Viu potencial em terras lusas, onde esteve recentemente de passagem. Veio de longe e não tardou a rumar além, procurando sinais orientadores em sorrisos rasgados. Em nome de uma missão. Em nome de um sonho. Mas por partes. Cedo fez-se mulher, inconformada com a cultura patriarcal que entendia colocar-lhe, aos 12 anos, uma aliança no dedo. Em vez do matrimónio, Rani Vanouska dedicou-se à carreira de modelo, e o que veio a seguir garante revelar-nos em conversa. O que sabemos é que, no seio de uma família culta, amadureceu uma rapariga regida por valores, estes que viriam a fazer dela uma mulher influente, afeiçoada a projetos humanitários. Muito mais haveria a dizer sobre Vanouska, se não fosse agora a altura de a conhecer em pessoa, a esta que é uma mulher de raízes indianas e tempo minuciosamente cronometrado, que não gosta de se apresentar como membro da realeza, embora o seja, e a quem já há quem chame de «Madre Teresa do futebol».
Rani Vanouska
«Quero tornar o futebol Património Cultural Imaterial da Humanidade»
Além de mulher dos sete ofícios, pertence a uma linhagem que a coloca no estatuto de realeza. Quer falar-nos das suas origens?
Sim, embora não o ache necessário. É algo que não gosto de referir... Atualmente, as pessoas falam da realeza como se se tratasse do universo da Disney, mas essa não é a verdade. Devo até dizer que não é a parte mais importante da minha vida. Penso que a vida tem que ver com meritocracia e, de facto, pertencer a esta linhagem não é algo que eu tenha lutado para conquistar... É claro que tenho orgulho na minha herança e que a guardo no coração, mas dela ficou, principalmente, a educação. Tem que ver com a forma como posso usar os meus valores para deixar um impacto no mundo, e isso sim é o mais determinante para mim.
Relativamente à minha família, está espalhada um pouco por todo o mundo, aliás, sempre viajámos bastante. Os meus pais pretendiam criar-me de modo que tivesse uma mente aberta, daí já ter morado em múltiplos países. Ainda assim, dentro de nós reside o espírito indiano, embora com um toque internacional, para deter uma perspetivada mais plena do mundo.
Modelo, filantropa, empresária, figura pública e, provavelmente, mais valências que guarda em segredo. Como é que cruza áreas tão distintas no seu dia a dia?
Na verdade, é muito fácil porque tudo o que faço, faço com o coração. Não fico a pensar no passado, creio que tudo o que acontece na vida é obra do destino. Lá está, são as raízes indianas a falarem por mim. Todos temos uma missão nesta vida, nascemos por alguma razão, e é sob este mote que levo a minha jornada.
Alguma vez sentiu que a sua herança cultural a condiciona?
Sim, e para ser sincera tem sido difícil. Venho de uma família muito conservadora e quando comecei a minha carreira de modelo não foi fácil. Tive de remar contra a maré. Também acho que este tipo de espírito rebelde tem que ver com a idade. Eu sempre quis fazer mais e estava segura do caminho que não estava disposta a seguir. Precisei de conhecer quem sou e de descobrir o meu caminho, sozinha. Com a carreira de modelo, comecei a ganhar uma experiência, em grande parte porque viajava para todo o lado. Antes disso, lembro-me de me sentir uma criança, protegida por tudo e por nada. E a escolha de reverter tudo isso foi minha.
E quanto à vertente académica, o que optou por fazer?
O meu pai não estava contente com a minha carreira de modelo, porque não era o destino que tinha planeado para mim e, por isso, voltei a estudar. Tal como ele queria. Fiz a escola preparatória de matemática e ciências, mas com a condição de fazer da minha vida o que eu quisesse, após esses dois anos. E assim se sucedeu. Logo a seguir à escola preparatória, tive um tutor que me acompanhou nas minhas viagens, para que pudesse continuar a estudar. Acabei, depois, por ir para Nova Iorque, e foi lá que me dediquei inteiramente à carreira de modelo. Comecei, finalmente, a fazer parte do mundo e a tornar-me uma jovem adulta.
