Tendo em conta que o Turismo é um dos setores de maior relevo para a economia nacional, fomos saber qual a visão do presidente da Associação de Turismo do Porto e Norte (ATP), Luís Pedro Martins, neste âmbito. Licenciado em Design. Pós-graduado em Marketing Management. Dá aulas. E, como complemento ainda, frequenta, atualmente, o MBA Executivo. Podemos assumir que comunicar está-lhe na génese. Tinha 26 anos quando enveredou pela política, algo de que não se arrepende, e área à qual dedicou anos da sua vida. Só mais tarde, surgiu o gosto pelo marketing. Desiludido por Portugal não ter nenhuma longa-metragem de animação, em 2005, cria, junto com amigos, a Appia Filmes que coproduziu com a produtora galega Dygra Films, e daqui resultou a primeira longa portuguesa O sonho de uma noite de São João, inspirado na obra de Shakespeare Sonho de uma noite de verão. Com esta não contávamos! A partir daqui, comunicar, muito através de campanhas de marketing, tornou-se o seu dia a dia. Hoje, o tempo é escasso e a agenda é bem preenchida. Ainda assim, procura passar parte do seu tempo em família, a viajar, a ouvir música, a tocar precursão e a cantar. E, quem sabe, em breve o possamos ver numa partida de golfe, se seguir o conselho dos três amigos Manolo, David Martins e Luís Francisco, os seus «padrinhos nessa aventura».
Luís Pedro Martins
«Portugal tem realizado um percurso notável, somos hoje uma superbrand»
Assumiu o cargo de presidente da Associação de Turismo do Porto e Norte (ATP) em 2020. Em janeiro deste ano foi reeleito para o cargo. Que desafios tem enfrentado, ao longo destes anos, e que estratégias tem em mente para este novo mandato que tem pela frente, ou seja, até 2025?
Têm sido vários os desafios, alguns inesperados como a pandemia, que foi, sem dúvida, o maior de todos. Passar de um momento de crescimento para o zero absoluto foi algo difícil de admitir e logo no início de um mandato. Obrigou-nos a encontrar forças e soluções, que nem imaginávamos possuir. Nós não parámos um minuto, nunca baixámos os braços, estivemos sempre a preparar o day after, sabíamos que ele chegaria e, nesse momento, queríamos que a atenção dos mercados recaísse novamente sobre nós. O desafio era o de manter a notoriedade da região top of mind. Julgo que o conseguimos, com sucesso, pode parecer presunçoso, mas os números e os diversos prémios alcançados pelas nossas campanhas de comunicação e marketing assim o demonstram. Acreditava que a recuperação do setor iria ser rápida, mas não tão rápida como acabou por suceder. O Turismo foi a grande alavanca da economia nacional no pós-pandemia.
No caso da ATP, enquanto Agência de Promoção Externa da região, a estratégia está bem definida – continuar o trabalho de promoção, junto dos nossos principais mercados emissores, nomeadamente nos de longa distância, onde os EUA, Canadá e Brasil são os mais relevantes, sem esquecer a Ásia, um mercado que ainda não recuperou, mas que acredito estará de regresso, em força, em 2024.
Noutra dimensão, mais interna, estamos a preparar a organização para os novos tempos, onde a presença digital é um fator crítico de sucesso. Estamos, por isso, a dias de apresentar o nosso Marketplace, o primeiro de uma região de turismo portuguesa e que acredito permitirá um crescimento nas vendas das empresas que se queiram associar. Estamos também a dias de apresentar a nova imagem do Turismo do Porto e Norte, queremos que os 4 sub-destinos se sintam integrados numa imagem contemporânea e que quer assumir, sem tibiezas, que a origem e o mais original de Portugal, têm um nome – Porto e Norte. Temos igualmente feito algumas revoluções na estrutura. É certo que ainda há muito por fazer, no entanto, hoje somos uma organização mais forte, mais unida, que pratica salários mais justos, onde, por exemplo, existe finalmente um regulamento de carreiras e acredito que os colaboradores sentem que existe um excelente ambiente de trabalho.
É formado em design, graduado em marketing, foi deputado na assembleia, fez assessoria, desempenhou cargos de comunicação e marketing, em diversas instituições, e ainda leciona marketing. Diríamos que comunicar está-lhe na génese. De que forma tem comunicado as suas ideias desde que assumiu a presidência da ATP?
