Nasceu em Moçambique, mas veio para
Portugal ainda menino. Primeiro, fez um curso de Desporto, no qual aprendeu
sobre rigor, respeito e disciplina. Mas foi com a luta dos dias, nomeadamente com
as dificuldades da mãe para, sozinha, colocar comida na mesa para os três
filhos, que tirou grandes lições sobre resiliência e resistência. A vida deu
voltas. Hoje, João Paulo Ferreira, é Country Manager da Haier
Europe. Uma empresa de eletrodomésticos que está a ajudar a vingar em Portugal
e no Velho Continente. Entre objetivos e árduo trabalho, eis o retrato fiel da
história de um homem que, curiosamente, começou sem ambições, mas atingiu, em
pouco tempo, um grande sucesso.
· · ·
João Paulo Ferreira
«Para se ser um bom líder, é preciso ter boas pessoas para liderar»
Nasceu em Moçambique. Deixou o país com
que idade? Como foram esses anos, de que se recorda?
Sim, nasci em Lourenço Marques em 1967, e, após o 25 de Abril, a situação começou a ficar muito complicada para os portugueses, tendo havido problemas graves, que nos fizeram abandonar tudo e sair do país. Primeiro para África do Sul e, de seguida, para Portugal, onde a minha mãe tinha as suas raízes. Fevereiro de 1978, foi quando cheguei a Lisboa.
E quando veio para Portugal, que país encontrou?
Um país muito frio, dado que em fevereiro chovia muito e fazia muito frio para quem acabava de chegar de um país com temperaturas tropicais. Portugal era um país muito duro para quem vinha de fora e a vida não foi fácil para as várias famílias que chegavam com uma mão à frente e outra atrás, com a vida totalmente desfeita. As ex-colónias tinham um nível de vida muito avançado face a Portugal, e a adaptação não foi fácil. Portugal era um país pobre, principalmente em meios mais pequenos, como o que encontrámos na Marinha Grande. Foram tempos muito difíceis para uma mãe que, sozinha, teve de lutar para colocar comida na mesa de três filhos.
Já trabalhou em diversas empresas, tem uma carreira que muitos invejariam. Quando se deu conta de que tinha nascido para liderar e, em específico, neste setor?
Felizmente, posso afirmar que tenho uma carreira que me deixa orgulhoso, principalmente por ter 37 anos neste mercado e ainda conseguir, humildemente, andar de cabeça erguida, sendo recebido e respeitado por clientes, parceiros e colegas. Desde sempre, gostei de ajudar os amigos e colegas, procurando estabelecer pontes. A vertente comercial foi crescendo com o passar dos tempos, já a liderança depende mais de quem é liderado do que quem lidera, porque para se ser um bom líder, é preciso ter boas pessoas para liderar. Liderar um grupo de pessoas, para mim, é tratar os outros com respeito e tentar esclarecer, exemplificar e convencer naturalmente as pessoas a seguir um caminho que acreditem ser o melhor, o mais eficaz e o mais ético. Li uma vez esta citação, que penso ser fabulosa: «No negócio, 100% dos clientes são pessoas; 100% dos colegas são pessoas, pelo que, se não entendes de pessoas, não entendes nada de negócio». Fazer com que as pessoas façam o que necessita de ser feito, fazendo-as acreditar que estão a fazer o melhor para todos, é realmente a parte mais difícil, mas também a mais aliciante e gratificante.
«A visão é clara desde o início: entrar no pódio europeu, ser a primeira escolha no setor das smart home»
Está há 12 anos na Haier, um dos maiores grupos de eletrodomésticos do mundo. O que tem significado para si este desafio?