Como é que surgiu a ligação ao universo futebolístico?
Uma história longa. Ora, a minha família sempre esteve envolvida em projetos de cariz humanitário, já a minha avó, por exemplo, fazia parte da Cruz Vermelha. A ideia de contribuir para um mundo melhor sempre esteve presente na minha educação, algo que ajudou a que certos projetos se desenrolassem. Com o tempo, começava a pensar fazer algo de impactante pelas pessoas, e foi nessa altura que conheci o Emmanuel Macron, tempos antes de se tornar presidente. Acabei por me envolver numa organização dedicada aos jovens, de forma a ajudá-los a concretizar os seus sonhos.
Entretanto, a vida encarregou-se de me apresentar o presidente da Comissão Nacional Francesa para a UNESCO. Esta organização intergovernamental, que conta com cerca de 195 países, tem uma delegação permanente em cada país, ocupando-se dos acontecimentos da respetiva região. E, bem, eu tornei-me embaixadora e comecei a entrosar-me neste mundo da organização internacional. Estava em constante contacto com novas ideias e a tentar encontrar diferentes projetos para criar. Mas, por ser um meio muito fechado, deparei-me com bastantes dificuldades. Não tardou até perceber que estava na hora de marcar pela diferença e ir mais além. Precisava de pôr alguma humanidade nos projetos, algo que pudesse tocar nas pessoas, a tal proximidade.
Com as andanças da vida, fui convidada para a cerimónia da Liga dos Campeões. Não sabia o que me esperava... A primeira coisa que pensei foi na quantidade de homens presentes e no número nada representativo de mulheres. Percebi rapidamente que era um problema. Acabei por entrar na sala e sentar-me no meu lugar. A cerimónia foi transmitida em direto para todo o mundo e lembro-me, de um momento para o outro, de o meu telemóvel não parar de receber mensagens. «Ó meu deus, o Ronaldo!», «Ó meu deus, o Messi!», diziam-me. Esta experiência mudou, efetivamente, a minha vida. Fiquei estupefacta com o impacto que aquilo tinha na vida das pessoas. Nas crianças e adolescentes era quase palpável a emoção que transparecia nos seus olhos, a mirar os melhores do mundo. É uma memória comovente para mim. No final do evento, regressei a casa e acordei a meio da noite com uma ideia: porque não fazer a ponte entre as Nações Unidas e o futebol? O futebol é a modalidade mais popular de mundo e as Nações Unidas têm tudo que ver com a propagação de valores. Eureca! «Eu quero tornar o futebol Património Cultural Imaterial da Humanidade», pensei.
«Todos temos uma missão nesta vida»
Sim, embora não o ache necessário. É algo que não gosto de referir... Atualmente, as pessoas falam da realeza como se se tratasse do universo da Disney, mas essa não é a verdade. Devo até dizer que não é a parte mais importante da minha vida. Penso que a vida tem que ver com meritocracia e, de facto, pertencer a esta linhagem não é algo que eu tenha lutado para conquistar... É claro que tenho orgulho na minha herança e que a guardo no coração, mas dela ficou, principalmente, a educação. Tem que ver com a forma como posso usar os meus valores para deixar um impacto no mundo, e isso sim é o mais determinante para mim.
Relativamente à minha família, está espalhada um pouco por todo o mundo, aliás, sempre viajámos bastante. Os meus pais pretendiam criar-me de modo que tivesse uma mente aberta, daí já ter morado em múltiplos países. Ainda assim, dentro de nós reside o espírito indiano, embora com um toque internacional, para deter uma perspetivada mais plena do mundo.
Modelo, filantropa, empresária, figura pública e, provavelmente, mais valências que guarda em segredo. Como é que cruza áreas tão distintas no seu dia a dia?
Na verdade, é muito fácil porque tudo o que faço, faço com o coração. Não fico a pensar no passado, creio que tudo o que acontece na vida é obra do destino. Lá está, são as raízes indianas a falarem por mim. Todos temos uma missão nesta vida, nascemos por alguma razão, e é sob este mote que levo a minha jornada.
