uma sucessão de acontecimentos, nada foi pensado, nem planeado. Fomos andando ao sabor dos acontecimentos, até chegarmos aos oito álbuns de originais.
Com o fim do Trovante, o Luís inicia uma carreira a solo.
Em 1992, decidimos terminar o Trovante. Comecei a compor, porque queria continuar na música. Decidi sair de Portugal e fui para Cuba, país pelo qual sentia uma forte ligação, não sei explicar porquê. O Pablo Milanês, que já conhecia, disse-me para trabalhar com os seus músicos, que verifiquei serem extraordinários, e eles perceberam que estavam ao lado de um compositor eclético com grande sensibilidade em relação à música afro-cubana. Em 1993, gravei o álbum Represas e, até agora, já foram quinze entre originais e compilações.
«O Trovante tinha uma componente interventiva muito forte»