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· Arquitetura · · T. Sérgio Gomes da Costa

Adegas com Arquitetura

O vinho em forma de casa

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F. Direitos Reservados
Quinta da Teixuga

De um nome pode surgir um edifício. Neste caso, duas linhas de betão atravessadas na paisagem, a condizer com a designação e o logótipo de uma nova casa de produção de vinho: Caminhos Cruzados. Esta adega, gizada por Nuno Pinto Cardoso, fica na Quinta da Teixuga, em plena Região do Dão, e entre os seus predicados está a sustentabilidade ambiental. Para isso, há alguns segredos técnicos a revelar, como as claraboias que otimizam o uso da luz natural, os reservatórios onde se guarda a água da chuva, as janelas generosas que facilitam a circulação do ar e, claro, o betão armado que retém a temperatura. Outros dos seus segredos está na ausência de pilares, seguindo um método análogo ao da construção de pontes, uma forma de se otimizar o espaço interior. 

F. Fernando Guerra
Herdade do Freixo

É uma das adegas mais recentes deste lote, mas tornou-se rapidamente um ícone nacional. Isto porque o projeto para a Herdade do Freixo, de Diogo Valssassina, foi prolífero na criação de pontos de interesse. Não só pela sua distribuição subterrânea, que a esconde debaixo do solo quente alentejano, mas também pela espiral interior, por onde podem circular lentamente os visitantes. Aliás, esta espiral tem sido dada às mais diversas comparações, desde o Museu Guggenheim, em Nova Iorque, a um saca-rolhas gigante, o que talvez seja uma forma de se procurar explicação para algo tão inusitado e marcante. O certo é que as redes sociais ganham outra vida quando se atravessam com esta adega e os seus tons neutros dão-lhe mais uma ajuda à fotogenia, conferindo ao lugar um registo quase monástico na sua forma de tratar a luz – e o tempo.  

F. Fernando Guerra
Casa da Torre

A Adega Casa da Torre, em Vila Nova de Famalicão, é um elogio à madeira. O arquiteto Carlos Castanheira usa-a aqui com profusão, como tem feito em diversos projetos que assinou, mas mantendo uma elegância orgânica e vagamente oriental, capaz de envolver os visitantes ao primeiro instante. O edifício amplia uma adega já existente no passado, dando nova vida e possibilidades ao espaço. Embora a forma do telhado sugira mais depressa um espaço doméstico do que um local de trabalho, a impressão é logo desmentida no interior, onde a racionalidade se impõe na distribuição dos espaços e elementos da produção vínica. Nota também para a transparência do edifício, por entre as ripas de madeira e as paredes de pedra, que dilui as fronteiras entre o interior e o exterior. 

F. Direitos Reservados
Quinta do Portal

O armazém de estágio e envelhecimento da Quinta do Portal foi desenhado por Álvaro Siza Vieira, arquiteto também responsável pela Adega Mayor. Tem como imagem de marca a sua pele em cortiça e xisto, que se altera com a passagem do tempo e recobre uma imponente estrutura em betão armado. Emoção e razão no mesmo plano, sobrepostas numa fusão ordenada de linhas e curvas, dando ao vinho nada menos do que cinco mil metros quadrados de tempo para envelhecer com toda a graça.  Fica em Sabrosa, no vale do Douro, e tem ainda uma sala de provas e um auditório. 


F. Direitos Reservados
Adega Maior

Foi a primeira grande adega de autor nacional e tem a assinatura do primeiro Pritzker português: Álvaro Siza Vieira. Inaugurada em 2007, pode-se dizer que marcou uma nova era na construção de adegas neste país, território onde hoje em dia há já um espólio relevante e capaz de se destacar a nível mundial. A Adega Mayor começa por impressionar pelas suas dimensões, formando um grandioso retângulo de 40x120 metros. Tem, no entanto, uma brancura serena capaz de anular-lhe o gigantismo, assim como um perfil fino em sintonia com as linhas da paisagem. A não perder é também o seu terraço panorâmico, onde há um espelho de água a receber a luz alentejana, assim como um banco ziguezagueante para apreciar este pedaço de sossego.

F. Direitos Reservados
Quinta do Vallado

Fica numa das quintas mais antigas do Douro, construída em 1716 e outrora pertencente a Dona Antónia Adelaide Ferreira. A adega e a cave de barricas da Quinta do Vallado concilia, por isso, dois tempos históricos, resultando da recuperação de edifícios antigos e da construção de novos, num marcado convívio de linguagens. Tem a curiosidade de ser uma adega que funciona por gravidade, aproveitando o desnível dos socalcos, e esse diálogo com o terreno estende-se também ao revestimento das fachadas dos novos edifícios, feito totalmente em xisto. E se no exterior são as linhas retas que predominam, no interior há uma forma abobadada que lhe amacia o betão e comunica com as barricas. O projeto esteve a cargo do gabinete portuense Menos é Mais Arquitetos.  

F. Fernando Guerra
Adega Alves de Sousa

O revestimento em tijolo negro funde a Adega Alves de Sousa com o seu entorno. Está-se, afinal de contas, em pleno Douro e aqui o xisto marca não só o território como o imaginário coletivo. Para explicar este seu projeto, o arquiteto António Belém Lima recorreu à Tríade Vitruviana, definida por Vitruvio na Roma Antiga para estabelecer os princípios fundamentais da arquitetura: Firmitas, Utilitas e Venustas. É, por isso, uma obra que procura assumidamente o equilíbrio entre a estabilidade, a utilidade e a beleza, no que não poderia ser esquecido: o contexto paisagístico deste edifício. Aliás, para contemplar o cenário envolvente há um terraço panorâmico sobre os vales, ideal para provas de vinhos e longas conversas. Quanto ao interior, o público geral tem uma loja e uma sala de provas, que o arquiteto António Belém Lima articulou com os espaços de produção do vinho, dando a cada canto o seu registo funcional e visual. 

F. Direitos Reservados
Adega Gran Cruz

A Adega Gran Cruz foi erguida num antigo estaleiro de construção civil, em Alijó, devolvendo nobreza a um lugar outrora negligenciado. Esse respeito pela paisagem é notório em todas as vertentes do projeto, a cargo do arquiteto Alexandre Burmester, sendo a faceta mais notória dessa postura o extremo cuidado na interligação da arquitetura contemporânea com as formas tradicionais da região. É um edifício complexo, uma soma fluida de parcelas, juntando no mesmo espaço duas adegas e um centro logístico de armazenamento. Para disfarçar esta sua escala, aproveita um acidente do terreno que o distribui de um modo mais leve, assim como oferece ao olhar uma fachada transparente que lhe aligeira as medidas. O resultado está à vista, tendo sido usados 3300 metros de madeira, 35 quilómetros de tubagens em aço inox e 5180 metros cúbicos de betão, tudo em harmoniosa comunhão estética, de acordo com as exigências funcionais de cada zona interna e perfeitamente integrado numa região classificada como Património Mundial pela UNESCO. 

Herdade do Freixo
F. Fernando Guerra
Herdade do Freixo
Adega Casa da Torre
F. Fernando Guerra
Adega Casa da Torre
Quinta do Portal
F. Direitos Reservados
Quinta do Portal
Adega Maior
F. Direitos Reservados
Adega Maior
Quinta do Vallado
F. Direitos Reservados
Quinta do Vallado
Adega Alves de Sousa
F. Fernando Guerra
Adega Alves de Sousa
Adega Gran Cruz
F. Direitos Reservados
Adega Gran Cruz
T. Sérgio Gomes da Costa
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