Alguma vez sentiu que a sua herança cultural a condiciona?
Sim, e para ser sincera tem sido difícil. Venho de uma família muito conservadora e quando comecei a minha carreira de modelo não foi fácil. Tive de remar contra a maré. Também acho que este tipo de espírito rebelde tem que ver com a idade. Eu sempre quis fazer mais e estava segura do caminho que não estava disposta a seguir. Precisei de conhecer quem sou e de descobrir o meu caminho, sozinha. Com a carreira de modelo, comecei a ganhar uma experiência, em grande parte porque viajava para todo o lado. Antes disso, lembro-me de me sentir uma criança, protegida por tudo e por nada. E a escolha de reverter tudo isso foi minha.
E quanto à vertente académica, o que optou por fazer?
O meu pai não estava contente com a minha carreira de modelo, porque não era o destino que tinha planeado para mim e, por isso, voltei a estudar. Tal como ele queria. Fiz a escola preparatória de matemática e ciências, mas com a condição de fazer da minha vida o que eu quisesse, após esses dois anos. E assim se sucedeu. Logo a seguir à escola preparatória, tive um tutor que me acompanhou nas minhas viagens, para que pudesse continuar a estudar. Acabei, depois, por ir para Nova Iorque, e foi lá que me dediquei inteiramente à carreira de modelo. Comecei, finalmente, a fazer parte do mundo e a tornar-me uma jovem adulta.
Como é que surgiu a ligação ao universo futebolístico?
Uma história longa. Ora, a minha família sempre esteve envolvida em projetos de cariz humanitário, já a minha avó, por exemplo, fazia parte da Cruz Vermelha. A ideia de contribuir para um mundo melhor sempre esteve presente na minha educação, algo que ajudou a que certos projetos se desenrolassem. Com o tempo, começava a pensar fazer algo de impactante pelas pessoas, e foi nessa altura que conheci o Emmanuel Macron, tempos antes de se tornar presidente. Acabei por me envolver numa organização dedicada aos jovens, de forma a ajudá-los a concretizar os seus sonhos.
Entretanto, a vida encarregou-se de me apresentar o presidente da Comissão Nacional Francesa para a UNESCO. Esta organização intergovernamental, que conta com cerca de 195 países, tem uma delegação permanente em cada país, ocupando-se dos acontecimentos da respetiva região. E, bem, eu tornei-me embaixadora e comecei a entrosar-me neste mundo da organização internacional. Estava em constante contacto com novas ideias e a tentar encontrar diferentes projetos para criar. Mas, por ser um meio muito fechado, deparei-me com bastantes dificuldades. Não tardou até perceber que estava na hora de marcar pela diferença e ir mais além. Precisava de pôr alguma humanidade nos projetos, algo que pudesse tocar nas pessoas, a tal proximidade.
Com as andanças da vida, fui convidada para a cerimónia da Liga dos Campeões. Não sabia o que me esperava... A primeira coisa que pensei foi na quantidade de homens presentes e no número nada representativo de mulheres. Percebi rapidamente que era um problema. Acabei por entrar na sala e sentar-me no meu lugar. A cerimónia foi transmitida em direto para todo o mundo e lembro-me, de um momento para o outro, de o meu telemóvel não parar de receber mensagens. «Ó meu deus, o Ronaldo!», «Ó meu deus, o Messi!», diziam-me. Esta experiência mudou, efetivamente, a minha vida. Fiquei estupefacta com o impacto que aquilo tinha na vida das pessoas. Nas crianças e adolescentes era quase palpável a emoção que transparecia nos seus olhos, a mirar os melhores do mundo. É uma memória comovente para mim. No final do evento, regressei a casa e acordei a meio da noite com uma ideia: porque não fazer a ponte entre as Nações Unidas e o futebol? O futebol é a modalidade mais popular de mundo e as Nações Unidas têm tudo que ver com a propagação de valores. Eureca! «Eu quero tornar o futebol Património Cultural Imaterial da Humanidade», pensei.