Sim, 12 anos no grupo, que antes era apenas Candy Hoover, mas que há pouco mais de três anos foi adquirido por este colosso dos eletrodomésticos que é o grupo Haier. Todas as experiências, durante este meu percurso, foram gratificantes e importantes. O grupo Haier traz um nível superior de exigência, porque temos três marcas que devem ser complementares numa estratégia multi-brand, que obriga a um tipo de comportamento diferente. Obviamente que foi um orgulho imenso poder continuar a liderar o grupo após a aquisição, pois trouxe mais responsabilidade, porém, igualmente, um gozo temendo de trazer uma marca nova para o mercado português, ainda para mais sendo uma marca premium, com o peso de ser a Nr.º 1 em eletrodomésticos no mundo, ainda que completamente desconhecida no nosso país. Algo em que tenho alguma experiência, dado o meu background profissional.
Que planos está hoje a Haier a fazer para os próximos anos, em termos de investimento e expansão, em Portugal e no resto da Europa?
A visão é clara desde o início: entrar no pódio europeu, ser a primeira escolha no setor das smart home e criar ecossistemas completos no mesmo. Para Portugal, temos obviamente os mesmos objetivos e estamos a lutar por eles desde o primeiro dia, sendo que os resultados têm vindo a dar sinais de que os vamos atingir dentro dos prazos previstos.
Que compromissos tem assumido o grupo com a sustentabilidade e a responsabilidade social?
Esta é uma área em que nunca nos podemos dar por satisfeitos, e em que há, e haverá sempre, muito para fazer. Criar produtos mais ecológicos é hoje, claramente, uma realidade, mas a forma como são produzidos é também cada vez mais importante. Criar fábricas mais amigas do ambiente, com cuidados no consumo, recorrendo às energias renováveis, à utilização de materiais recicláveis, são aspetos que toda a indústria está a praticar e sempre com a premissa de tentar superar as métricas traçadas no âmbito internacional, pelos vários países signatários do Acordo de Paris. Estamos, internamente, a preparar um plano próprio, a nível europeu, que nos obrigará a sermos cada vez mais ambiciosos nesta área, e a tomar a liderança também na sustentabilidade.
Sim, nasci em Lourenço Marques em 1967, e, após o 25 de Abril, a situação começou a ficar muito complicada para os portugueses, tendo havido problemas graves, que nos fizeram abandonar tudo e sair do país. Primeiro para África do Sul e, de seguida, para Portugal, onde a minha mãe tinha as suas raízes. Fevereiro de 1978, foi quando cheguei a Lisboa.
E quando veio para Portugal, que país encontrou?
Um país muito frio, dado que em fevereiro chovia muito e fazia muito frio para quem acabava de chegar de um país com temperaturas tropicais. Portugal era um país muito duro para quem vinha de fora e a vida não foi fácil para as várias famílias que chegavam com uma mão à frente e outra atrás, com a vida totalmente desfeita. As ex-colónias tinham um nível de vida muito avançado face a Portugal, e a adaptação não foi fácil. Portugal era um país pobre, principalmente em meios mais pequenos, como o que encontrámos na Marinha Grande. Foram tempos muito difíceis para uma mãe que, sozinha, teve de lutar para colocar comida na mesa de três filhos.
Já trabalhou em diversas empresas, tem uma carreira que muitos invejariam. Quando se deu conta de que tinha nascido para liderar e, em específico, neste setor?
Felizmente, posso afirmar que tenho uma carreira que me deixa orgulhoso, principalmente por ter 37 anos neste mercado e ainda conseguir, humildemente, andar de cabeça erguida, sendo recebido e respeitado por clientes, parceiros e colegas. Desde sempre, gostei de ajudar os amigos e colegas, procurando estabelecer pontes. A vertente comercial foi crescendo com o passar dos tempos, já a liderança depende mais de quem é liderado do que quem lidera, porque para se ser um bom líder, é preciso ter boas pessoas para liderar. Liderar um grupo de pessoas, para mim, é tratar os outros com respeito e tentar esclarecer, exemplificar e convencer naturalmente as pessoas a seguir um caminho que acreditem ser o melhor, o mais eficaz e o mais ético. Li uma vez esta citação, que penso ser fabulosa: «No negócio, 100% dos clientes são pessoas; 100% dos colegas são pessoas, pelo que, se não entendes de pessoas, não entendes nada de negócio». Fazer com que as pessoas façam o que necessita de ser feito, fazendo-as acreditar que estão a fazer o melhor para todos, é realmente a parte mais difícil, mas também a mais aliciante e gratificante.