E são sempre bem aceites? Quem não comunica não existe, hoje mais do que nunca, por isso dou muita importância a essa área, é o que nos faz destacar no meio de centenas de concorrentes. Hoje somos conhecidos por ter campanhas muito criativas, conquistámos dezenas de prémios internacionais, e sei que as expectativas são agora mais elevadas. Na verdade, não me posso queixar, tenho uma equipa excelente, que tem aceitado as minhas ideias, mas onde o diálogo é permanente e eu também gosto de ouvir as ideias dos outros. Atuamos muito com base em ferramentas como o brainstorming, todas as ideias são bem-vindas, sabendo que, por vezes, é de um grande disparate que surge uma ideia luminosa. É um processo sério, mas divertido e a equipa conhece-o bem. Estamos todos e todas, até porque a maioria são mulheres, muito alinhados.
Além de presidente da ATP, também assume a presidência da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte (TPNP). De que forma estas duas entidades se complementam?
O objetivo é ter uma fusão funcional, permitindo que áreas como a comunicação e o marketing possam trabalhar em conjunto. Nem sempre é fácil, é uma novidade no seio das duas instituições, nem todos os colaboradores o entendem, mas estamos a dar passos importantes. Sucintamente, a TPNP tem como missão principal estruturar os produtos turísticos da região e fazer a promoção no país e em Espanha; já a ATP é a responsável por toda a promoção externa, com exceção de Espanha. É fácil a complementaridade e faz todo o sentido terem um trabalho de grande proximidade. Uma é constituída, maioritariamente, por parceiros privados, a outra, por parceiros públicos. Sempre defendi que se existe setor onde público e privado têm de estar juntos, é no setor do turismo, também por isso esta proximidade é benéfica.
«Sempre defendi que se existe setor onde público e privado têm de estar juntos, é no setor do turismo»
O setor do turismo, fator essencial para a economia do país, tem crescido nos últimos anos, mas, ainda assim, estamos muito aquém, comparativamente a outros países europeus. O que necessitamos exatamente, em Portugal, para nos posicionarmos ao nível de outros destinos turísticos?
Portugal tem realizado um percurso notável, somos hoje uma superbrand. O país tem sido reconhecido por diversas vezes, internacionalmente, como melhor destino turístico do mundo. O Instituto do Turismo de Portugal é dos mais prestigiados a nível europeu e mundial, conseguindo inúmeros prémios internacionais de grande relevo. Recordo também que, ao nível das infraestruturas do turismo, ocupamos os primeiros lugares do ranking mundial – em 2019, erámos os primeiros da lista do Fórum Económico Mundial. Permita-me que recorde um número que diz bem do sucesso que o turismo português tem alcançado – as receitas do turismo atingiram, em 2022, os 21 mil milhões de euros, superando em 20% o valor registado em 2019, naquele que foi considerado o melhor ano turístico de sempre. É obra, principalmente após dois anos de pandemia.
Temos muito orgulho na marca Portugal, mas sabemos que as marcas regionais são fundamentais para o crescimento do turismo. Felizmente, vivemos um momento de grande harmonia entre todos, a relação com os colegas das outras regiões é excelente, somos um país pequeno para nos dividirmos e, felizmente, muito diverso para nos podermos complementar e é o que temos feito, por isso, vamos constantemente juntos para ações de promoção externa. Claro que nem tudo está bem, posso lhe deixar dois exemplos que em muito contribuiriam para melhorar o nosso posicionamento e competitividade – a construção do famigerado aeroporto para Lisboa e uma nova ligação ferroviária Porto/Lisboa, rápida, segura e confortável.
A mobilidade ferroviária entre cidades é um dos fatores que condiciona, muitas das vezes, os turistas a visitarem mais do que uma ou duas cidades. Como se pode colmatar isso, por forma a que o destino Porto e Norte passe a ter mais procura turística? E de que forma o governo pode ou deve intervir?
Isso é o que já acontece no Norte entre algumas cidades. O crescimento do turismo em Braga tem sido possível, também, graças a uma boa ligação ferroviária, o mesmo acontece com Aveiro, que, não estando na nossa região, beneficia, e ainda bem, de uma excelente ligação ao Porto. A eletrificação da linha do Minho foi um projeto exemplar, numa linha que já não via investimento há quase um século. Tivemos demasiados anos sem investir na ferrovia e hoje acredito que todos percebemos o erro, nomeadamente quando muitos países europeus fizeram o caminho aposto. Há ainda muito por fazer, o Douro e Trás-os-Montes precisam urgentemente que se invista na ferrovia. Sobre a Linha do Douro, da qual somos grandes e entusiastas defensores, quero acreditar que finalmente vai poder ver a luz do dia, assim está anunciado pelo governo. Fizemos parte de um grupo de trabalho, liderado pela CCDRN, que teve como objetivo avaliar a importância deste projeto ao nível social, económico, turístico, entre outros, e ficou muito clara a sua pertinência. A Linha do Douro irá transformar a região e permitirá aproximar duas regiões transfronteiriças, o Douro e Castela e Leão. Se queremos turistas em todo o território e não apenas concentrados nas grandes cidades, então temos de investir mais na mobilidade.
