À medida que o tempo
vai passando, com ele chegam-nos as histórias dos lugares, dos monumentos, das
pessoas, de tudo aquilo que, de algum jeito, foi marcando os ponteiros da
história da humanidade. Desta vez, é da história do edifício sede da BMW, em
Munique, que vos vamos falar. De espírito inovador, curvas bem definidas e uma
vista deslumbrante sobre a cidade, à medida que os anos foram avançando, o
prédio manteve a beleza arquitetónica de sempre. Recentemente, completou o seu 50.º
aniversário. E a V&G foi celebrar este marco com a equipa
BMW, no passado 21 e 22 de julho. Parabéns por este feito.
50 Anos da sede BMW
A marcar o horizonte de Munique
São meio século de
histórias que percorrem os corredores desta casa BMW, pois, muitas delas,
habitam no edifício desde a sua criação. Mas, mais do que história, se olharmos
para trás, vamos perceber como surgiu o edifício sede da BMW e o que ele passou
a representar para o país. Não há quem possa ficar indiferente a este projeto,
um imóvel de aspeto cilíndrico, onde os escritórios amplos e iluminados, com
sua forma oval, dão abertura às vistas sobre a cidade, que se prolongam em forma
de círculo. Fica no norte da cidade, perto do
Estádio Olímpico, e atrás dele só mesmo as montanhas encantadoras para servir como
pano de fundo.
A chamada «Hochhouse» (como todos a conhecem) teve um
papel fundamental na história da marca BMW. Foi no final da década de 1960, uma
época de grande sucesso para a BMW, que se expandiu o negócio e se abriram
novos horizontes. Oito anos depois, estava nas mãos de arquitetos a
apresentação daquilo que seria o espaço de escritórios da marca. Com várias
visões sobre o que poderia ser o edifício «Hochhouse», foi conhecido o vencedor
do projeto que se tornaria um ícone internacional, falamos do austríaco Karl Schwanzer. O arquiteto de Viena que idealizou e
concretizou algo revolucionário. São 22 andares de escritórios, salas de
reuniões e um porão com 99,50 metros de altura, centrado nos quatro elementos
principais de forma cilíndrica. Schwanzer inspirara-se na linguagem
arquitetónica do arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, dando relevância à
necessidade de espaços de escritório, com design moderno, e existência
de coworking entre os funcionários. E até na técnica construtiva Karl
foi ousado e irreverente. O edifício de quase 100 metros de altura foi
construído de cima para baixo, e não ao contrário, como é habitual, ou seja, os
pisos superiores foram construídos primeiro, digamos que «pendurados» na
construção do telhado de aço, tendo a torre central de concreto armado sido erguida
em primeiro lugar, isto enquanto os quatro elementos principais cilíndricos foram
ganhando forma no solo, e depois foram movidos hidraulicamente para cima e
concluídos em segmentos. Algo inédito nos anos 60. Mas que veio provar que o
pensamento futurista e inovador não está na época, mas no seu pensador e
criador. A construção do edifício teve início em 1968 e, quatro anos depois, quando
Munique recebeu pela primeira vez os Jogos Olímpicos, em 1972, o prédio ficou
concluído, tendo como data oficial de inauguração 18 de maio de 1973.
A década de 70 conduziu a mudanças nos paradigmas
culturais, sociais e financeiros, e a BMW também fez parte dessa transformação.
Sobe o mandato do CEO Eberhard von Kuenheim, a BMW deu passos enormes de forma
a preparar o negócio para o futuro e, por isso, a empresa continua a ser
sinónimo de sucesso, ao longo das décadas. Foi nessa altura que surgiu a linha
de modelos BMW: Séries 3, 5 e 7, um conceito muito à
frente do seu tempo. Talvez não o saibam, mas já nessa época a BMW havia
apresentado o primeiro veículo totalmente elétrico da empresa, o BMW 1602e,
movido a eletricidade através de baterias, (construído com base técnica em um BMW
1602 comum), claro que, para os tempos de hoje, ter só uma autonomia de 50
km e uma velocidade máxima de 50 km/h não nos preencheria de satisfação, mas a
verdade é que, à época, tratava-se de um feito inédito na história da marca.
Também de referir que mal a sede foi inaugurada, também o
novo Museu
BMW, ao lado da «Hochhouse», abriu portas. Um edifício também
ele incrível, onde se destacam inovações tecnológicas e de engenharia da marca.
Um dos mais visitados no país.
50 anos depois, o edifício que cruza a paisagem urbana com a dos Alpes contínua a marcar o horizonte de Munique como uma cidade de futuro. Moderno, arrojado e criativo, assim descreveríamos Karl Schwanzer, após termos assistido à longa-metragem He Flew Ahead – um retrato daquilo que foi a vida do arquiteto na década de 60, altura da construção da «Hochhouse».
50 anos depois, o edifício que cruza a paisagem urbana com a dos Alpes contínua a marcar o horizonte de Munique como uma cidade de futuro. Moderno, arrojado e criativo, assim descreveríamos Karl Schwanzer, após termos assistido à longa-metragem He Flew Ahead – um retrato daquilo que foi a vida do arquiteto na década de 60, altura da construção da «Hochhouse».
No filme, o ator Nicholas Ofczarek representa o papel do
arquiteto. Para os mais curiosos, fica a indicação de que a estreia do filme aponta
para outono de 2023. De lembrar também que Schwanzer faleceu em 1975, aos 57
anos. De forma a marcar este meio século de história, no Museu BMW estará
patente uma exposição alusiva ao 50.º aniversário, com entrada gratuita. De
forma mais sucinta, e tal como escutamos das palavras de Francis Kéré –
vencedor do prémio Pritzker de Arquitetura 2022 –, um dos oradores que
tivemos o privilégio de ouvir no evento de aniversário, «a luz do edifício é a
chave do projeto». Assim é a «Hochhouse».