Gosta
do que faz. E fá-lo por paixão. O seu sorriso cativa. A sua conversa marca. A
sua história vive de tantas outras. Mónica Ferro é a diretora do Escritório de
Representação do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), em Londres, com
quem estivemos à conversa. O tempo voou. E tanto mais teria ela para dizer, mas
as páginas fizeram-se poucas. Mudar a vida das meninas, das raparigas e das mulheres
é um dos seus grandes focos. Reino Unido, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália
são os países onde representa a organização (que existe há 50 anos e tem mais
de 150 escritórios pelo mundo). Temas como a mutilação genital feminina, a
eliminação das violências, o acesso à saúde sexual e reprodutiva e o
planeamento familiar são assuntos que preenchem o seu dia a dia. Assim como os Direitos
Humanos. Às mulheres, deixa esta mensagem: «Não desistam, persistam, mas
aliem-se a outras mulheres». Porque a verdade é que «ser mulher é tentar
abraçar o mundo todo ao mesmo tempo». Um bem-haja a cada mulher deste mundo!
Monica Ferro
«A sociedade ainda tem uma determinada expectativa sobre o que é ser mulher»
Ocupa
o cargo de diretora do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) há mais de seis
anos. Vive em Londres. Como tem percorrido este caminho, desde que assumiu
funções?
De forma muito feliz e realizada. Gosto muito do que faço. É um trabalho que tem tanto de interessante e de envolvente, como de frustrante. O meu trabalho é, essencialmente, garantir, sejam quais forem as conversas que estão a decorrer – primeiro em Genebra, nos ambientes multilaterais, no conselho dos Direitos Humanos, na Organização Mundial de Saúde –, que a igualdade de género e o investimento na saúde sexual e reprodutiva sejam sempre tidos como estruturantes. Isso é muito envolvente, porque o trabalho que estamos a fazer é um trabalho com muito impacto, que vai mudar a vida das pessoas e vai mudar, sobretudo, a vida das mulheres e das meninas. Esse é um dos nossos grandes focos. E é muito frustrante porque o trabalho nunca está feito – cada vez que conseguimos identificar um desafio, que está a correr bem, aparece-nos outro desafio. Portanto, é um trabalho nunca acabado. Mas também retiramos muita alegria, ao vermos coisas a acontecerem e ao sabermos que a vida de algumas pessoas é melhor porque as Nações Unidas existem e estão a chamar a atenção para estes problemas.
Com esta mudança para Londres o que é mudou na sua vida?
Tanta coisa. Londres é uma cidade fabulosa. Eu mudei de localização e mudei ligeiramente de funções. Trabalho para a mesma organização, mas, agora, o meu trabalho implica um contacto muito mais próximo com o Reino Unido, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália. Represento o Fundo nestes países, garantindo que os governos tenham noção da importância de investir nas áreas em que trabalhamos. Trago as histórias das vidas em que temos um grande impacto, sirvo como uma espécie de ligação entre os sítios onde trabalhamos e estes países, para que se perceba a importância destes investimentos para garantir que as meninas vão às escolas, não se casem antes de atingirem a maioridade, fiquem livres de mutilação genital feminina e tenham acesso ao planeamento familiar. Foi uma mudança de local e uma mudança de funções, mas é o caminho de quem trabalha para uma organização internacional.
E a família acompanha-a?
A escolha de Londres teve também muito que ver com o facto de a minha filha mais velha ter entrado para a universidade em Londres. Foi uma escolha de carreira, porque, ao fim de seis anos em Genebra, tinha de ir para outro lugar, e Londres foi a escolha da organização. Candidatei-me e fiquei. Assim consegui manter as duas filhas comigo, a mais velha e a mais pequena, e combinar a minha vida profissional com a familiar. É caso para dizer: «A mãe foi atrás do pássaro» (risos). Há uma narrativa, que não ajuda ninguém, que é a ideia de que nós podemos ser felizes apenas com uma parte das nossas vidas. Não é verdade. Nós somos felizes quando conseguimos conciliar o máximo, aquilo que são as nossas opções de carreira com aquilo que é estruturante, que é a nossa família. E o ser mãe é uma parte absolutamente fundamental da minha vida. Portanto, poder ser mãe num sítio onde gosto de trabalhar é um privilégio.
«Quando dizemos que o acesso à saúde sexual e reprodutiva salva-vidas, estamos a pensar nas 800 mulheres que morrer todos os dias, por causas relacionadas com partos, gravidezes ou pós-parto»
O que faz exatamente no UNFPA?
