Afirma gostar muito de pessoas, tendo sido um dos motivos
que a levou a licenciar-se em educação, mas acaba por traçar um rumo diferente
para a sua vida...
Por gostar tanto de pessoas e por acreditar que a
formação em tenra idade é determinante, escolhi estudar na área de educação
infantil. Na altura, estavam na balança três opções – educação infantil,
psicologia infantil ou educação especial – e acho que qualquer uma delas me teria
preparado para o relacionamento com pessoas e para uma formação adequada. Terminado
o curso, decidi ajudar o meu marido no crescimento da empresa dos pais, à data
uma pequena loja de bebidas no Algarve, que é hoje uma das maiores empresas de
bebidas em Portugal. Mais recentemente, tenho vindo a formar-me na área das
artes, uma paixão que tenho.
Mais de três décadas depois, o negócio de família continua
a expandir-se de forma sustentada. Quais têm sido os maiores desafios e as
maiores conquistas ao longo desta jornada?
Os maiores desafios são as pessoas, a forma como conseguimos
que elas sintam a mesma motivação e comprometimento, que se fidelizem e que
sejam parte ativa do crescimento das empresas. As conquistas são imensas,
construímos empresas sólidas e prósperas, reconhecidas e sustentáveis, e uma
família linda que adoraríamos que seguisse o legado. Por isso, trabalhamos com
enorme foco na consistência e solidez das mesmas.
O que é que marca mais a experiência do hóspede quando
entra em contacto, pela primeira vez, com a Herdade da Malhadinha Nova?
O que marca mais é o espaço e a natureza única e
preservada, hoje com 610 hectares que caminham a par e passo com a sustentabilidade.
O projeto da Herdade da Malhadinha Nova passa pelo investimento e dedicação nas
áreas que a compõem – económica, ambiental e social – e pela preservação de um
ecossistema perfeito constituído por montado de azinho, olivais tradicionais,
searas de trigo, aveia e pradarias naturais. Passa pela recuperação das
edificações existentes com um enorme respeito pela arquitetura tradicional; pela
plantação da vinha; pelas espécies animais autóctones; pela vaca alentejana
certificada; pela ovelha merina branca e preta; pelo porco preto e o cavalo de
raça puro sangue lusitano, todos com denominação de origem protegida. Hoje, a
produção biológica é autossuficiente, pelo que temos o nosso vinho, azeite, mel,
cereais variados, vaca, ovelha e porco preto certificados. As frutas e
hortícolas, que são servidas no restaurante, caminham também para a autossuficiência.
Para além de todos estes melhoramentos ao longo de 25 anos,
a Malhadinha insere-se num espaço protegido pela Rede Natura 2000 e é por isso considerada
uma Reserva Agrícola Nacional (RAN), uma Reserva Ecológica Nacional (REN) e uma
reserva local, pertencente à Zona de Preservação Especial de Castro Verde (ZPE),
que garante a conservação das espécies de aves e dos seus habitats. É, de facto, o ecossistema perfeito e equilibrado que
mais impressiona quem nos visita.
Adega, hotel, agropecuária e produção agrícola são áreas
que fazem o quotidiano da herdade. É complexo gerir um negócio desta magnitude?
Sim, é complexo. São negócios muito diferentes dentro do
universo Malhadinha e todos eles com um enorme foco na máxima qualidade, mas
como somos todos apaixonados por cada um deles torna-se mais simples.
Como é que se arrecada mão de obra numa aldeia com 500
habitantes no Baixo Alentejo?
Cuidar e motivar mais de cerca de cem colaboradores é um
desafio, mas, da mesma forma que cuidamos dos nossos clientes, cuidamos também
das nossas equipas. Esse é o segredo: cuidar…
Quais são os próximos passos a dar na área do vinho, com
a Garrafeira Soares?
Em 2021, adquirimos uma propriedade na Serra de São
Mamede (Portalegre) e os vinhos aí produzidos já se encontram no mercado. Como
referi, a nossa estratégia atual passa pela consistência e evolução da
organização. Queremos as nossas empresas sólidas e saudáveis, com raízes
profundas que lhes permitam maior longevidade, sem esquecer a aposta na
inovação, que também é uma prioridade.
«Vejo-me a passar o legado para as novas gerações»