«A visão é clara desde o início: entrar no pódio europeu, ser a primeira escolha no setor das smart home»
Está há 12 anos na Haier, um dos maiores grupos de eletrodomésticos do mundo. O que tem significado para si este desafio?
Sim, 12 anos no grupo, que antes era apenas Candy Hoover, mas que há pouco mais de três anos foi adquirido por este colosso dos eletrodomésticos que é o grupo Haier. Todas as experiências, durante este meu percurso, foram gratificantes e importantes. O grupo Haier traz um nível superior de exigência, porque temos três marcas que devem ser complementares numa estratégia multi-brand, que obriga a um tipo de comportamento diferente. Obviamente que foi um orgulho imenso poder continuar a liderar o grupo após a aquisição, pois trouxe mais responsabilidade, porém, igualmente, um gozo temendo de trazer uma marca nova para o mercado português, ainda para mais sendo uma marca premium, com o peso de ser a Nr.º 1 em eletrodomésticos no mundo, ainda que completamente desconhecida no nosso país. Algo em que tenho alguma experiência, dado o meu background profissional.
Que planos está hoje a Haier a fazer para os próximos anos, em termos de investimento e expansão, em Portugal e no resto da Europa?
A visão é clara desde o início: entrar no pódio europeu, ser a primeira escolha no setor das smart home e criar ecossistemas completos no mesmo. Para Portugal, temos obviamente os mesmos objetivos e estamos a lutar por eles desde o primeiro dia, sendo que os resultados têm vindo a dar sinais de que os vamos atingir dentro dos prazos previstos.
Que compromissos tem assumido o grupo com a sustentabilidade e a responsabilidade social?
Esta é uma área em que nunca nos podemos dar por satisfeitos, e em que há, e haverá sempre, muito para fazer. Criar produtos mais ecológicos é hoje, claramente, uma realidade, mas a forma como são produzidos é também cada vez mais importante. Criar fábricas mais amigas do ambiente, com cuidados no consumo, recorrendo às energias renováveis, à utilização de materiais recicláveis, são aspetos que toda a indústria está a praticar e sempre com a premissa de tentar superar as métricas traçadas no âmbito internacional, pelos vários países signatários do Acordo de Paris. Estamos, internamente, a preparar um plano próprio, a nível europeu, que nos obrigará a sermos cada vez mais ambiciosos nesta área, e a tomar a liderança também na sustentabilidade.
Há um ano que o mundo vive com sérias
dificuldades no que toca à escassez de materiais. Como tem conseguido a Haier gerir
essa dificuldade?
Os últimos tempos têm sido particularmente complexos devido a alguma escassez de componentes necessários para a produção de eletrodomésticos, mas não só, gerou-se uma inflação que obrigou à busca de soluções na tentativa de amenizar o impacto destes fatores. A dimensão da Haier, claramente, ajudou muito na capacidade negocial, mas também na capacidade própria de produzir e colocar no mercado. A antecipação foi, talvez, a maior vantagem que conseguimos, por não termos parado quando batemos de frente com a pandemia. Tomamos decisões. Se naquela altura tivéssemos parado todo o forecast, ou se tivéssemos assumido a responsabilidade de continuar a receber artigos sem saber se os conseguiríamos escoar normalmente, não teria corrido bem. Não foi fácil. Ainda assim, felizmente, correu bem.
«A conectividade e a Inteligência Artificial são hoje dos pilares mais importantes na nossa estratégia»
Qual a relação atual da Haier com a Inteligência Artificial? Porque é que é algo tão importante para a empresa?