Por outro lado, também a conectividade aérea tem vindo a criar um maior fluxo de entradas de passageiros/turistas no Norte. Terá o Norte que pensar também, a um curto/médio prazo, na possibilidade de se construir um novo aeroporto?
O aeroporto Francisco Sá Carneiro está a receber em média 50 mil turistas por dia, um número bem acima do ano recorde de 2019, em que registou 13 milhões de movimentos de passageiros. Temos hoje 105 rotas, operadas por 29 companhias aéreas, o que diz bem do crescimento operado nos últimos anos. Tenho a informação de que o aeroporto pode crescer até à capacidade de 40 milhões de passageiros, com obras, obviamente, mas sem ter de mudar de localização. Ou seja, a possibilidade de novo aeroporto não se coloca, já basta a vergonha e o embaraço que temos de enfrentar por não termos conseguido construir um novo em 50 anos, o que seria se fossem dois.
«O Instituto do Turismo de Portugal é dos mais prestigiados a nível europeu e mundial»
Têm sido vários os desafios, alguns inesperados como a pandemia, que foi, sem dúvida, o maior de todos. Passar de um momento de crescimento para o zero absoluto foi algo difícil de admitir e logo no início de um mandato. Obrigou-nos a encontrar forças e soluções, que nem imaginávamos possuir. Nós não parámos um minuto, nunca baixámos os braços, estivemos sempre a preparar o day after, sabíamos que ele chegaria e, nesse momento, queríamos que a atenção dos mercados recaísse novamente sobre nós. O desafio era o de manter a notoriedade da região top of mind. Julgo que o conseguimos, com sucesso, pode parecer presunçoso, mas os números e os diversos prémios alcançados pelas nossas campanhas de comunicação e marketing assim o demonstram. Acreditava que a recuperação do setor iria ser rápida, mas não tão rápida como acabou por suceder. O Turismo foi a grande alavanca da economia nacional no pós-pandemia.
No caso da ATP, enquanto Agência de Promoção Externa da região, a estratégia está bem definida – continuar o trabalho de promoção, junto dos nossos principais mercados emissores, nomeadamente nos de longa distância, onde os EUA, Canadá e Brasil são os mais relevantes, sem esquecer a Ásia, um mercado que ainda não recuperou, mas que acredito estará de regresso, em força, em 2024.
Noutra dimensão, mais interna, estamos a preparar a organização para os novos tempos, onde a presença digital é um fator crítico de sucesso. Estamos, por isso, a dias de apresentar o nosso Marketplace, o primeiro de uma região de turismo portuguesa e que acredito permitirá um crescimento nas vendas das empresas que se queiram associar. Estamos também a dias de apresentar a nova imagem do Turismo do Porto e Norte, queremos que os 4 sub-destinos se sintam integrados numa imagem contemporânea e que quer assumir, sem tibiezas, que a origem e o mais original de Portugal, têm um nome – Porto e Norte. Temos igualmente feito algumas revoluções na estrutura. É certo que ainda há muito por fazer, no entanto, hoje somos uma organização mais forte, mais unida, que pratica salários mais justos, onde, por exemplo, existe finalmente um regulamento de carreiras e acredito que os colaboradores sentem que existe um excelente ambiente de trabalho.
É formado em design, graduado em marketing, foi deputado na assembleia, fez assessoria, desempenhou cargos de comunicação e marketing, em diversas instituições, e ainda leciona marketing. Diríamos que comunicar está-lhe na génese. De que forma tem comunicado as suas ideias desde que assumiu a presidência da ATP?
