Onde é que a Indira
nasceu e viveu a sua infância?
Nasci
e cresci em Luanda, Angola.
Como é que os EUA
surgiram no seu horizonte?
Eu
voei pela primeira vez para a América com o intuito de estudar Engenharia Química,
tendo em mente as riquezas naturais da nossa nação. Após um ano, ficou claro
que tinha de mudar de curso. Não porque o afeto à minha terra natal tivesse
mudado, mas porque eu vi que existiam outras formas mais adequadas às minhas
habilidades e com as quais eu poderia expressar a inspiração que Angola me
traz. Com isto em mente, mudei-me para Nova Iorque para estudar Design de Interiores numa entidade de
ensino renomada (New York School of Interior Design), permanecendo conectada às
minhas habilidades e inspirações. Aqueles que cresceram comigo em Luanda não se
surpreenderam com essa mudança. Quando criança, eu era sempre vista a projetar
e a alterar qualquer coisa. Não importava se fossem roupas, sapatos ou
decoração. Tudo que eu pudesse tornar mais bonito e elegante, eu tornava.
Era com a área de Design de Interiores que sonhava
enquanto criança?
A
minha paixão sempre foi o mundo da moda. Nem sonhava em ser interior designer. Mas, naquela altura,
não contava com o apoio dos meus tios, por quem fui criada. Eles sempre foram
muito conservadores. Sempre acreditaram na educação académica não só como forma
de crescimento pessoal, mas também como gatilho para desenvolvimento do nosso
país. Uma vez que eles viram o meu potencial enquanto designer, conquistei o seu apoio.
O que está na génese do
projeto I. LOU?
Surgiu
de um desejo íntimo de expressar toda a minha carga cultural africana de forma
a melhor utilizar as minhas habilidades como criadora. A primeira coleção, 45 Degrees, nasceu desse desejo e
representa intrinsecamente a realidade sociocultural de Angola.
Conjugar tradição com
modernidade – é este o conceito base das suas criações?
Absolutamente.
Eu sempre tomei por base o mobiliário africano tradicional em si. Gosto de
invocar as emoções da cultura africana e, ao mesmo tempo, mostrar a beleza e a
complexidade do continente. E a forma que achei mais viável, seguindo as tendências
atuais de design, foi dar um toque de
modernidade a peças tradicionais.
Podemos dizer que Angola
está sempre representada em cada uma das suas peças?
Angola
é a minha raiz! Com certeza está e sempre estará ligada aos meus trabalhos,
mesmo que de forma subtil, seja nas linhas, nas cores, ou nos materiais. Tenho
muito orgulho das minhas origens e da inspiração que me proporcionam.
«Gosto de invocar as emoções da cultura africana e, ao mesmo tempo, mostrar a beleza e a complexidade do continente»
Para além de Angola, o
que mais a inspira?
Eu
combino as influências africanas com a leveza do norte da Europa. Estes países têm
uma longa história nas áreas do design
e da arte em geral e são conhecidos pela simplicidade e elegância dos seus designs.
Como é que os
norte-americanos têm reagido ao seu trabalho?
Uma
das razões pelas quais eu decidi começar na América foi porque eu sabia que o
desenvolvimento das minhas peças teria mais impacto e aceitação aqui, pelo
menos no início. Recentemente, fechei um contrato de parceria com uma renomada companhia
internacional da área da hotelaria e turismo. Estamos a ultimar a fase dos protótipos
de uma nova coleção que desenvolvi exclusivamente para a tal companhia. Mal posso
esperar para compartilhar a nova coleção com o mundo!
Fale-nos de uma peça sua
pela qual sinta particular orgulho, ou que tenha um simbolismo forte.
A
Espreguiçadeira Zungueira. Há nela um
contraste entre a elegância do equilíbrio das linhas orgânicas e dinâmicas do
banco e a força e linhas retas da base, o que representa a força da mulher zungueira
suportando o seu fardo pesado. A peça causa um impacto visual incrível e tem
sido muito popular em todas as exibições onde está presente e, inclusive, gerou
interesse de galerias ligadas a museus sociológicos de universidades.
A I. LOU está presente
em Nova Iorque e Los Angeles. O que quer ser e para onde quer ir a Indira
quando ‘for ainda maior’?
A
minha próxima direção será o mercado angolano, onde tudo começou. Brevemente quero
expandir as minhas criações a nível mundial, e não posso pensar num lugar melhor
que Angola. Depois pretendo continuar a expansão ao mundo lusófono, como os
mercados do Brasil e de Portugal.