O UNFPA é uma organização com mais de 50 anos. Somos a agência da saúde sexual e reprodutiva das Nações Unidas. Fazemos tudo o que tem que ver com identificar quais são os grupos populacionais em situação de maior vulnerabilidade e tentamos remover os obstáculos que estão entre essas pessoas e a realização dos seus direitos e das suas escolhas. Trabalhamos para que as pessoas possam ter uma vida com dignidade, uma vida com autonomia, na área muito concreta da igualdade de género, da eliminação das violências e do acesso à saúde sexual e reprodutiva. Trabalhamos no sentido de garantir o acesso ao planeamento familiar até eliminar todas as violências contra as mulheres e meninas, como por exemplo a mutilação genital feminina, os casamentos infantis e outras práticas tradicionais nefastas. É um trabalho de Direitos Humanos. Começou há 50 anos, como um trabalho de números humanos, ou seja, fomos criados para dar dados demográficos aos estados. Não há nenhum Estado que consiga planear o seu desenvolvimento socioeconómico sem saber o que é que vai acontecer à sua população –
quantas pessoas vão nascer, quantas vão morrer, quantas se vão movimentar no país. Nós damos dados aos países. Hoje, trabalhamos reconhecendo que esses dados são pessoas com direitos.
Houve algum momento em que assistiu a algo que a marcasse, neste seu percurso na organização?
Tantos. Eu candidatei-me a este lugar. Estava em Portugal, numa vida muito feliz, muito realizada, fiz múltiplas coisas das quais tirei uma grande satisfação profissional e pessoal, sempre tive causas, mas a verdade é que, quando me candidatei para trabalhar no Fundo de População foi porque achei que era aquele mandato, aquela área de trabalho que eu queria, por causas das histórias, das vidas. Foi, por exemplo, por poder visitar um centro para meninas no Quénia e perceber porque é que aquele centro existe. Saber que aquelas meninas, no fim das aulas, podem ir para lá fazer os trabalhos de casa, têm acesso a formação, têm acesso a produtos que nós temos como garantidos. Foi por conhecer uma menina com 16 anos, que tem um filho de um ano e que diz que só pode continuar na escola porque tem aquele centro para deixar o seu filho Gabriel enquanto vai às aulas. Menina essa que ficou grávida durante a altura do COVID e que a mãe pôs fora de casa, mas que continua a dizer: «Tenho 16 anos, tenho um filho e ainda tenho sonhos». Quer ser jornalista.
Foi por ouvir estas histórias que marcam. Por ouvir a história da menina que não foi submetida à prática da mutilação genital feminina, porque há um centro que faz um trabalho com as comunidades, alertando para os problemas associados, alertando que é uma violação dos Direitos Humanos, que pode provocar problemas de saúde mental e saúde física e, às vezes, até a morte. Como esse trabalho foi feito, aquela menina não foi submetida à prática e, atualmente, é uma das grandes ativistas que nós temos. Ou por ouvir as histórias das meninas que se conseguiram salvar do casamento infantil.
Quando ouvimos todas estas histórias sentimos alento para os dias que nos correm menos bem. Mudamos vidas. Confesso que, hoje, custa-me ouvir determinados discursos que quase dão como garantido tudo o que foi conseguido. Vivemos numa altura em que os direitos das mulheres foram sendo consolidados e nós temos uma linguagem muito progressista, sabemos o que é preciso ser feito, sabemos que tipo de investimentos é que têm de ser feitos, e preocupa-me que não haja um sinal de alerta perante determinados discursos que proclamam que as mulheres têm é de estar em casa, ter filhos. Eu acho muito bem que as mulheres estejam em casa a ter filhos, se essa for a opção delas, agora, preocupa-me, de facto, que nós ainda possamos ter essa mentalidade. Queremos ter um mundo onde tenhamos mais opções. Os direitos são opções. O facto de eu poder fazer alguma coisa não significa que tenha de a fazer, mas que posso, se quiser.
O UNFPA aborda temas fortes. De que forma se consegue ‘educar’ e sensibilizar os cidadãos do mundo a esse respeito? E em que panorama se encontra Portugal nestas temáticas?
