À
mesa conversamos. Nós e o José Miguel. Enólogo e proprietário da Quinta do
Cabeço, em Tabuaço, Douro. E foi com a sublime vista para as vinhas que fomos
saboreando as iguarias que, gentilmente, a Raquel – esposa do Miguel – nos
serviu, enquanto degustávamos um magnífico tinto – Oboé – produzido na
propriedade. Mas antes de darmos a conhecer a história da família ‘Oboé’ – assim
lhe quisemos atribuir alcunha –, vamos à descoberta dos néctares da casa e percorrer
os caminhos da quinta. Na Quinta do Cabeço as castas são: a Touriga Nacional; a Touriga Franca – casta maioritária, que representa cerca de 35% da
produção e dá vinhos com perfil muito fresco, elegância, complexidade e volume;
a Tinta Roriz e a Tinta Barroca (castas minoritárias da
quinta). Estas são as quatro principais castas da propriedade. Já nos vinhos brancos
destacam-se a Malvasia, a Rabigato e a Viosinho mas, tem, ainda, um pouco de Fernão Pires. Como vinho topo
distingue-se o Oboé Som de Barrica
Tinto. «É o nosso recente bebé, que nós queremos que
seja grande», reconhece o José Miguel. Os atuais blends permitem-lhes ter uma gama de produtos consistentes,
diversificada e distinta. E, curiosos, perguntámos ao José Miguel: «Porque atribuíram
nomes de instrumentos musicais aos vossos vinhos?». Respondeu: «temos um fagote, que está ali dentro (na sala da
casa), é muito antigo e já pertence à família da Raquel há umas três ou quatro
gerações. Como o fagote foi sempre uma
presença na casa da mãe, e dos avós, e porque achamos que o vinho é música,
está muito bem associado. O facto de os instrumentos não terem tradução também
ajudou na escolha».
Os vinhos premium da Quinta do Cabeço encontram-se no mercado entre os 5€ e os 70€, nos tintos, e entre os 5€ e os 37€, nos brancos.
E,
agora, contando a história da família ‘Oboé’. A história do José Miguel. Tudo
começou há alguns anos, quando ele concluiu o curso (no ano 1993). Começou por
trabalhar na Symington – fez lá o estágio curricular. Mais tarde, foi convidado
a fazer parte da equipa da Quinta do Crasto. Depois, em 2001, lançou-se por
conta e risco no mercado dos vinhos. Iniciou o seu projeto. Criou a empresa.
Em
2007, deu mais um passo. Adquiriu as atuais instalações. Então surge a Quinta
do Cabeço. E, mais tarde,
constrói um centro de vinificação e estágio de elevada qualidade, apetrechado
com maquinaria de boa qualidade tornando possível aumentar a produção de vinho
e produzir néctares com uma sonoridade muito boa. E a principal missão é ouvir
a vibrante região do Douro, criando vinhos peculiares e diferentes, que se
pautem pela riqueza de aromas e sabores. Tal como os instrumentos que lhes dão
os nomes, pretendendo que cada nota de cada casta seja única e percetível do
ritmo complexo do terroir de
excelência da Quinta, respeitando o seu perfil original e não exigindo mais do
que aquilo que a Natureza se dispõe a oferecer.
José Miguel e Raquel gostavam que um dia um
dos seus filhos, João Miguel ou Francisca, desse continuidade ao negócio, mas,
acima de tudo, querem que eles sigam uma profissão que lhes dê alegrias, com a
qual se identifiquem, e que exerçam a atividade com a máxima paixão.
«Num
negócio familiar de vinho, se não existir paixão as coisas não funcionam. Existem muitas variáveis
durante a produção, como o carinho e a atenção, assim como o know-how, que são muito importantes»,
revela José Miguel. Foi assim que terminámos a nossa conversa. Estávamos a uns
375 m de altitude a apreciar os vales das serras e a brindar com o Oboé Superior de 2015, um vinho moderno.
Por isso, tal como na música, comecemos com a prova do Fagote e terminemos com o Oboé.