VillaseGolfe
· Moda&Acessórios · · T. Redação · F. Direitos Reservados

Saltos altos

Criados para os homens, eternizados pelas mulheres

Villas&Golfe Pub. PUB HOMES IN HEAVEN Pub.
Vidago Villa Pub.
PMmedia PUB Pub.
Estabelecido há décadas como uma das peças mais fascinantes de moda, os sapatos de salto alto são um dos artigos mais populares do mundo, especialmente para o público feminino. Mas será que eles nasceram para adornar os pés das mulheres? A resposta, espante-se, é não. O salto alto foi inventado para ser uma peça de vestuário masculina, que lhes conferia destreza, poder e autoridade. A sua associação à elegância feminina veio muito depois. Mas já lá vamos.
Luis XIV chegou mesmo a decretar que só a alta nobreza podia usufruir do privilégio de usar salto

Na verdade, não faltam mistérios na história dos sapatos de tacão alto. Por exemplo, não se sabe exatamente quando surgiram, embora as pistas que se conhecem nos conduzam ao Egito antigo. Tudo porque algumas imagens datadas de 3500 a.C. retratam uma espécie de sapatos usados pelas classes mais ricas da civilização que têm uma altura considerável. Mas este não é o único registo. A autora Elizabeth Semmelhack, do Bata Shoe Museum (Museu dos Sapatos), em Toronto, Canadá, já referiu que os primeiros sapatos de salto alto foram criados para cavaleiros persas, com intuito de garantir uma melhor posição dos pés nos estribos durante as montadas.
O tacão alto ganhou assim fama nos campos de batalha. Como também explica o historiador Greg Jenner. «Os ocupantes da Ásia Ocidental eram exímios cavaleiros, e era assim que eles combatiam.» Cavalgavam sobre a cela, e levantavam-se para atirar com os seus arcos e flechas. «Isso significava que precisavam de um salto para se manterem equilibrados sobre o estribo.»
Falamos do fim do século XVI, quando a cultura persa se disseminou pela Europa, o que fez com que os saltos fossem vistos como sinais de virilidade. Já no século seguinte, esse modelo de calçado era já bastante popular entre os membros das classes mais privilegiadas. Os homens europeus queriam usar calçado de salto alto para emular a força dos persas, e a rainha Elizabeth I começou a usá-los para parecer mais masculina.Nessa altura, os sapatos começam a ser feitos em duas partes, uma superior flexível unida com uma sola mais pesada e dura. Em seguida, o salto simples para equitação deu lugar a saltos mais finos, tornando-os mais elegantes. O salto como moda é atribuído a Catarina Médici que pelos seus 14 anos se casou com um poderoso duque de Orleães. Médici era notoriamente mais baixa em relação ao duque. Sentindo-se insegura, passou a usar sapatos feitos por um artesão italiano com saltos que a deixavam mais alta. O modelo foi um verdadeiro sucesso, a ponto de transformar a moda da aristocracia francesa, passando desde então a figurar uma das marcas de privilégio social da época. No início dos anos 1700, o rei da França, Luis XIV também o adotou nas suas indumentárias e chegou mesmo a decretar que só a alta nobreza podia usufruir do privilégio de usar salto. O monarca abusava do luxo, das perucas e dos sapatos de tacão alto. É que segundo as más-línguas, mas também pelos registos, percebe-se que o rei não media mais do que 1,60 centímetros e o tacão conferia-lhe outra estatura. Mais. Ficou famoso por usar saltos vermelhos – que depois viriam a inspirar Christian Louboutin, no fim do século XX.
Em alguns prédios públicos era até proibido entrar com esse tipo de calçado devido aos danos que causavam nos pavimentos

Segundo Greg Jenner, o salto alto entrou e saiu de moda várias vezes, sem desaparecer por completo, e essas mudanças afetaram a forma como a peça passou a ser vista de acordo com o género que a usava. Foi num desses momentos da história, que, em 1740, os sapatos de salto passaram a ser vistos como ridículos e os homens deixaram de usá-los. Precisamente na época em que os filósofos começaram a falar do racionalismo dos homens. Já as «mulheres eram vistas como emotivas e sentimentais, e não se podia confiar nelas para que fizessem coisas importantes, como pensar». Esta diferença sobre o que se acreditava que se passava na cabeça de homens e mulheres, promovida naquela época na Europa, influenciou o que se usava nos pés. E os homens foram então aconselhados a usar calçados racionais, porque os saltos não o eram.
Por volta de 1800, os saltos regressaram como, com uma variedade incrível e alastraram-se pela América. No final do século XIX e início do século XX começaram a ser mais confortáveis. As estrelas de Hollywood contribuíram para lhes dar fama e mais elegância. Uma frase famosa da atriz Marilyn Monroe ficou para a história. «Eu não sei quem inventou o salto alto, mas todas as mulheres devem muito a esta pessoa».
No pós-guerra, em 1950, com a revitalização da moda, Christian Dior e o designer Roger Vivier desenvolvem o salto agulha (o stiletto), que se assemelhava a uma lâmina composta por uma estrutura de ferro. Em alguns prédios públicos era até proibido entrar com esse tipo de calçado devido aos danos que causavam nos pavimentos.
Abandonado pelos homens, os saltos foram então abraçados pelas mulheres. Nos anos 1860 o salto alto feminino começa a ficar sexys e eróticos. Uma tendência que se fortaleceu durante a Segunda Guerra Mundial, quando as chamadas pin-ups estamparam cartazes e revistas em poses sensuais, usando salto alto.
Uma pesquisa de 2017, liderada por David M. G. Lewis, da Universidade Murdoch, na Austrália, concluiu que o uso de saltos realmente torna as mulheres mais atraentes. Este impacto, no entanto, não tem nada a ver com os pés – mas, sim, com o movimento provocado pelo salto no restante do corpo feminino, em especial na curvatura lombar. No entanto, apesar de considerada atraente, tal mudança não é boa para o corpo. Os saltos não são saudáveis, por haver maior risco de condições musculoesqueléticas, joanetes e dores de costas.
Em 2016, pela primeira vez, mais mulheres compraram sapatilhas do que sapatos de salto no Reino Unido. Poderemos estar perante uma inversão de tendências? A ver vamos… Mas os saltos altos serão sempre um ícone da moda.

Redação
T. Redação
F. Direitos Reservados
Política de Cookies

Este site utiliza Cookies. Ao navegar, está a consentir o seu uso. Saiba mais

Compreendi