«Todos temos uma missão nesta vida»
E depois, o que se sucedeu?
O que aconteceu foi que, uns dias depois, voei para Paris e pedi para me encontrar com o Presidente da Comissão Nacional Francesa. Falei-lhe da minha ambição de tornar a modalidade Património Imaterial, de forma a unir os países como se de uma língua universal se tratasse. Ele gostou da ideia e mostrou-me apoio, aconselhando-me a falar com o Presidente da França para apresentar a candidatura. Rapidamente lhe disse que não, porque o futebol não pertence à França, mas sim a todo o mundo, e ele garantiu-me que estava a fazer a candidatura mais histórica das Nações Unidas. E assim me aventurei. No planeamento do projeto tive de reunir todos os apoios numa organização chamada Football World Heritage (Património Mundial de Futebol), que se encontra sediada em Inglaterra. Já lá vão três anos desde o seu começo e, no fundo, a minha missão é reunir 211 nações, os melhores clubes e jogadores do mundo, de forma a contar com o apoio de cada uma. Anseio concretizar o objetivo antes de 2026, para que o futebol se torne Património Imaterial antes do próximo Campeonato do Mundo.
Neste momento, como se encontra o projeto?
Está a correr muito bem. Sinto-me próxima das pessoas. Tenho estado em constante contacto com adeptos e percebo que o desejo de voltar à autenticidade outrora vivida no futebol tem aumentado. Atualmente, creio que estamos demasiado concentrados no aspeto financeiro, quando deveríamos olhar para o aspeto humanitário também. Podemos usar esta «potência» que é o futebol para tornar as coisas mais bonitas.
Como?
É tudo uma questão de como podemos apoiar o programa das Nações Unidas através da educação, ciência e cultura. Por isso, o meu papel atual é falar com os dirigentes e lançar-lhes um apelo, lembrando-lhes do aspeto não só desportivo, mas cultural da modalidade. Neste momento, encontro-me em diálogo com chefes de Estado, a Federação de Futebol, pessoal da FIFA e basicamente toda a gente, para que, no final, prevaleça a beleza intrínseca ao futebol. Acredito que o futebol é a ferramenta que pode unir o mundo. Passámos por momentos muito difíceis, com uma crise a suceder a pandemia, mas sempre que houve um jogo de futebol, as pessoas reuniram-se. É tudo uma questão de família e amizade, uma questão de partilha. O futebol acontece fora do campo também. Agora, a verdade é que a federação, os clubes, os políticos, os chefes de estado podem fazer mais. Trata-se de uma força global que tem de ser unida. Eu só estou aqui para juntar as pessoas e selar o portão, apenas para fazer a ponte, como um mensageiro. Mas eles podem ajudar mais.
E porque é que o futebol merece ser Património Cultural Imaterial da Humanidade?
O nosso juramento dita o seguinte: comprometo-me a apoiar a candidatura do futebol a Património Cultural Imaterial da Humanidade porque é universal, ultrapassa a língua, a cultura e a religião; porque é assinado por todas as intenções do mundo; porque milhões de jovens se encontram pelo futebol e crescem juntos com ele. Portanto, é uma modalidade realmente expansiva, relacionada com o espírito de vitória e o espírito de equipa. Biliões de seres humanos adoram-na. E, no final, é porque vale a pena.
Com a campanha que estamos a fazer, o objetivo é chegar a 2026 com mil milhões de euros reunidos. O destino do montante assenta em, essencialmente, três pilares. A educação. Segue-se a igualdade de género, aliás, tenho reunido com diferentes organizações, como a ONU Mulheres, com vista a criar programas específicos para as mulheres, já que acredito que o futebol possa ser uma ferramenta de emancipação. E, por último, há o pilar da sustentabilidade. Quando estive com o presidente da UNESCO, Altay Cengizer, foi muito importante encontrarmos uma forma de dar ênfase a este aspeto, porque há tanto património que faz parte do Património Mundial da UNESCO, mas que não tem recursos suficientes para ser preservado... E, pelo que vejo, também o futebol precisa de sair da caixa, porque o mundo está a evoluir.
