Em 1980 decidiu arriscar. Criou a sua primeira empresa dedicada à atividade transitária. Não teve medo?
Por acaso é engraçado. Na minha vida empresarial, um dos momentos em que tive medo foi naquela noite em que me despedi do meu antigo patrão, para montar a minha empresa.
Trabalhava na Alfândega do Porto...
Trabalhava, era ajudante despachante. Tinha um colega, que era muito meu amigo, e eu dele, mas que eu achava que não tinha grande futuro ali, porque não era um homem aberto a novas ideias, era muito fechado. Decidi eu…
Arriscar?
Decidi. «Vou eu, você não quer ir, vou eu!» Tinha juntado algumas economias. Na altura, lembro-me de que tinha 250 contos, que não sei quanto é isso em euros, mas são uns 1000 ou 1250 euros. Naquele tempo era muito dinheiro, valia muito mais. Com esse dinheiro montei a minha empresa. Trouxe um colega lá do escritório e decidi fazer transportes internacionais e despachos. Montei a empresa na Rua da Restauração. As pessoas não fazem ideia, mas, naquele tempo, para arranjar um telefone fixo para um escritório era preciso esperar três ou quatro meses. Não havia telefones. Mas a primeira vez que abri o escritório, utilizei logo o do escritório ao lado, que era uma escola de música.
36 anos depois, como é que olha para o seu percurso? Foi sempre tudo tão fácil?
Não, mas também nada é fácil na vida. Todos os projetos para terem sucesso têm de ter dificuldades, porque se for muito fácil, não têm sucesso. Isto não é jogar à bola, pois se soubesse jogar à bola ia para futebolista, e podia ser um Cristiano e ficar muito rico, sem saber fazer mais nada. Numa empresa não, é preciso ter um espírito de sacrifício grande, é preciso trabalhar muitas horas. O sucesso de uma empresa deve-se muito à capacidade de trabalho, muito mais do que à inteligência. A inteligência é importante, mas, sobretudo, é preciso trabalhar muito. As pessoas acham que não é assim. Lembro-me de que durante muitos anos eu trabalhava o Sábado todo o dia e ao Domingo a partir das quatro da tarde. Durante a semana até às nove, dez ou onze horas da noite, dependendo do trabalho que tivesse.
Desdobrava-se...
Tinha de fazer de comercial, financeiro, recursos humanos. Fazia tudo. Ainda por cima tinha de estudar, porque eu não era um expert. Tive de aprender. Foram muitos anos a trabalhar. Quando cheguei aos 40 anos de trabalho eu tinha trabalhado 60. Isto porque trabalhava sempre 14, 15, 16 horas por dia. O sucesso está aí, não está em mais nada. Não me saiu a sorte grande. Ninguém me deu nada. Fiz tudo arrancado a ferros. Nasci a ferros!
«Ainda
hoje, continuamos a ganhar dinheiro em Angola»