Nasceu em Moçambique. Deixou o país com
que idade? Como foram esses anos, de que se recorda?
Sim, nasci em Lourenço Marques em 1967, e,
após o 25 de Abril, a situação começou a ficar muito complicada para os portugueses,
tendo havido problemas graves, que nos fizeram abandonar tudo e sair do país. Primeiro
para África do Sul e, de seguida, para Portugal, onde a minha mãe tinha as suas
raízes. Fevereiro de 1978, foi quando cheguei a Lisboa.
E quando veio para Portugal, que país
encontrou?
Um país muito frio, dado que em fevereiro chovia muito e fazia muito frio
para quem acabava de chegar de um país com temperaturas tropicais. Portugal era
um país muito duro para quem vinha de fora e a vida não foi fácil para as
várias famílias que chegavam com uma mão à frente e outra atrás, com a vida
totalmente desfeita. As ex-colónias tinham um nível de vida muito avançado face
a Portugal, e a adaptação não foi fácil. Portugal era um país pobre,
principalmente em meios mais pequenos, como o que encontrámos na Marinha Grande.
Foram tempos muito difíceis para uma mãe que, sozinha, teve de lutar para colocar
comida na mesa de três filhos.
Já trabalhou em diversas empresas, tem uma
carreira que muitos invejariam. Quando se deu conta de que tinha nascido para
liderar e, em específico, neste setor?
Felizmente, posso afirmar que tenho uma
carreira que me deixa orgulhoso, principalmente por ter 37 anos neste mercado e
ainda conseguir, humildemente, andar de cabeça erguida, sendo recebido e
respeitado por clientes, parceiros e colegas. Desde sempre, gostei de ajudar os
amigos e colegas, procurando estabelecer pontes. A vertente comercial foi
crescendo com o passar dos tempos, já a liderança depende mais de quem é
liderado do que quem lidera, porque para se ser um bom líder, é preciso ter
boas pessoas para liderar. Liderar um grupo de pessoas, para mim, é tratar os
outros com respeito e tentar esclarecer, exemplificar e convencer naturalmente
as pessoas a seguir um caminho que acreditem ser o melhor, o mais eficaz e o
mais ético. Li uma vez esta citação, que penso ser fabulosa: «No negócio, 100%
dos clientes são pessoas; 100% dos colegas são pessoas, pelo que, se não
entendes de pessoas, não entendes nada de negócio». Fazer com que as pessoas
façam o que necessita de ser feito, fazendo-as acreditar que estão a fazer o
melhor para todos, é realmente a parte mais difícil, mas também a mais
aliciante e gratificante.
«A visão é clara desde o
início: entrar no pódio europeu, ser a primeira escolha no setor das smart home»
Está há 12 anos na Haier, um dos maiores
grupos de eletrodomésticos do mundo. O que tem significado para si este
desafio?
Sim, 12 anos no grupo, que antes era
apenas Candy Hoover, mas que há pouco mais de três anos foi adquirido por este colosso
dos eletrodomésticos que é o grupo Haier. Todas as experiências, durante este
meu percurso, foram gratificantes e importantes. O grupo Haier traz um nível superior
de exigência, porque temos três marcas que devem ser complementares numa
estratégia multi-brand, que obriga a
um tipo de comportamento diferente. Obviamente que foi um orgulho imenso poder
continuar a liderar o grupo após a aquisição, pois trouxe mais responsabilidade,
porém, igualmente, um gozo temendo de trazer uma marca nova para o mercado português,
ainda para mais sendo uma marca premium,
com o peso de ser a Nr.º 1 em eletrodomésticos no mundo, ainda que
completamente desconhecida no nosso país. Algo em que tenho alguma experiência,
dado o meu background profissional.
Que planos está hoje a Haier a fazer para
os próximos anos, em termos de investimento e expansão, em Portugal e no resto
da Europa?
A visão é clara desde o início: entrar no pódio
europeu, ser a primeira escolha no setor das smart home e criar ecossistemas completos no mesmo. Para Portugal,
temos obviamente os mesmos objetivos e estamos a lutar por eles desde o
primeiro dia, sendo que os resultados têm vindo a dar sinais de que os vamos
atingir dentro dos prazos previstos.
Que compromissos tem assumido o grupo com
a sustentabilidade e a responsabilidade social?
Esta é uma área em que nunca nos podemos dar por
satisfeitos, e em que há, e haverá sempre, muito para fazer. Criar produtos
mais ecológicos é hoje, claramente, uma realidade, mas a forma como são
produzidos é também cada vez mais importante. Criar fábricas mais amigas do
ambiente, com cuidados no consumo, recorrendo às energias renováveis, à utilização
de materiais recicláveis, são aspetos que toda a indústria está a praticar e
sempre com a premissa de tentar superar as métricas traçadas no âmbito
internacional, pelos vários países signatários do Acordo de Paris. Estamos,
internamente, a preparar um plano próprio, a nível europeu, que nos obrigará a
sermos cada vez mais ambiciosos nesta área, e a tomar a liderança também na
sustentabilidade.