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Luís Represas

«As coisas boas acontecem sem serem premeditadas»

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Já passam quarenta e cinco anos desde que Luís Represas começou a carreira musical. A eterna voz do grupo Trovantetem agora uma consistente carreira a solo que iniciou em 1993, em Cuba, de onde saíram os sons que envolvem a Feiticeira. Ao longo dos últimos trinta anos, perde-se a conta aos inúmeros concertos realizados pelo mundo, sozinho ou acompanhado com outros músicos nacionais e internacionais. A voz que não precisa de nome conduz milhares de pessoas a momentos íntimos e coletivos que sempre passarão a barreira do tempo. 

«Há muito o hábito de se ir tocar às televisões sem compensação e isto não pode acontecer, porque os músicos criam conteúdos» 
A carreira musical sempre esteve nos seus planos?
Pensava seguir medicina, ser músico profissional não estava nos meus horizontes, apesar de ter ponderado ir para o Conservatório, algo que o meu pai achou não ser boa ideia. Mas a música não estava fora do meu contexto, fiz a primeira aparição pública na televisão com 6 anos, recebi 47,50 escudos, foi o meu primeiro cachet. Agora há muito o hábito de se ir tocar às televisões sem compensação e isto não pode acontecer, porque os músicos criam conteúdos.  

E quando tinha cerca de 20 anos surge o grupo Trovante.  
Estávamos em 1976, quando um coletivo de amigos, da mesma geração e com a mesma forma de ver a sociedade, se juntou. Acabámos por nos encontrar em torno da poesia do Francisco Viana. E nasceram canções. Houve também um convite para gravarmos o primeiro disco para a editora Sassetti, o Chão Nosso. O Trovante tinha uma componente interventiva muito forte e, a partir daqui, começámos a trabalhar com outros amigos: Fausto, Adriano Correia de Oliveira, Zeca Afonso, e gravámos o segundo disco. Musicalmente, fomos evoluindo e fomos crescendo. Foi determinante alargarmos o nosso espectro musical, o público era cada vez maior e tudo foi uma sucessão de acontecimentos, nada foi pensado, nem planeado. Fomos andando ao sabor dos acontecimentos, até chegarmos aos oito álbuns de originais. 

Com o fim do Trovante, o Luís inicia uma carreira a solo.
Em 1992, decidimos terminar o Trovante. Comecei a compor, porque queria continuar na música. Decidi sair de Portugal e fui para Cuba, país pelo qual sentia uma forte ligação, não sei explicar porquê. O Pablo Milanês, que já conhecia, disse-me para trabalhar com os seus músicos, que verifiquei serem extraordinários, e eles perceberam que estavam ao lado de um compositor eclético com grande sensibilidade em relação à música afro-cubana. Em 1993, gravei o álbum Represas e, até agora, já foram quinze entre originais e compilações. 

«O Trovante tinha uma componente interventiva muito forte»
«Decidi sair de Portugal e fui para Cuba, país pelo qual sentia uma forte ligação»

«De que fogo renascido» é uma estrofe da Feiticeira que faz parte desse álbum e parece ter feitiço...
A história da Feiticeira é curiosa, o Francisco Viana escreveu a letra para mim em 91/92 e eu compus a música. Porém, sem acreditar muito na canção. Quando o compositor Miguel Nuñez começou a trabalhar nos arranjos, aquilo começou a crescer, começou a ficar ‘redondo’, embora eu ainda não acreditasse nela, tanto que para o dueto com o Pablo esta música era a terceira opção, mas ele escolheu a Feiticeira. Sobre o feitiço, não sei se há ou não, mas esta é a música que tenho de cantar em todos os concertos, há ali algo que não sei desvendar, mas pegou. As coisas boas acontecem sem serem premeditadas. A música enquanto arte não é só aquilo que provoca no momento que a ouves, é aquilo que te faz retomar o momento noutro tempo.

Moçambique também entrou na sua vida. 
É mais um daqueles episódios que não se explica. Moçambique era lá longe e, de repente, ficou muito perto. Uma amiga falou-me do Stewart Sukuma, disse-me que ele tocava as minhas músicas e, um dia, o encontro proporcionou-se e, nesse momento, em que nos cruzámos pela primeira vez, pareceu que nos conhecíamos a vida toda. A partir daí, fizemos muitos trabalhos juntos e sei que ainda temos um longo caminho a percorrer, é daquelas pessoas com quem me identifico plenamente.

Dos seus quatro filhos, algum mostra o lado artístico?
A Carolina já escreveu três letras para mim e, com três canções editadas, já é considerada minha parceira. O Nuno fez um curso de representação no exterior e quer mesmo representar. O Zé tem alma de artista, está a fazer Ciências Políticas e Relações Internacionais e, para mim, a diplomacia e a boa política são também uma arte. O João, depois de um tempo de busca, decidiu-se por criminologia, mas na ótica de descobrir e perceber o que está para lá da mente do criminoso. Estou orgulhoso deles e das mães também. Quando temos a felicidade de chegar ao momento em que olhamos uns para os outros e vemos que tudo funcionou, é muito bom. 
Cristina Freire
T. Cristina Freire
F. Nuno Almendra
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