Desde quando se começou
a interessar pela nutrição?
Foi
quase uma casualidade. Apesar de boa aluna, fazia parte daquele conjunto de
jovens que não sabe o que quer em termos profissionais. Por casualidade,
encontrei uma amiga que me disse que estava em Nutrição e que me falou com tal
entusiasmo do curso que eu não tive dúvidas nenhumas.
Como tem sido a sua experiência
enquanto Bastonária da Ordem dos Nutricionistas?
Não
é simples, é muito trabalhoso, exige muita disciplina, muita vontade de o fazer
e exige, acima de tudo, que se consiga perspetivar uma profissão no presente e
projetá-la no futuro. Desde o início da minha atividade profissional, pensei
que era necessário uma estrutura que salvaguardasse a profissão, que a
projetasse e, por outro lado, que acabasse por defender os indivíduos que
procuram os nutricionistas, que é o que a Ordem faz. Tinha eu vinte e poucos
anos quando decidi concorrer à presidência da então Associação Portuguesa dos
Nutricionistas, com o objetivo de trabalhar para a criação da Ordem e projetar
a profissão. Fizemos um trabalho interessante e conseguimos pôr a nutrição, a
alimentação e os nutricionistas na ordem do dia.
«HÁ MUITAS FORMAS DE COMER BEM, MAS NÓS TEMOS UMA QUE FAZ PARTE DA NOSSA TRADIÇÃO: A DIETA MEDITERRÂNICA»
O reduzido número de
nutricionistas nos cuidados de saúde primários e a sua ausência nas escolas têm
sido duas das suas lutas. O Ministério da Saúde e o da Educação têm dado
abertura para resolver estas questões?
Há
alguns locais de excelência para a presença dos nutricionistas: nos cuidados de
saúde primários, que é onde se previne o aparecimento da doença e se promove a
saúde, mas também nas escolas, que é onde as nossas crianças estão grande parte
do dia e fazem quase todas as refeições. Se tivermos uma escola com
nutricionistas que permitam que o ambiente alimentar seja salutogénico e que
promovam a educação alimentar, as crianças e jovens terão mais literacia
alimentar e serão capazes de fazer boas escolhas. ‘Nas escolas’, temos dois
nutricionistas: um nos serviços da Direção Geral da Educação e outro na Direção
Geral dos Estabelecimentos Escolares. Nem vou adjetivar o que é que eu acho em
relação a isto. A Ordem apresentou uma proposta ao Ministério da Educação, com
o nosso olhar sobre aquilo que é a alimentação escolar. ‘Está em cima da mesa’.
Em relação ao Ministério da Saúde, nos Centros de Saúde, há pouco mais de cem
nutricionistas. A Ordem aconselha, no mínimo, um nutricionista para cada 20.000
habitantes. Deveríamos ter 500 em todo o país. Este ano vimos abrir um
procedimento concursal para o recrutamento de 40 nutricionistas. É uma boa
notícia! Nunca houve um concurso com tantos lugares de uma só vez. Esperemos
que isto signifique que em anos subsequentes possa haver outros concursos.
Lançou o livro Comer Bem é o Melhor Remédio. Com que
objetivo?
Que
fosse um instrumento de leitura fácil e que fosse possível transformar a
linguagem científica, que é pesada, numa linguagem corrente, apelativa, e que
quem o lesse pudesse usufruir de mensagens que fossem fáceis de
operacionalizar. Também tem algumas receitas, mas foi um desafio da editora.
Assim sendo, convidei o Chef Hélio
Loureiro, porque partilho com ele muitas ideias e muitas maneiras de estar à
volta da mesa.