Chá Camélia

Uma história com um final feliz. Começou por ser um sonho. Uma ideia, talvez. Posteriormente, um desejo. Não tardou a ser posto em prática. Nina Gruntkowski e Dirk Niepoort, juntos, no amor e no trabalho, criaram, no Litoral de Portugal, em Vila do Conde, a Chá Camélia – um lugar onde o chá é tratado como arte. 

Cada planta precisa de cinco anos para crescer e dar a primeira colheita

Mas tudo começou há 10 anos, quando o casal plantou, num dos vasos da sua casa, no Porto, a primeira espécie de Camélia. Aí perceberam que o sonho se transformaria em realidade. Foi assim que, ao longo de cinco anos, com a ajuda de uma viveirista, foram aumentando a plantação, no terreno que pertencia à família de Dirk, e que hoje tem 12 mil plantas. Um campo repleto de flores Camélias. Tão amarelas e airosas. Uma flor pequena. Mas linda.
Na visita à propriedade sentimos a pureza desta planta. O cheiro. A sua beleza. E os sabores incríveis. Das sementes às estacas, conhecemos o processo de produção dos chás. Aqui trabalha-se com espírito biodinâmico – o Chá Camélia possui certificado biológico –, «no sentido em que no terreno não entram máquinas pesadas, tudo é limpo à mão», revela a mentora do projeto. Este é um projeto que necessita de muita paciência, dedicação e paixão. Cada planta precisa de cinco anos para crescer e dar a primeira colheita. E o próprio composto é produzido no terreno, a palha e as folhas formam o estrume biológico, que ao fim de um ano é aplicado organicamente nas plantas.
Demos um passeio pela plantação e conhecemos as árvores mais antigas e as mais recentes. Uma beleza intrínseca. E um cheiro incrível. Mas o mais irresistível é quando nos sentamos para provar os chás e nos apercebemos que das folhas da planta se pode preparar chás com cores: branco, amarelo e verde. É aqui que se entende que a produção do chá é bastante mais complexa do que possamos imaginar. E foi assim que Nina procurou ajuda, no início, e fez uma parceria com um casal do Sul do Japão, Haruyo e Shigeru Morimoti de Miyazaki, «ajudaram-nos no cultivo e depois aprendemos sobre a produção». Enquanto isso, em casa da Nina e do Dirk mudaram-se as plantas do jardim e passaram a ter 200 pés de Camélias. Coisa pouca! Quando viram que já não havia mais espaço por onde plantar mudaram para um terreno em Vila do Conde, onde o sonho levantou asas e hoje é o núcleo deste projeto. 

Um dos objetivos de Nina é abrir um estúdio de cerâmica no local, fazer a própria cerâmica e workshops com profissionais 

Estávamos em 2019 quando se deu a primeira colheita. «Folhas de chá na primavera, a colheita iniciou em fins de março, momento em que colhemos o rebento, as primeiras duas folhas muito finas e tenras», assegura Nina. E dessas folhas produziram chá verde, inspirado do Japão. «Trabalhamos com técnicas de produção japonesa, mas mais artesanal do que na maioria das produções no Japão, porque lá é mais mecanizado, aqui é mais manual», concluiu.  Mas a inspiração é de lá.
No mês seguinte, em maio, faz-se uma paragem. «Se chover em maio, o que normalmente acontece, em junho temos uma segunda colheita, a chamada colheita do verão.» A colheita da primavera dá origem ao Nosso Chá, a de verão ao Luso Chá, uma homenagem aos portugueses que foram os primeiros a trazer chá da Ásia para a Europa, e a colheita de outono, ao Colheita do Outono, que ficamos a conhecer na altura em que fomos visitar o local [novembro 2021]. «Apanhamos essas flores à mão e desidratamos, depois isto origina uma tisana, um hubert tea». Tudo o que é verdadeiramente chá verde, branco ou preto, «tem origem na folha da Camellia Sinensis – a planta do chá. Tudo o que deriva das flores e ervas aromáticas, que não tem cafeína, como é o caso da flor da Camellia Sinensis, são consideradas tisanas».
Os mais curiosos notem que, em termos de quantidades, a Chá Cámelia produz cerca de 12 quilos de flores secas, o que é muito se pensarmos que falamos de folhas, leves por sinal. Já no que toca a chás têm vindo a aumentar a quantidade, à medida que as próprias plantas também vão crescendo e dando mais fruto. «Em 2020, ano COVID-19, tivemos a colheita na primeira semana do confinamento, o que foi maravilhoso para aliviar a cabeça, e conseguimos quase 50 Kg de chá e este ano 2021 conseguimos quase 85 Kg.» 

Exportam para os Estados Unidos, Macau, Hong Kong

Enquanto caminhávamos por entre as ramadas, Nina ia referindo que o objetivo é criar um chá com um perfil único, de muito boa qualidade. E de facto quando se trata de uma agricultura sã e natural, e respeitando a natureza, o produto revela-se extraordinário. «Os chás que fazemos têm um toquezinho marítimo, uma doçura diferente dos outros chás, e uma frescura do verde». É nesta filosofia que a Nina se baseia. E obviamente espera um aumento na quantidade, talvez um dia chegar, no melhor dos casos, «aos 200 Kg».
Claro que de ano para ano, e em função do clima, as colheitas podem sofrer alterações. E sabem como são feitas estas colheitas? Para as colheitas das folhas não aceitam voluntários (o que habitualmente acontece nas restantes colheitas), por ser um trabalho mais rigoroso, e por ser necessário saber fazê-lo, caso contrário, podem danificar a planta. Só os da ‘casa’ o sabem fazer. Ao mesmo tempo, Erika Kobayashi do Brasil colabora com a Nina, desde 2019, dando auxílio na colheita e fazendo workshops de chá. É através das redes sociais, newsletter e email que a Nina comunica as datas e que os voluntários se inscrevem para as colheitas, o que normalmente acontece em outubro e novembro, às sextas-feiras, entre as 10:00 horas e as 12:00 horas, contando sempre que no final há uma degustação de flor de chá, e uma pequena prenda para levarem para casa. 

No site estão disponíveis mais de 50 variedades de chás

Como é que decorre todo o processo? Simples: primeiro colhem-se as flores, depois estendem-se sobre os tabuleiros, enquanto acontece uma secagem ao ar livre e, por último, vão para o desidratador, durante quatro horas. Ficam secas. Além da flor, da folha, também as sementes são aproveitadas. Por exemplo, vão colocando as sementes em vasos e fazem criação própria da planta, que depois vendem, seja através do site, ou diretamente no local. Além disto, também encontram online serviço de loiça (bule e taças) com design adequado para se servir e sentir o chá.
Mas o mais bonito desta flor fresca, ainda que seca, dá-se quando a colocamos em água quente e ela se abre. Fica tão amarela. Linda. E um aroma paira no ar. Maravilhoso.