Sabemos que criou uma bola...
As mensagens são importantes, se as materializarmos. Foi, então, que decidi desenhar a bola Omnia Ball. Omnia significa «todos juntos» e o modelo circular é um verdadeiro tributo ao planeta Terra. Conseguimos que alguns chefes de Estado a assinassem, aliás, a primeira foi assinada pelo Emmanuel Macron e a segunda pelo presidente da UNESCO. Temos também a marca do Presidente George Weah, Príncipe Alberto, Charles Leclerc e muitos mais. Através de uma bola, passamos a mensagem.
Por outro lado, tenho uma ação social que me é muito especial, a «Uma Criança, Um Sorriso». Não podemos dizer que o futebol é um Património Mundial, se há crianças que nem dinheiro têm para comprar uma bola. Queremos dar-lhes oportunidades para perseguirem os seus sonhos. A ideia é lançar esta campanha com o apoio dos jogadores de futebol, que funcionam como porta-bandeiras de cada país. Por isso, selecionamos dois ou três jogadores de cada país para representar a nação signatária, indo para a rua oferecer bolas de futebol às crianças que ambicionem entrosar-se na vertente futebolística. Parece não ser nada, mas são símbolos de esperança.
«As mulheres trazem um espírito diferente ao universo futebolístico»
O que aconteceu foi que, uns dias depois, voei para Paris e pedi para me encontrar com o Presidente da Comissão Nacional Francesa. Falei-lhe da minha ambição de tornar a modalidade Património Imaterial, de forma a unir os países como se de uma língua universal se tratasse. Ele gostou da ideia e mostrou-me apoio, aconselhando-me a falar com o Presidente da França para apresentar a candidatura. Rapidamente lhe disse que não, porque o futebol não pertence à França, mas sim a todo o mundo, e ele garantiu-me que estava a fazer a candidatura mais histórica das Nações Unidas. E assim me aventurei. No planeamento do projeto tive de reunir todos os apoios numa organização chamada Football World Heritage (Património Mundial de Futebol), que se encontra sediada em Inglaterra. Já lá vão três anos desde o seu começo e, no fundo, a minha missão é reunir 211 nações, os melhores clubes e jogadores do mundo, de forma a contar com o apoio de cada uma. Anseio concretizar o objetivo antes de 2026, para que o futebol se torne Património Imaterial antes do próximo Campeonato do Mundo.
Neste momento, como se encontra o projeto?
Está a correr muito bem. Sinto-me próxima das pessoas. Tenho estado em constante contacto com adeptos e percebo que o desejo de voltar à autenticidade outrora vivida no futebol tem aumentado. Atualmente, creio que estamos demasiado concentrados no aspeto financeiro, quando deveríamos olhar para o aspeto humanitário também. Podemos usar esta «potência» que é o futebol para tornar as coisas mais bonitas.
Como?
É tudo uma questão de como podemos apoiar o programa das Nações Unidas através da educação, ciência e cultura. Por isso, o meu papel atual é falar com os dirigentes e lançar-lhes um apelo, lembrando-lhes do aspeto não só desportivo, mas cultural da modalidade. Neste momento, encontro-me em diálogo com chefes de Estado, a Federação de Futebol, pessoal da FIFA e basicamente toda a gente, para que, no final, prevaleça a beleza intrínseca ao futebol. Acredito que o futebol é a ferramenta que pode unir o mundo. Passámos por momentos muito difíceis, com uma crise a suceder a pandemia, mas sempre que houve um jogo de futebol, as pessoas reuniram-se. É tudo uma questão de família e amizade, uma questão de partilha. O futebol acontece fora do campo também. Agora, a verdade é que a federação, os clubes, os políticos, os chefes de estado podem fazer mais. Trata-se de uma força global que tem de ser unida. Eu só estou aqui para juntar as pessoas e selar o portão, apenas para fazer a ponte, como um mensageiro. Mas eles podem ajudar mais.
