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Plástico: Reconstruir o Nosso Mundo

Uma linha ténue entre o utilitário e o supérfluo 

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É no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia que está patente a Plástico: Reconstruir o Nosso Mundo, uma exposição que leva a repensar o consumo do plástico. O uso insustentável deste material é do conhecimento de todos, mas parece que a curadora, Must Anniina Koivu, procurou ir mais além para captar toda a atenção em torno de uma mensagem...

Uma exposição que leva a repensar o consumo do plástico
Em exibição até 28 de agosto, de quarta a segunda-feira, das 10h00 às 19h00, a mostra organiza-se em três secções, de forma a que o observador seja apanhado num enredo, onde o plástico, em 150 anos, passa de revolucionário e progressista a letal e supérfluo. Falamos de 400 peças expostas de forma sequencial, tanto em formato de vídeo como de imagem, escolhidas e pensadas durante o período pandémico, por meio de debates realizados por videochamada. Da colaboração entre o MAAT, o Vitra Design Museum e o V&A Dundee, ergue-se uma exposição onde tudo é escolhido a dedo. As próprias vitrinas são feitas de madeira, aço e alumínio, e a utilização de plástico é evitada a todo o custo, embora se tenha revelado um desafio e tanto. Feitas as apresentações, é hora de compreender a história, os malefícios e o impacto deste material artificial, tão sedutor e perigoso em simultâneo. 
A experiência começa quando nos permitimos olhar ao nosso redor. Em milésimos de segundo, tomamos consciência de que estamos cercados de plástico, seja onde for. Que este material atingiu uma dimensão danosa para o ambiente todos sabemos, mas o que talvez não seja do conhecimento geral é a origem e a progressão que sofreu ao longo das décadas. Plástico: Reconstruir o Nosso Mundo vem descortinar o caminho silencioso e veloz que o plástico percorreu e, com a precisão necessária, mostrar-nos-á o caminho para um futuro mais sustentável. Asis Kahan é quem assinala as primeiras impressões da mostra. Através de uma instalação videográfica, é apresentado um prelúdio que resume os últimos dois biliões de anos da História do planeta. Passados nove minutos já estamos preparados para abandonar a enigmática sala preta e é à saída que nos deparamos com pequenos objetos que prendem a nossa atenção. São, na verdade, artigos reciclados inovadores, idealizados pela comunidade Precious Plastic. Surpreendentes eles são, ganhando forma com teclados fabricados a partir de garrafas de Coca-Cola ou tábuas de skate de plástico reciclado. Seguindo a linha de visão, somos persuadidos por um espaço dedicado à experiência. Antes de lhe tentarmos dar uso, é feita uma breve explicação sobre a sua função. Ora, para classificar os diferentes tipos de plástico, existe uma técnica denominada de Infravermelho Próximo e aquilo que se encontra diante de nós é, nada mais, nada menos, do que uma estação de triagem que nos permite analisar os resíduos de plástico, agrupando-os em classes. Uma experiência aliciante. Vagueando, agora, pelo espaço, encontramos objetos curiosos, prova disso é a máquina rococó que garante gerar reciclagem de plástico. Ou, então, os azulejos e ladrilhos de cerâmica, fabricados a partir de resíduos têxteis e de vidro. 

400 peças expostas de forma sequencial
E, sem dar conta, estamos na próxima paragem, o segundo núcleo da exposição. Esta é uma etapa fundamental, que nos ajuda a compreender a aparição do plástico. Algures, numa das paredes, consegue ler-se: «Quem inventou o plástico?». Bem, parece que Alexander Parkes teve muito que ver com o assunto. Entre percursos e evoluções, é narrada a história do material e, quando nos apercebemos, estamos rodeados de um santuário de plástico – legos, barbies, candeeiros, produtos alimentares, enfim, objetos cuja filosofia se baseia em usar e deitar fora. Todos estes artigos são utilizados para explicar o boom do plástico, que remete para duras reflexões sobre a sociedade do plástico descartável. 
Os corredores conduzem-nos, por fim, à última fase da mostra. O contexto atual e as possíveis soluções para a crise climática estão espalhadas pelo espaço e são muitos os gráficos e dados que deixam em evidência a curva ascendente do consumo do plástico no mundo – basta ver a Ásia, que carrega 54% da produção mundial de plástico. É de evidenciar que a percentagem de reciclagem pelo mundo é pouca e insuficiente, mas o cenário torna-se mais animador quando atribuímos importância às pequenas soluções expostas no local. Um dos temas em destaque é a moda sem desperdício. Através do método MycoTEX, é possível fazer a confeção de vestuário sem costura e à medida, por meio de micélio de cogumelo compostável, cultivado em laboratório. Deste modo, assegura-se um bom ajuste sem necessidade de medição, evitando sobras ou desperdícios. Como esta sugestão, surgem muitas mais, mas cabe-lhe a si conhecê-las na primeira pessoa.
Plástico: Reconstruir o Nosso Mundo é um espaço reflexivo e não deve ser tomado como uma tentativa barata de demonização do plástico. A mensagem que está por detrás da exposição é a compreensão deste material, algo que, segundo a curadora, parece ser a única forma de conseguirmos reconstruir um mundo digno para as gerações vindouras. Por isso, cabe-nos a nós desafiá-lo: já repensou no valor que dá ao plástico?
Joana Rebelo
T. Joana Rebelo
F. Nuno Almendra
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