A que áreas podemos comparar a arquitetura?
Leio muito. Acho que os escritores me ajudam muito. Portanto, à literatura.
A arquitetura é luxo?
A arquitetura é luxo. Porque se não for luxo é construção.
E espaço é luxo?
É. Hoje em dia o luxo da arquitetura é o espaço.
Se não fosse arquiteto o que gostaria de ser?
Fotógrafo. Antigamente era fotógrafo, mas sei que não consigo. Hoje em dia gostava de escrever.
Se não fosse arquiteto em Portugal, qual o país que escolheria para exercer a arquitetura?
Espanha. Porque tem das melhores escolas europeias, os cursos em Espanha, para se ser arquiteto, são de nove anos; aqui, em Portugal, são de seis anos. Ou seja, mesmo que não sejam grandes arquitecos, a produção é muito acima da média e é uma profissão respeitada.
Considera-se um clássico ou um irreverente na arquitetura?
Clássico. As utopias não interessam muito. Estou preocupado é com os movimentos atuais, não é com os futuros idílicos da utopia. Interessam-me as regras que já resultaram, que a história me mostra, e eu sirvo-me delas.
Qual a coisa mais insólita que lhe pediram para incluir num espaço?
Não digo quem, mas a coisa mais insólita foi uma piscina encostada à cama. Um tipo sai da cama e cai na piscina.
É um homem do Norte ou do Porto?
Sou dos dois, mas mais do Norte, porque tive uma infância muito ligada ao Minho, mas vivi sempre no Porto.
Da infância que recordações lhe ficaram?
As construções em pedra e granito rurais, porque a minha família é de Braga. Passava férias numa aldeia perto de Braga e tenho essa imagem das casas com pedra solta. O meu pai começou a organizar umas visitas aos castelos e aos mosteiros, depois até vim a recuperar um – o Mosteiro de Santa Maria do Bouro. Nós tínhamos aquele fetiche de Os Cinco [não é do seu tempo], uns livros de aventuras de uma escritora inglesa, Enid Blyton. Íamos às ruínas e imaginávamos aqueles cenários. Depois de Os Cinco foram Os Sete. Portanto, a literatura está ligada à arquitetura até na infância.
Quem convidaria para um jantar ideal?
O Papa. Gostava de o conhecer. Admiro-o. E não sou católico. Sou cristão. Mas o Papa é um ‘tipo’ que tem dado uma volta a isto com muita coragem.
O que é que nunca admitiria num espaço idealizado por si?
Deixe-me pensar. É complicado. Ia dizer o Trump, mas não quero dizer porque é chato, coitado do homem (risos). Não admitiria que alterassem sem me dizer. O espaços existem para serem alterados, eu próprio altero-os, e as pessoas no uso alteram, porque as pessoas nem sempre acertam. Tem de se corrigir. Agora, não queria que fossem violentados sem eu saber.
E o que é obrigatório?
Tem de ser funcional. Se for funcional também é bonito. O belo não existe sem utilidade.
O que o faz rir mais?
Rio-me muito. O humor é a expressão de um falhanço de uma maneira inteligente. Concorda?!
Está muito filosófico...
Estou não, se calhar sou (risos).
Qual o melhor sítio para se jantar peixe no Porto?
Peixe... gosto do Gaveto. Encomendo, muitas vezes, um prato que se comia em casa dos meus pais, que é Goraz Assado no Forno. Eles fazem de encomenda e é bom.
Que tipo de música gosta?
Jazz e clássica.
Como quebra o stress?
Trabalhando. Porque se estou em stress é porque tenho um problema grave e, enquanto não resolver esse problema, continuo stressado. Portanto, é com o trabalho.
Há momentos de férias?
Há sim. Não há as ‘férias’, de contemplação para o mar. Faço muitas férias durante o ano, poucos dias, dois a três dias. Viajo muito e, muitas vezes, nas obras, em vez de regressar no mesmo dia, passo um dia na cidade.
A vida muda todos os dias?
Os projetos mudam todos os dias. A vida são os projetos, portanto... (risos).
E agora, propomos-lhe um desafio. Imagine que a equipa Villas&Golfe, uma revista com 17 anos, lhe pedia para desenhar/imaginar a ‘casa’/’escritório’ Villas&Golfe. Em meros traços, num papel, o que idealizaria?
Eu ando à procura da casa ideal. Acho que existe, mas não consigo encontrá-la. Essa casa ideal é a casa ideal para mim. Aliás, já disse isso a clientes e eles zangam-se. Pagam-me para fazer a casa para eles e eu estou a fazê-la para mim (risos). Quanto melhor for para mim, melhor é para eles. Já agora que estamos com filosofia, o Espinoza (filósofo) dizia: «Eu tenho de estar muito bem comigo próprio para poder ajudar os outros e estar bem com os outros se não...», também funciono assim. Os escritores também andam à procura de fazer o livro ideal, porque fazem sempre o mesmo livro. Mudam o tema, a madame varia, depois põem o vestido vermelho..., mas a história é sempre a mesma. E na arquitetura andamos todos a querer fazer a casa ideal.
Em meros traços, o que é que o arquiteto nos mostraria?
Não acredito que a arquitetura seja um ato de inspiração em que as musas aparecem. Fecho os olhos... Ou como os pintores... não é assim. Preciso do conflito, preciso do cliente, para explicar o que quer, e preciso da discórdia, para me pôr em causa e ter um flash. Depois há uma solução.
E agora o papel em branco… em meros traços, vai imaginar o que seria o nosso mundo Villas&Golfe...
Fiz um concurso para a casa de um arquiteto alemão, que é o Shinken, e fiz uma casa da refinaria. Era tudo livre, podia escolher o que quisesse. Fiz uma casa da refinaria da Galp. Ferros e tal. E fiz um templo grego. Acho lindíssimas as refinarias. E, se calhar, fazia aí uma construção.
Descrição do desenho feito em 3.55 minutos:
Os próprios são os piores para explicar o que criam (risos). Temos o mar, a água, as barracas de praia, a marginal, a bicicleta, a refinaria, que está fechada, e vocês compraram aqui uns ferros, umas vigas, e tem um elevador, e vocês trabalham aqui. É dedicado à Villas&Golfe. E está assinado. Vai publicar o desenho na revista?!
Sim.
Vão dizer «este gajo é um armante» (risos).
Nada disso. O arquiteto aceitou o desafio, é diferente.
E aceitei!