E porque é que o futebol merece ser Património Cultural Imaterial da Humanidade?
O nosso juramento dita o seguinte: comprometo-me a apoiar a candidatura do futebol a Património Cultural Imaterial da Humanidade porque é universal, ultrapassa a língua, a cultura e a religião; porque é assinado por todas as intenções do mundo; porque milhões de jovens se encontram pelo futebol e crescem juntos com ele. Portanto, é uma modalidade realmente expansiva, relacionada com o espírito de vitória e o espírito de equipa. Biliões de seres humanos adoram-na. E, no final, é porque vale a pena.
Com a campanha que estamos a fazer, o objetivo é chegar a 2026 com mil milhões de euros reunidos. O destino do montante assenta em, essencialmente, três pilares. A educação. Segue-se a igualdade de género, aliás, tenho reunido com diferentes organizações, como a ONU Mulheres, com vista a criar programas específicos para as mulheres, já que acredito que o futebol possa ser uma ferramenta de emancipação. E, por último, há o pilar da sustentabilidade. Quando estive com o presidente da UNESCO, Altay Cengizer, foi muito importante encontrarmos uma forma de dar ênfase a este aspeto, porque há tanto património que faz parte do Património Mundial da UNESCO, mas que não tem recursos suficientes para ser preservado... E, pelo que vejo, também o futebol precisa de sair da caixa, porque o mundo está a evoluir.
Sabemos que criou uma bola...
As mensagens são importantes, se as materializarmos. Foi, então, que decidi desenhar a bola Omnia Ball. Omnia significa «todos juntos» e o modelo circular é um verdadeiro tributo ao planeta Terra. Conseguimos que alguns chefes de Estado a assinassem, aliás, a primeira foi assinada pelo Emmanuel Macron e a segunda pelo presidente da UNESCO. Temos também a marca do Presidente George Weah, Príncipe Alberto, Charles Leclerc e muitos mais. Através de uma bola, passamos a mensagem.
Por outro lado, tenho uma ação social que me é muito especial, a «Uma Criança, Um Sorriso». Não podemos dizer que o futebol é um Património Mundial, se há crianças que nem dinheiro têm para comprar uma bola. Queremos dar-lhes oportunidades para perseguirem os seus sonhos. A ideia é lançar esta campanha com o apoio dos jogadores de futebol, que funcionam como porta-bandeiras de cada país. Por isso, selecionamos dois ou três jogadores de cada país para representar a nação signatária, indo para a rua oferecer bolas de futebol às crianças que ambicionem entrosar-se na vertente futebolística. Parece não ser nada, mas são símbolos de esperança.
«As mulheres trazem um espírito diferente ao universo futebolístico»
Apesar dos significantes avanços no futebol feminino nos últimos anos, como é que se explica o notório pay gap entre homens e mulheres?
A verdade é que a mulher se insere no mundo dos homens. Mesmo que os políticos o neguem, continuamos a estar no mundo masculino. Penso que cabe às mulheres mostrar que podem chegar a esse nível, mas, claro, o compromisso tem de partir dos homens, que têm de dar a mão à figura feminina. Falo não só a nível institucional, mas também em campo. Além disso, as mulheres trazem um espírito diferente ao universo futebolístico, repleto de energia feminina e glamour.
Desigualdade de género, racismo e leis que impedem pessoas trans de praticar a modalidade têm sido críticas direcionadas ao universo futebolístico. O fanatismo junta-se à lista. Nestes moldes, como poderá o futebol tornar-se um fator de união entre as pessoas?
Têm de se fazer esforços para mudar este tipo de tendências. A beleza do futebol é realmente a união, estando-lhe inerente os direitos humanos. Nesta modalidade não pode haver barreiras ao nível do género, religião, poder económico ou político. Ninguém pode limitar o acesso a quem ambiciona entrosar-se no mundo do futebol. Futebol é sobre respeito e amor.