A resposta tem de ser dada com muitos dados. Tudo o que fazemos é sustentado com provas científicas, com impacto de projetos. Quando dizemos que o acesso à saúde sexual e reprodutiva salva vidas, estamos a pensar nas 800 mulheres que morrem todos os dias, por causas relacionadas com partos, gravidezes ou pós-partos. E que são causas que são preveníveis. Temos a prova de que investir no acesso à saúde sexual e reprodutiva, com consultas pré-natais, partos assistidos, disponibilidade de medicamentes para parar hemorragias, salva vidas. Essa é uma das nossas formas de atuação – dados. Nós não temos opiniões, nós temos os resultados de programas aplicados no terreno. Temos 150 escritórios, 130 em países onde executamos programas. As pessoas ficam muito preocupadas porque demora muito tempo a alterar normas, mas sabemos que são as normas sociais que estabelecem a pertença a grupos. A coisa boa é que elas são construídas e podem ser desconstruídas. Veja, por exemplo, o que é que as mulheres podiam fazer há 50 anos. Hoje, podemos fazer muito mais. Temos uma liberdade que foi conquistada, muito duramente mas que resulta de uma alteração do que são os papéis sociais. Há 50 anos, as mulheres não tinham o mesmo grau de autonomia, e não tinham porque a sociedade não a reconhecia. Foi preciso ir lutando para podermos ter uma carreira, ter família (se for a opção), podermos exercer os nossos direitos. Esse processo de construção de uma identidade de género, mais independente, é um processo que demorou. Décadas. E que em muitos países está, ainda, a decorrer e, em alguns países, está a ser ameaçado. É importante que tenhamos noção de que estas conquistas não estão escritas numa pedra. Acho que Portugal está, no plano legislativo, muito avançado. Acho que é dos países com melhores leis, em matéria de saúde sexual e reprodutiva, em matéria dos direitos das mulheres. Acho que, em matéria da aplicação da lei, há um caminho a fazer, um caminho muito positivo. Enquanto observadora atenta da realidade nacional, até pelos cargos que já ocupei em Portugal, acho que as conquistas estão a ir no sentido correto. Preocupa-me ainda a violência de género, algum acesso à saúde sexual e reprodutiva. Se bem que estamos a falar de um país desenvolvido. Mas não podemos dar nada por adquirido. O investimento e a monotorização têm de ser constantes.
Ser mulher alguma vez a condicionou no mundo profissional?
A pergunta que obriga a uma reflexão muito profunda. O ser mulher traz uma série de imagens preconcebidas, que não ajudam na construção de uma carreira. A sociedade ainda tem uma determinada expectativa do que é ser mulher. E essa expectativa nem sempre é empoderadora. É esperado que sejamos profissionais, mães, donas de casa e que nos apresentemos publicamente de uma certa forma. Esse peso excessivo das expectativas, aliado a uma série de preconceitos, mais ou menos explícitos, criam uma grande pressão sobre nós. Sei que podemos combater essas expectativas, mas o peso da consciência dessa expectativa e o peso do combate criam, sobre as mulheres, um fardo que não é justo. Uma mulher, para conseguir ser bem-sucedida profissionalmente, tem de trabalhar mais do que os homens, porque tem uma série de preconceitos para vencer. Não se pode normalizar isto, ou seja, não se pode aceitar que seja assim. Qualquer sociedade tem de mudar, para poder permitir a homens e mulheres que sejam o que entenderem, sem este peso excessivo das expectativas.
Quão desafiante é conciliar tantos papéis numa mulher só? Como é que o tempo ganha tempo para todos os afazeres da vida.
Com uma definição de prioridades muito rigorosa, com uma noção muito clara de que não há supermulheres. Nesses múltiplos papéis, há sempre algo que fica menos bem feito. No meu caso, tenho pouco tempo para mim. E, quem me conhece, sabe que há sempre um momento em que eu digo «estou cansada», porque sou mãe e sou profissional, e estas são as duas dimensões mais importantes da minha vida. Não está certo, porque eu também tenho de existir enquanto pessoa. A verdade é que essa dimensão de mim é que fica para trás. Mas é uma escolha. É uma escolha eu achar que ser mãe me define, estruturalmente, e que o meu trabalho me define enquanto pessoa, enquanto membro de um coletivo. Tenho tido muita sorte na minha vida, tenho sido tão privilegiada com as oportunidades que tive, que sinto que é a minha obrigação retribuir. E retribuo trabalhando. Estou sempre bem disposta. Arranjo sempre uma energia qualquer. E é porque estou profundamente grata pelas oportunidades que tive. A minha vida tem sido uma sucessão de oportunidades que me têm sido postas à frente. Tenho trabalhado para elas, mas acho que há aqui um elemento de estar no sítio certo, na hora certa. E de ter as pessoas de quem gosto ao meu lado. Eu tive o privilégio de estudar numa escola pública de qualidade, de ter um serviço nacional de saúde de grande qualidade, que me permitiu começar em Valbom, Gondomar, numa família muito modesta, e conseguir fazer uma carreira internacional. Um caminho que foi o elevador social. Se o nosso Estado não tivesse investido nas boas escolas em que eu andei, se o elevador social não tivesse funcionado, a minha vida não seria a mesma. Eu não só tenho de estar profundamente grata, como tenho de retribuir.
É-lhe permitido falhar, enquanto mulher?
Não (risos). Em teoria, sim. Mas a verdade é que nós colocamos (que pergunta tão gira) a nós mesmas bitolas de sucesso, que são quase inatingíveis. Não só não podemos falhar, como não podemos ficar frustradas, quando não atingimos o que queremos. Diria que estou rodeada de família e amigos que me têm amparado e que me têm sustentado em muitos momentos em que não consigo o que quero, em que não atinjo os meus objetivos.
