Portugal consome, cada vez mais, o que é luxo, nomeadamente no ramo da habitação. Espera vir, no futuro, a incidir mais na vertente premium?
Sim, cada vez mais. Além de o país consumir mais luxo, o premium é o patamar onde nos queremos posicionar. De facto, a trabalhar o produto de gama média ou média baixa há muita gente, mas a apostar no premium não há tanta, pelo que ou têm medo ou não têm como apostar na qualidade.
Fale-nos da aposta no ramo hoteleiro.
Na sequência da construção surge, então, a vertente hoteleira. Começou em 2007, quando estávamos a reformular um hotel para um cliente e ele me desafiou a entrar na área do turismo. Foi assim que me entrosei. Criámos os dois uma empresa, 50/50, e comprámos a primeira unidade hoteleira nos Açores. Em 2010, comprámos outro complexo no Funchal e, aí, já era acionista da empresa a 70%. Em 2016, adquiri a empresa a 100%, altura em que também já estava com o terceiro hotel nos Açores. Neste momento, estamos prestes a abrir o hotel do Mosteiro de Santa Clara, em Vila do Conde; adquirimos outra obra no Funchal e temos ainda outros projetos a fechar. Os primeiros cinco anos na área foram difíceis, anos de perda, e não de ganhos. Só a partir de 2013 é que começou a evoluir significativamente. Atualmente, é um negócio rentável, daí a ambição de abrir um hotel por ano.
Mencionou o Mosteiro de Santa Clara, um projeto hoteleiro do grupo, agrupado num segmento premium, que não tarda a abrir portas. O que nos pode revelar sobre o complexo?
O Mosteiro de Santa Clara tem tudo para que seja um dos melhores hotéis do Norte. Este hotel de cinco estrelas fica situado em Vila do Conde e é um segmento muito alto, cujo investimento ronda os vinte milhões de euros. Com oitenta e sete quartos, envolve spa, piscina interior e dois restaurantes, um dos quais geridos pelo chef Vítor Matos. Existirá também garrafeira, que ficará num piso que descobrimos que estava enterrado há muitos anos, desde a construção do edifício, e que nunca foi utilizado. Falamos de um complexo que tem por volta de seiscentos anos.
Qual foi a maior dificuldade do projeto?
A maior dificuldade foi a questão da arqueologia, que é algo que temos de aprimorar em Portugal. Uma obra que poderia ser finalizada no espaço de um ano, atualmente leva três ou quatro a mais. O Mosteiro de Santa Clara levou três anos, sendo que já devia estar finalizado faz tempo. Com isto não estou a afirmar que devemos vandalizar as questões históricas, mas devia ser um processo mais célere.
Relativamente à formação e gestão das equipas do hotel, é o grupo do Domingos que trata?
Existe um diretor geral, em cada unidade. Depois, dentro de cada unidade há um diretor e a sua respetiva equipa. Na sede, aqui em Braga, temos uma central de reservas e a vertente comercial dessas unidades. Quanto à formação, temos, por exemplo, pessoas num hotel dos Açores a ter formação para vir para o cinco estrelas em Vila do Conde, aquando da sua inauguração.
«A ambição de abrir um hotel por ano»
Mas tem sido fácil arranjar colaboradores?
Começa a ser difícil, há falta de mão de obra. Encontramo-nos a recrutar pessoal de Cabo Verde para a vertente do turismo, mas também há falta de gente na construção civil.
Para se adaptar ao universo da metalomecânica é necessário estar na vanguarda das novas tecnologias. De que forma é que o grupo garante os melhores projetos?
A metalomecânica é um investimento mais recente. Tem ainda dois anos de aquisição e foi uma marca que adquirimos num processo de insolvência, pelo que pertencia a uma empresa que já trabalhou para o Grupo Arliz. Nós sabíamos que era uma marca bastante evoluída e com bons equipamentos. Quando surgiram as dificuldades, fomo-nos aproximando e optamos por adquirir o estabelecimento. Neste momento, a empresa está a trabalhar muito bem. Estamos focados na França, porque é um mercado que tem mais valor acrescentado, comparativamente a Portugal. Pretendemos apostar na Suíça também. Há poucas empresas em Portugal que consigam garantir projetos diferenciadores como nós. Eu gosto de estar sempre a investir, ainda para mais numa área de inovação como a metalomecânica.
Como surgiu a necessidade de criar a marca Parques VE, a empresa que faz a gestão dos parques de estacionamento do grupo?
A marca VE é muito antiga, foi adquirida em 2003. Apareceu quando surgiu a conceção dos parques subterrâneos em Valongo. Na altura, um cliente nosso tinha essa concessão e, devido à idade, queria abandonar o projeto, pelo que nós ficámos com a marca. Hoje, temos os parques em Valongo, Ermesinde e Gaia, embora não seja a área em que mais estejamos a apostar, até porque quando chegámos a este setor já era tarde, o mercado já estava bastante absorvido. A oportunidade que existia era fora das metrópoles, e assim aproveitámos.
Do domínio da Arliz faz, ainda, parte a área dos seguros...
Também o ramo dos seguros é o que menos aposta tem por parte do grupo, juntamente com a marca VE. A área de seguros vai continuar a crescer, mas a dos parques de estacionamento só evolui se fundirmos com outra empresa de rendimentos. Aliás, já que falamos em rendimentos, além da promoção imobiliária temos uma empresa que compra ativos e põe em rendas. E os parques VE talvez um dia passem por fazer uma fusão com esta nossa empresa.
Áreas como a metalomecânica dependem, cada vez mais, da inteligência artificial para o seu funcionamento e, cada vez menos, da força humana. Acha que podemos estar a cair num ciclo de desumanização, graças a primazia das máquinas?
Sim e não. Mas, com a falta de mão de obra existente em Portugal, parece não existir outra solução.