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· Gourmet · · T. Joana Rebelo · F. Direitos Reservados

Casa d’Armas

Uma casa alimentada pela tradição 

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É na marginal de Viana do Castelo que se encontra o símbolo da restauração minhota, a Casa d’Armas. De frente para o rio Lima, o restaurante é uma referência na garrafeira de que dispõe e no atendimento que proporciona. De ambiente medieval, reúne um espaço acolhedor e tradicional, naquele que, em tempos, se apresentava como casa senhorial. Falamos, pois, de um local com mais de três séculos de história, no centro da cidade, onde a afamada carta gastronómica é sazonalmente enriquecida com diferentes propostas, todas elas tentadoras. Mas conheçamos mais. 
É a 27 de abril de 1987 que o restaurante abre portas, algo que o proprietário do espaço, Fernando Julião, recorda com entusiasmo: «O espaço foi inaugurado pelo primeiro-ministro da altura, Cavaco Silva. Comprei o espaço e vim para aqui, definitivamente. Já aqui estou há mais de 27 anos». O nome da casa foi sempre «Casa d’Armas», nome esse que a equipa decidiu preservar em virtude da presença de símbolos sugestivos, como os brasões. «Fazia todo o sentido manter o nome. Até porque a imagem estava criada», esclarece o dono, que, sem saber se venceria no universo da restauração, apostou numa casa de aparência rústica, cujos palatos mergulham numa culinária mediterrânea e cuja vitrine de vinhos apresenta peças bem raras. 

Uma referência na garrafeira de que dispõe e no atendimento que proporciona
Com viveiro próprio de marisco, inclusive, lagosta à disposição, a Casa d’Armas é uma experiência aprazível, desde a Açorda de Lavagante e Gambas ao Ternodó d’Armas. Outros sabores estão disponíveis no serviço à la carte, mas a alma do negócio tem formato de peixe e marisco. A aposta no que é fresco e a qualidade nunca é demais, com Fernando Julião a contar alguns detalhes: «Todos os pratos são idealizados por nós, alguns deles já fazemos há 35 anos, altura em que nos instalamos». E acrescenta: «Tudo foi idealizado desta forma, para condizer com o aspeto que a casa tem, meio rústico, e toda a decoração faz parte do conceito que os proprietários iniciais estabeleceram. Eu só dei continuidade, aplicando o cunho pessoal». 
Ainda que preservando o que à história pertence, o restaurante tem-se vindo a adaptar às necessidades do mercado atual, mantendo o que o torna icónico e criando o que a cozinha moderna vai exigindo. Nos bastidores da confeção de grandes pratos está a esposa de Julião, Nídia, que se esconde atrás das panelas por desejar permanecer discreta, na sua cozinha. 

Palatos que mergulham numa culinária mediterrânea
«Não gosta que lhe chamem chef», esclarece o restaurador. Já Fernando passou de mecânico de automóveis, especialista da Mercedes-Benz, a dono de um restaurante, tendo percorrido sítios que lhe fizeram ganhar outro traquejo, «eu só entrei para a hotelaria por acidente, porque não arranjava trabalho na minha área. Se não tivesse acontecido este acidente de percurso, se calhar hoje não estava aqui». Habituado a um ritmo frenético de trabalho, Julião garante dedicar grande parte do seu tempo ao negócio, dando por si a abandonar o restaurante sempre depois da meia-noite. A exigência é muita e as opções abundam na Casa d’Armas. As referências de vinho são mais de 400, além dos pratos incontáveis, das sobremesas deliciosas e do atendimento de sorriso no rosto, fatores esses decisivos, que fazem chegar, diariamente, clientes provenientes de Braga, Guimarães, Vigo e Baiona. «Se um cliente se desloca de propósito para ir a um restaurante, é porque alguma coisa o seduz», reflete Julião. 
Assim se traça um caminho de longos anos, sempre com o mesmo nível de qualidade e singularidade em mente. Nem sempre foi fácil e a pandemia exigiu jogo de cintura, mas «tudo vale a pena quando a alma não é pequena», como diria Fernando Pessoa.
Joana Rebelo
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