«Uma mulher para conseguir ser bem-sucedida profissionalmente tem de trabalhar mais do que os homens, porque tem uma série de preconceitos para vencer»
De forma muito feliz e realizada. Gosto muito do que faço. É um trabalho que tem tanto de interessante e de envolvente, como de frustrante. O meu trabalho é, essencialmente, garantir, sejam quais forem as conversas que estão a decorrer – primeiro em Genebra, nos ambientes multilaterais, no conselho dos Direitos Humanos, na Organização Mundial de Saúde –, que a igualdade de género e o investimento na saúde sexual e reprodutiva sejam sempre tidos como estruturantes. Isso é muito envolvente, porque o trabalho que estamos a fazer é um trabalho com muito impacto, que vai mudar a vida das pessoas e vai mudar, sobretudo, a vida das mulheres e das meninas. Esse é um dos nossos grandes focos. E é muito frustrante porque o trabalho nunca está feito – cada vez que conseguimos identificar um desafio, que está a correr bem, aparece-nos outro desafio. Portanto, é um trabalho nunca acabado. Mas também retiramos muita alegria, ao vermos coisas a acontecerem e ao sabermos que a vida de algumas pessoas é melhor porque as Nações Unidas existem e estão a chamar a atenção para estes problemas.
Com esta mudança para Londres o que é mudou na sua vida?
Tanta coisa. Londres é uma cidade fabulosa. Eu mudei de localização e mudei ligeiramente de funções. Trabalho para a mesma organização, mas, agora, o meu trabalho implica um contacto muito mais próximo com o Reino Unido, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália. Represento o Fundo nestes países, garantindo que os governos tenham noção da importância de investir nas áreas em que trabalhamos. Trago as histórias das vidas em que temos um grande impacto, sirvo como uma espécie de ligação entre os sítios onde trabalhamos e estes países, para que se perceba a importância destes investimentos para garantir que as meninas vão às escolas, não se casem antes de atingirem a maioridade, fiquem livres de mutilação genital feminina e tenham acesso ao planeamento familiar. Foi uma mudança de local e uma mudança de funções, mas é o caminho de quem trabalha para uma organização internacional.
E a família acompanha-a?
A escolha de Londres teve também muito que ver com o facto de a minha filha mais velha ter entrado para a universidade em Londres. Foi uma escolha de carreira, porque, ao fim de seis anos em Genebra, tinha de ir para outro lugar, e Londres foi a escolha da organização. Candidatei-me e fiquei. Assim consegui manter as duas filhas comigo, a mais velha e a mais pequena, e combinar a minha vida profissional com a familiar. É caso para dizer: «A mãe foi atrás do pássaro» (risos). Há uma narrativa, que não ajuda ninguém, que é a ideia de que nós podemos ser felizes apenas com uma parte das nossas vidas. Não é verdade. Nós somos felizes quando conseguimos conciliar o máximo, aquilo que são as nossas opções de carreira com aquilo que é estruturante, que é a nossa família. E o ser mãe é uma parte absolutamente fundamental da minha vida. Portanto, poder ser mãe num sítio onde gosto de trabalhar é um privilégio.
«Quando dizemos que o acesso à saúde sexual e reprodutiva salva-vidas, estamos a pensar nas 800 mulheres que morrer todos os dias, por causas relacionadas com partos, gravidezes ou pós-parto»
O que faz exatamente no UNFPA?
O UNFPA é uma organização com mais de 50 anos. Somos a agência da saúde sexual e reprodutiva das Nações Unidas. Fazemos tudo o que tem que ver com identificar quais são os grupos populacionais em situação de maior vulnerabilidade e tentamos remover os obstáculos que estão entre essas pessoas e a realização dos seus direitos e das suas escolhas. Trabalhamos para que as pessoas possam ter uma vida com dignidade, uma vida com autonomia, na área muito concreta da igualdade de género, da eliminação das violências e do acesso à saúde sexual e reprodutiva. Trabalhamos no sentido de garantir o acesso ao planeamento familiar até eliminar todas as violências contra as mulheres e meninas, como por exemplo a mutilação genital feminina, os casamentos infantis e outras práticas tradicionais nefastas. É um trabalho de Direitos Humanos. Começou há 50 anos, como um trabalho de números humanos, ou seja, fomos criados para dar dados demográficos aos estados. Não há nenhum Estado que consiga planear o seu desenvolvimento socioeconómico sem saber o que é que vai acontecer à sua população –
quantas pessoas vão nascer, quantas vão morrer, quantas se vão movimentar no país. Nós damos dados aos países. Hoje, trabalhamos reconhecendo que esses dados são pessoas com direitos.
Houve algum momento em que assistiu a algo que a marcasse, neste seu percurso na organização?