Reservou uns dias para visitar Portugal. Veio em nome do seu projeto?
Sim. Já temos o apoio de mais de 80 países e esperamos que Portugal se torne um deles. A dada altura terei de me encontrar, inclusive, com o Presidente da República e discutir a forma como Portugal se poderá envolver no projeto. O futebol está verdadeiramente na alma do povo português, faz parte da sua identidade.
E talvez de terras lusas saiam ideias brilhantes para outros projetos...
Devo dizer que sim. Ora, na minha família sempre houve contacto com o mundo da arte. Tive, ao longo do tempo, a oportunidade de admirar as obras dos maiores artistas do século passado, tal como Dali, Picasso e Magritte, e até mesmo o atual Jeff Koons e Nicolas de Staël. Todos eles se inspiraram no mundo do futebol e eu comecei a perceber a importância dessa simbologia. Neste seguimento, e porque um artista é um mensageiro da paz e a arte é património, estou a envolver-me num projeto, juntamente com um amigo, que visa refletir o talento de um artista português numa edição especial. A ideia é esboçar uma obra de arte ímpar, fazendo uma edição especial de cem bolas para venda. Esta ambição apoiará a ação «Uma Criança, Um Sorriso», através do montante angariado. Com o apoio dos artistas podemos ajudar as crianças a realizar os seus sonhos...
Como define a Vanouska de hoje?
É uma rapariga simples, que pensa com o coração, para um mundo melhor.
A verdade é que a mulher se insere no mundo dos homens. Mesmo que os políticos o neguem, continuamos a estar no mundo masculino. Penso que cabe às mulheres mostrar que podem chegar a esse nível, mas, claro, o compromisso tem de partir dos homens, que têm de dar a mão à figura feminina. Falo não só a nível institucional, mas também em campo. Além disso, as mulheres trazem um espírito diferente ao universo futebolístico, repleto de energia feminina e glamour.
Desigualdade de género, racismo e leis que impedem pessoas trans de praticar a modalidade têm sido críticas direcionadas ao universo futebolístico. O fanatismo junta-se à lista. Nestes moldes, como poderá o futebol tornar-se um fator de união entre as pessoas?
Têm de se fazer esforços para mudar este tipo de tendências. A beleza do futebol é realmente a união, estando-lhe inerente os direitos humanos. Nesta modalidade não pode haver barreiras ao nível do género, religião, poder económico ou político. Ninguém pode limitar o acesso a quem ambiciona entrosar-se no mundo do futebol. Futebol é sobre respeito e amor.
Reservou uns dias para visitar Portugal. Veio em nome do seu projeto?
Sim. Já temos o apoio de mais de 80 países e esperamos que Portugal se torne um deles. A dada altura terei de me encontrar, inclusive, com o Presidente da República e discutir a forma como Portugal se poderá envolver no projeto. O futebol está verdadeiramente na alma do povo português, faz parte da sua identidade.
E talvez de terras lusas saiam ideias brilhantes para outros projetos...
Devo dizer que sim. Ora, na minha família sempre houve contacto com o mundo da arte. Tive, ao longo do tempo, a oportunidade de admirar as obras dos maiores artistas do século passado, tal como Dali, Picasso e Magritte, e até mesmo o atual Jeff Koons e Nicolas de Staël. Todos eles se inspiraram no mundo do futebol e eu comecei a perceber a importância dessa simbologia. Neste seguimento, e porque um artista é um mensageiro da paz e a arte é património, estou a envolver-me num projeto, juntamente com um amigo, que visa refletir o talento de um artista português numa edição especial. A ideia é esboçar uma obra de arte ímpar, fazendo uma edição especial de cem bolas para venda. Esta ambição apoiará a ação «Uma Criança, Um Sorriso», através do montante angariado. Com o apoio dos artistas podemos ajudar as crianças a realizar os seus sonhos...
Como define a Vanouska de hoje?
É uma rapariga simples, que pensa com o coração, para um mundo melhor.