A conectividade e a Inteligência Artificial são hoje dos pilares mais importantes na nossa estratégia. O futuro passa pelas smart homes e ecossistemas de produtos e serviços cada vez mais interligados. A Inteligência Artificial tem aqui um papel preponderante no sentido em que nos ajuda a conhecer melhor os hábitos de consumo dos consumidores e permite uma interação mais pessoal e dedicada, fazendo jus a uma abordagem mais tailor-made, ou seja, capaz de criar produtos e serviços que assentem nas necessidades e desejos de cada consumidor.
Quantos funcionários tem atualmente a Haier e como podem os eletrodomésticos feitos por eles melhorar o dia a dia das nossas casas, mas também o setor do comércio e as grandes empresas?
O grupo, a nível mundial, tem mais de cem mil funcionários, e na Europa cerca de dez mil. Na Europa, no último ano, inaugurámos algumas fábricas novas: na Roménia e na Turquia. Sendo estas plataformas completamente novas e feitas com tecnologias de ponta na fabricação, robotização, podemos dizer que são das fábricas mais avançadas de sempre. E aumentam, por isso, a capacidade de produção e a qualidade dos artigos. As novas máquinas de louça, que vão entrar agora no mercado, são já fruto de uma destas fábricas. A preocupação com a qualidade é hoje um padrão da empresa, para todos os produtos, independentemente das marcas. Produtos muito avançados tecnologicamente, conectáveis e com uma boa dose de Inteligência Artificial, para satisfazer as necessidades dos consumidores.
Os últimos tempos têm sido particularmente complexos devido a alguma escassez de componentes necessários para a produção de eletrodomésticos, mas não só, gerou-se uma inflação que obrigou à busca de soluções na tentativa de amenizar o impacto destes fatores. A dimensão da Haier, claramente, ajudou muito na capacidade negocial, mas também na capacidade própria de produzir e colocar no mercado. A antecipação foi, talvez, a maior vantagem que conseguimos, por não termos parado quando batemos de frente com a pandemia. Tomamos decisões. Se naquela altura tivéssemos parado todo o forecast, ou se tivéssemos assumido a responsabilidade de continuar a receber artigos sem saber se os conseguiríamos escoar normalmente, não teria corrido bem. Não foi fácil. Ainda assim, felizmente, correu bem.
«A conectividade e a Inteligência Artificial são hoje dos pilares mais importantes na nossa estratégia»
Qual a relação atual da Haier com a Inteligência Artificial? Porque é que é algo tão importante para a empresa?
A conectividade e a Inteligência Artificial são hoje dos pilares mais importantes na nossa estratégia. O futuro passa pelas smart homes e ecossistemas de produtos e serviços cada vez mais interligados. A Inteligência Artificial tem aqui um papel preponderante no sentido em que nos ajuda a conhecer melhor os hábitos de consumo dos consumidores e permite uma interação mais pessoal e dedicada, fazendo jus a uma abordagem mais tailor-made, ou seja, capaz de criar produtos e serviços que assentem nas necessidades e desejos de cada consumidor.
Quantos funcionários tem atualmente a Haier e como podem os eletrodomésticos feitos por eles melhorar o dia a dia das nossas casas, mas também o setor do comércio e as grandes empresas?
O grupo, a nível mundial, tem mais de cem mil funcionários, e na Europa cerca de dez mil. Na Europa, no último ano, inaugurámos algumas fábricas novas: na Roménia e na Turquia. Sendo estas plataformas completamente novas e feitas com tecnologias de ponta na fabricação, robotização, podemos dizer que são das fábricas mais avançadas de sempre. E aumentam, por isso, a capacidade de produção e a qualidade dos artigos. As novas máquinas de louça, que vão entrar agora no mercado, são já fruto de uma destas fábricas. A preocupação com a qualidade é hoje um padrão da empresa, para todos os produtos, independentemente das marcas. Produtos muito avançados tecnologicamente, conectáveis e com uma boa dose de Inteligência Artificial, para satisfazer as necessidades dos consumidores.