Tantos. Eu candidatei-me a este lugar. Estava em Portugal, numa vida muito feliz, muito realizada, fiz múltiplas coisas das quais tirei uma grande satisfação profissional e pessoal, sempre tive causas, mas a verdade é que, quando me candidatei para trabalhar no Fundo de População foi porque achei que era aquele mandato, aquela área de trabalho que eu queria, por causas das histórias, das vidas. Foi, por exemplo, por poder visitar um centro para meninas no Quénia e perceber porque é que aquele centro existe. Saber que aquelas meninas, no fim das aulas, podem ir para lá fazer os trabalhos de casa, têm acesso a formação, têm acesso a produtos que nós temos como garantidos. Foi por conhecer uma menina com 16 anos, que tem um filho de um ano e que diz que só pode continuar na escola porque tem aquele centro para deixar o seu filho Gabriel enquanto vai às aulas. Menina essa que ficou grávida durante a altura do COVID e que a mãe pôs fora de casa, mas que continua a dizer: «Tenho 16 anos, tenho um filho e ainda tenho sonhos». Quer ser jornalista.
Foi por ouvir estas histórias que marcam. Por ouvir a história da menina que não foi submetida à prática da mutilação genital feminina, porque há um centro que faz um trabalho com as comunidades, alertando para os problemas associados, alertando que é uma violação dos Direitos Humanos, que pode provocar problemas de saúde mental e saúde física e, às vezes, até a morte. Como esse trabalho foi feito, aquela menina não foi submetida à prática e, atualmente, é uma das grandes ativistas que nós temos. Ou por ouvir as histórias das meninas que se conseguiram salvar do casamento infantil.
Quando ouvimos todas estas histórias sentimos alento para os dias que nos correm menos bem. Mudamos vidas. Confesso que, hoje, custa-me ouvir determinados discursos que quase dão como garantido tudo o que foi conseguido. Vivemos numa altura em que os direitos das mulheres foram sendo consolidados e nós temos uma linguagem muito progressista, sabemos o que é preciso ser feito, sabemos que tipo de investimentos é que têm de ser feitos, e preocupa-me que não haja um sinal de alerta perante determinados discursos que proclamam que as mulheres têm é de estar em casa, ter filhos. Eu acho muito bem que as mulheres estejam em casa a ter filhos, se essa for a opção delas, agora, preocupa-me, de facto, que nós ainda possamos ter essa mentalidade. Queremos ter um mundo onde tenhamos mais opções. Os direitos são opções. O facto de eu poder fazer alguma coisa não significa que tenha de a fazer, mas que posso, se quiser.
O UNFPA aborda temas fortes. De que forma se consegue ‘educar’ e sensibilizar os cidadãos do mundo a esse respeito? E em que panorama se encontra Portugal nestas temáticas?
A resposta tem de ser dada com muitos dados. Tudo o que fazemos é sustentado com provas científicas, com impacto de projetos. Quando dizemos que o acesso à saúde sexual e reprodutiva salva vidas, estamos a pensar nas 800 mulheres que morrem todos os dias, por causas relacionadas com partos, gravidezes ou pós-partos. E que são causas que são preveníveis. Temos a prova de que investir no acesso à saúde sexual e reprodutiva, com consultas pré-natais, partos assistidos, disponibilidade de medicamentes para parar hemorragias, salva vidas. Essa é uma das nossas formas de atuação – dados. Nós não temos opiniões, nós temos os resultados de programas aplicados no terreno. Temos 150 escritórios, 130 em países onde executamos programas. As pessoas ficam muito preocupadas porque demora muito tempo a alterar normas, mas sabemos que são as normas sociais que estabelecem a pertença a grupos. A coisa boa é que elas são construídas e podem ser desconstruídas. Veja, por exemplo, o que é que as mulheres podiam fazer há 50 anos. Hoje, podemos fazer muito mais. Temos uma liberdade que foi conquistada, muito duramente mas que resulta de uma alteração do que são os papéis sociais. Há 50 anos, as mulheres não tinham o mesmo grau de autonomia, e não tinham porque a sociedade não a reconhecia. Foi preciso ir lutando para podermos ter uma carreira, ter família (se for a opção), podermos exercer os nossos direitos. Esse processo de construção de uma identidade de género, mais independente, é um processo que demorou. Décadas. E que em muitos países está, ainda, a decorrer e, em alguns países, está a ser ameaçado. É importante que tenhamos noção de que estas conquistas não estão escritas numa pedra. Acho que Portugal está, no plano legislativo, muito avançado. Acho que é dos países com melhores leis, em matéria de saúde sexual e reprodutiva, em matéria dos direitos das mulheres. Acho que, em matéria da aplicação da lei, há um caminho a fazer, um caminho muito positivo. Enquanto observadora atenta da realidade nacional, até pelos cargos que já ocupei em Portugal, acho que as conquistas estão a ir no sentido correto. Preocupa-me ainda a violência de género, algum acesso à saúde sexual e reprodutiva. Se bem que estamos a falar de um país desenvolvido. Mas não podemos dar nada por adquirido. O investimento e a monotorização têm de ser constantes.
Ser mulher alguma vez a condicionou no mundo profissional?
A pergunta que obriga a uma reflexão muito profunda. O ser mulher traz uma série de imagens preconcebidas, que não ajudam na construção de uma carreira. A sociedade ainda tem uma determinada expectativa do que é ser mulher. E essa expectativa nem sempre é empoderadora. É esperado que sejamos profissionais, mães, donas de casa e que nos apresentemos publicamente de uma certa forma. Esse peso excessivo das expectativas, aliado a uma série de preconceitos, mais ou menos explícitos, criam uma grande pressão sobre nós. Sei que podemos combater essas expectativas, mas o peso da consciência dessa expectativa e o peso do combate criam, sobre as mulheres, um fardo que não é justo. Uma mulher, para conseguir ser bem-sucedida profissionalmente, tem de trabalhar mais do que os homens, porque tem uma série de preconceitos para vencer. Não se pode normalizar isto, ou seja, não se pode aceitar que seja assim. Qualquer sociedade tem de mudar, para poder permitir a homens e mulheres que sejam o que entenderem, sem este peso excessivo das expectativas.
Quão desafiante é conciliar tantos papéis numa mulher só? Como é que o tempo ganha tempo para todos os afazeres da vida.
Com uma definição de prioridades muito rigorosa, com uma noção muito clara de que não há supermulheres. Nesses múltiplos papéis, há sempre algo que fica menos bem feito. No meu caso, tenho pouco tempo para mim. E, quem me conhece, sabe que há sempre um momento em que eu digo «estou cansada», porque sou mãe e sou profissional, e estas são as duas dimensões mais importantes da minha vida. Não está certo, porque eu também tenho de existir enquanto pessoa. A verdade é que essa dimensão de mim é que fica para trás. Mas é uma escolha. É uma escolha eu achar que ser mãe me define, estruturalmente, e que o meu trabalho me define enquanto pessoa, enquanto membro de um coletivo. Tenho tido muita sorte na minha vida, tenho sido tão privilegiada com as oportunidades que tive, que sinto que é a minha obrigação retribuir. E retribuo trabalhando. Estou sempre bem disposta. Arranjo sempre uma energia qualquer. E é porque estou profundamente grata pelas oportunidades que tive. A minha vida tem sido uma sucessão de oportunidades que me têm sido postas à frente. Tenho trabalhado para elas, mas acho que há aqui um elemento de estar no sítio certo, na hora certa. E de ter as pessoas de quem gosto ao meu lado. Eu tive o privilégio de estudar numa escola pública de qualidade, de ter um serviço nacional de saúde de grande qualidade, que me permitiu começar em Valbom, Gondomar, numa família muito modesta, e conseguir fazer uma carreira internacional. Um caminho que foi o elevador social. Se o nosso Estado não tivesse investido nas boas escolas em que eu andei, se o elevador social não tivesse funcionado, a minha vida não seria a mesma. Eu não só tenho de estar profundamente grata, como tenho de retribuir.
É-lhe permitido falhar, enquanto mulher?
Não (risos). Em teoria, sim. Mas a verdade é que nós colocamos (que pergunta tão gira) a nós mesmas bitolas de sucesso, que são quase inatingíveis. Não só não podemos falhar, como não podemos ficar frustradas, quando não atingimos o que queremos. Diria que estou rodeada de família e amigos que me têm amparado e que me têm sustentado em muitos momentos em que não consigo o que quero, em que não atinjo os meus objetivos.
«Uma mulher para conseguir ser bem-sucedida profissionalmente tem de trabalhar mais do que os homens, porque tem uma série de preconceitos para vencer»
Não
os vê como uma falha?
Não, não. Como dizia o Nelson Mandela, «eu nunca perco, eu ou consigo ou aprendo».
Dedicou mais de 20 anos à promoção da igualdade e dos Direitos Humanos. O que procurou mudar nesses anos?
Tentei, sempre que possível, falar sobre as questões que achava que limitavam a liberdade das pessoas. Para mim, os Direitos Humanos são um objetivo em si mesmo e são também o meio para a realização das pessoas. Na universidade, onde passei muitos anos da minha vida, sempre achei que era um privilégio estar a estudar os temas e depois poder partilhá-los com alunos e também poder ir trabalhando em organizações não governamentais. Fiz comentário televisivo e escrevi para jornais sobre estes temas, que achava que era importante denunciar. Passei 20 anos a tentar fazer isto, a denunciar, a falar, a tentar juntar pessoas que pudessem contribuir com pistas de ação. Foi sempre esse papel que procurei ter, nas universidades, nas organizações não governamentais, na televisão, no parlamento. Foi sempre a ideia de: vamos falar sobre os assuntos e reunir um grupo de pessoas que queira atuar sobre esses assuntos.
De todas as funções que ocupou (política, ensino, investigação), com qual se identifica mais e qual foi a mais desafiante?
Aquela com a qual me identifico mais é dar aulas – o poder estudar e, depois, partilhar e discutir as coisas que estudava com os alunos. É enriquecedor despertar em alguns deles o interesse pelos Direitos Humanos, os direitos das mulheres. O trabalho mais desafiante foi o parlamento. Nunca vou esquecer a primeira vez que me sentei no plenário. A primeira coisa que pensei foi: «Há milhares de pessoas que votaram para eu poder estar aqui». Mas, de repente, estou sentada na sala, olho em volta e sinto um frio no estômago, a responsabilidade, o peso da responsabilidade, e lembro-me de ter pensado: «Enquanto cá estiver vou fazer o melhor que puder». E fiz o melhor possível. Ser mulher pesou muito. Pensar que estava sentada no parlamento, caramba, o que foi preciso lutar. Espero que se houver meninas a ver pensem: «Olha, é possível!».
Sentiu-se pequenina?
Muito pequenina. Esmagada pela responsabilidade, não só pelo que representava estar ali, mas como pela responsabilidade que eu tinha do que vinha a seguir.
«As mulheres portuguesas estão muito educadas, estão muito sofisticadas, no tipo de exigências e de relação com a sociedade»
Para si, o que é ser mulher?
Ser mulher é tentar abraçar o mundo todo ao mesmo tempo. É tentar desempenhar múltiplos papéis, com uma visão do mundo muito inclusiva e tentando corrigir as assimetrias. Acho que isso resulta um bocadinho da nossa socialização. Nós (mulheres) somos muito educadas para cuidar dos outros, somos educadas para termos atenção aos detalhes.
Como é que se educa hoje uma criança para se tornar uma mulher?
Educa-se sendo muito intencional no que se faz, ou seja, a sociedade é profundamente patriarcal, as estruturas de poder ainda são feitas, consciente ou inconscientemente, para privilegiar o bem-estar e o sucesso dos homens. Portanto, educar uma menina para ser uma mulher (e eu tenho duas) é dar-lhes as ferramentas para poderem, primeiro, identificar quais são os obstáculos, e, segundo, superá-los. Criar meninas dizendo-lhes que o mundo já é igual para homens e mulheres não é prepará-las para o futuro. Portanto, é tudo muito intencional – os exemplos que damos, a linguagem que utilizamos –, de forma a prepará-las para o mundo que é delas mas que ainda tem de ser reivindicado. A igualdade ainda não é um dado adquirido, é um processo, e estamos no bom caminho. Gosto sempre de dizer isto: as minhas filhas têm um mundo à disposição delas muito diferente do meu, e mau er a que assim não fosse, mas é preciso educá-las para identificarem os obstáculos e mostrar-lhes como é que elas os vão superar.
Pelo que luta, hoje, a figura feminina?
Hoje luta pela igualdade de direitos, de participação política e de empoderamento económico. São estas as peças que faltam. Os dados dizem-nos que, ao ritmo que vamos, atualmente, vai demorar cerca de 300 anos para atingirmos a igualdade, quer de participação política, quer económica. Acho que ninguém quer esperar tanto tempo. Eu não quero.
Sendo mulher, e sendo esta edição Villas&Golfe dedicada à mulher, como é que imagina as mulheres do futuro?
Acho que as mulheres portuguesas são muito autónomas. Basta ver a taxa de frequência das universidades em que, em quase todas as áreas, mais de metade são mulheres. As mulheres portuguesas estão muito educadas, estão muito sofisticadas, no tipo de exigências e de relação com a sociedade. Acho que, daqui a 20 anos, vamos estar impacientes, mas um ‘impacientes’ cheio de ação. As mulheres portuguesas não são passivas, são muito ativas. Diria que vão estar impacientes, mas altamente reivindicativas. Vejo as nossas jovens, o quão articuladas são. Não é só por ir à universidade, é o saber usar as palavras, o saber usar as ações para reivindicar o que é seu. Porque os direitos não nos são dados pelo Estado, o Estado tem de os concretizar. Os direitos são nossos. Olho para estas jovens e fico cheia de esperança.
Que mensagem deixaria às mulheres?
Vale a pena lutar pelos nossos direitos. Não desistam, persistam, mas aliem-se a outras mulheres. Para mim é o que tem resultado, o ter outras mulheres que me têm servido de inspiração, outras mulheres em quem me apoio, mulheres que tenham um papel de nos ‘levantar’ para cima.
Não, não. Como dizia o Nelson Mandela, «eu nunca perco, eu ou consigo ou aprendo».
Dedicou mais de 20 anos à promoção da igualdade e dos Direitos Humanos. O que procurou mudar nesses anos?
Tentei, sempre que possível, falar sobre as questões que achava que limitavam a liberdade das pessoas. Para mim, os Direitos Humanos são um objetivo em si mesmo e são também o meio para a realização das pessoas. Na universidade, onde passei muitos anos da minha vida, sempre achei que era um privilégio estar a estudar os temas e depois poder partilhá-los com alunos e também poder ir trabalhando em organizações não governamentais. Fiz comentário televisivo e escrevi para jornais sobre estes temas, que achava que era importante denunciar. Passei 20 anos a tentar fazer isto, a denunciar, a falar, a tentar juntar pessoas que pudessem contribuir com pistas de ação. Foi sempre esse papel que procurei ter, nas universidades, nas organizações não governamentais, na televisão, no parlamento. Foi sempre a ideia de: vamos falar sobre os assuntos e reunir um grupo de pessoas que queira atuar sobre esses assuntos.
De todas as funções que ocupou (política, ensino, investigação), com qual se identifica mais e qual foi a mais desafiante?
Aquela com a qual me identifico mais é dar aulas – o poder estudar e, depois, partilhar e discutir as coisas que estudava com os alunos. É enriquecedor despertar em alguns deles o interesse pelos Direitos Humanos, os direitos das mulheres. O trabalho mais desafiante foi o parlamento. Nunca vou esquecer a primeira vez que me sentei no plenário. A primeira coisa que pensei foi: «Há milhares de pessoas que votaram para eu poder estar aqui». Mas, de repente, estou sentada na sala, olho em volta e sinto um frio no estômago, a responsabilidade, o peso da responsabilidade, e lembro-me de ter pensado: «Enquanto cá estiver vou fazer o melhor que puder». E fiz o melhor possível. Ser mulher pesou muito. Pensar que estava sentada no parlamento, caramba, o que foi preciso lutar. Espero que se houver meninas a ver pensem: «Olha, é possível!».
Sentiu-se pequenina?
Muito pequenina. Esmagada pela responsabilidade, não só pelo que representava estar ali, mas como pela responsabilidade que eu tinha do que vinha a seguir.
«As mulheres portuguesas estão muito educadas, estão muito sofisticadas, no tipo de exigências e de relação com a sociedade»
Para si, o que é ser mulher?
Ser mulher é tentar abraçar o mundo todo ao mesmo tempo. É tentar desempenhar múltiplos papéis, com uma visão do mundo muito inclusiva e tentando corrigir as assimetrias. Acho que isso resulta um bocadinho da nossa socialização. Nós (mulheres) somos muito educadas para cuidar dos outros, somos educadas para termos atenção aos detalhes.
Como é que se educa hoje uma criança para se tornar uma mulher?
Educa-se sendo muito intencional no que se faz, ou seja, a sociedade é profundamente patriarcal, as estruturas de poder ainda são feitas, consciente ou inconscientemente, para privilegiar o bem-estar e o sucesso dos homens. Portanto, educar uma menina para ser uma mulher (e eu tenho duas) é dar-lhes as ferramentas para poderem, primeiro, identificar quais são os obstáculos, e, segundo, superá-los. Criar meninas dizendo-lhes que o mundo já é igual para homens e mulheres não é prepará-las para o futuro. Portanto, é tudo muito intencional – os exemplos que damos, a linguagem que utilizamos –, de forma a prepará-las para o mundo que é delas mas que ainda tem de ser reivindicado. A igualdade ainda não é um dado adquirido, é um processo, e estamos no bom caminho. Gosto sempre de dizer isto: as minhas filhas têm um mundo à disposição delas muito diferente do meu, e mau er a que assim não fosse, mas é preciso educá-las para identificarem os obstáculos e mostrar-lhes como é que elas os vão superar.
Pelo que luta, hoje, a figura feminina?
Hoje luta pela igualdade de direitos, de participação política e de empoderamento económico. São estas as peças que faltam. Os dados dizem-nos que, ao ritmo que vamos, atualmente, vai demorar cerca de 300 anos para atingirmos a igualdade, quer de participação política, quer económica. Acho que ninguém quer esperar tanto tempo. Eu não quero.
Sendo mulher, e sendo esta edição Villas&Golfe dedicada à mulher, como é que imagina as mulheres do futuro?
Acho que as mulheres portuguesas são muito autónomas. Basta ver a taxa de frequência das universidades em que, em quase todas as áreas, mais de metade são mulheres. As mulheres portuguesas estão muito educadas, estão muito sofisticadas, no tipo de exigências e de relação com a sociedade. Acho que, daqui a 20 anos, vamos estar impacientes, mas um ‘impacientes’ cheio de ação. As mulheres portuguesas não são passivas, são muito ativas. Diria que vão estar impacientes, mas altamente reivindicativas. Vejo as nossas jovens, o quão articuladas são. Não é só por ir à universidade, é o saber usar as palavras, o saber usar as ações para reivindicar o que é seu. Porque os direitos não nos são dados pelo Estado, o Estado tem de os concretizar. Os direitos são nossos. Olho para estas jovens e fico cheia de esperança.
Que mensagem deixaria às mulheres?
Vale a pena lutar pelos nossos direitos. Não desistam, persistam, mas aliem-se a outras mulheres. Para mim é o que tem resultado, o ter outras mulheres que me têm servido de inspiração, outras mulheres em quem me apoio, mulheres que tenham um papel de nos ‘levantar’ para cima.