E são sempre bem aceites? Quem não comunica não existe, hoje mais do que nunca, por isso dou muita importância a essa área, é o que nos faz destacar no meio de centenas de concorrentes. Hoje somos conhecidos por ter campanhas muito criativas, conquistámos dezenas de prémios internacionais, e sei que as expectativas são agora mais elevadas. Na verdade, não me posso queixar, tenho uma equipa excelente, que tem aceitado as minhas ideias, mas onde o diálogo é permanente e eu também gosto de ouvir as ideias dos outros. Atuamos muito com base em ferramentas como o brainstorming, todas as ideias são bem-vindas, sabendo que, por vezes, é de um grande disparate que surge uma ideia luminosa. É um processo sério, mas divertido e a equipa conhece-o bem. Estamos todos e todas, até porque a maioria são mulheres, muito alinhados.
Além de presidente da ATP, também assume a presidência da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte (TPNP). De que forma estas duas entidades se complementam?
O objetivo é ter uma fusão funcional, permitindo que áreas como a comunicação e o marketing possam trabalhar em conjunto. Nem sempre é fácil, é uma novidade no seio das duas instituições, nem todos os colaboradores o entendem, mas estamos a dar passos importantes. Sucintamente, a TPNP tem como missão principal estruturar os produtos turísticos da região e fazer a promoção no país e em Espanha; já a ATP é a responsável por toda a promoção externa, com exceção de Espanha. É fácil a complementaridade e faz todo o sentido terem um trabalho de grande proximidade. Uma é constituída, maioritariamente, por parceiros privados, a outra, por parceiros públicos. Sempre defendi que se existe setor onde público e privado têm de estar juntos, é no setor do turismo, também por isso esta proximidade é benéfica.
«Sempre defendi que se existe setor onde público e privado têm de estar juntos, é no setor do turismo»
O setor do turismo, fator essencial para a economia do país, tem crescido nos últimos anos, mas, ainda assim, estamos muito aquém, comparativamente a outros países europeus. O que necessitamos exatamente, em Portugal, para nos posicionarmos ao nível de outros destinos turísticos?
Portugal tem realizado um percurso notável, somos hoje uma superbrand. O país tem sido reconhecido por diversas vezes, internacionalmente, como melhor destino turístico do mundo. O Instituto do Turismo de Portugal é dos mais prestigiados a nível europeu e mundial, conseguindo inúmeros prémios internacionais de grande relevo. Recordo também que, ao nível das infraestruturas do turismo, ocupamos os primeiros lugares do ranking mundial – em 2019, erámos os primeiros da lista do Fórum Económico Mundial. Permita-me que recorde um número que diz bem do sucesso que o turismo português tem alcançado – as receitas do turismo atingiram, em 2022, os 21 mil milhões de euros, superando em 20% o valor registado em 2019, naquele que foi considerado o melhor ano turístico de sempre. É obra, principalmente após dois anos de pandemia.
Temos muito orgulho na marca Portugal, mas sabemos que as marcas regionais são fundamentais para o crescimento do turismo. Felizmente, vivemos um momento de grande harmonia entre todos, a relação com os colegas das outras regiões é excelente, somos um país pequeno para nos dividirmos e, felizmente, muito diverso para nos podermos complementar e é o que temos feito, por isso, vamos constantemente juntos para ações de promoção externa. Claro que nem tudo está bem, posso lhe deixar dois exemplos que em muito contribuiriam para melhorar o nosso posicionamento e competitividade – a construção do famigerado aeroporto para Lisboa e uma nova ligação ferroviária Porto/Lisboa, rápida, segura e confortável.
A mobilidade ferroviária entre cidades é um dos fatores que condiciona, muitas das vezes, os turistas a visitarem mais do que uma ou duas cidades. Como se pode colmatar isso, por forma a que o destino Porto e Norte passe a ter mais procura turística? E de que forma o governo pode ou deve intervir?
Isso é o que já acontece no Norte entre algumas cidades. O crescimento do turismo em Braga tem sido possível, também, graças a uma boa ligação ferroviária, o mesmo acontece com Aveiro, que, não estando na nossa região, beneficia, e ainda bem, de uma excelente ligação ao Porto. A eletrificação da linha do Minho foi um projeto exemplar, numa linha que já não via investimento há quase um século. Tivemos demasiados anos sem investir na ferrovia e hoje acredito que todos percebemos o erro, nomeadamente quando muitos países europeus fizeram o caminho aposto. Há ainda muito por fazer, o Douro e Trás-os-Montes precisam urgentemente que se invista na ferrovia. Sobre a Linha do Douro, da qual somos grandes e entusiastas defensores, quero acreditar que finalmente vai poder ver a luz do dia, assim está anunciado pelo governo. Fizemos parte de um grupo de trabalho, liderado pela CCDRN, que teve como objetivo avaliar a importância deste projeto ao nível social, económico, turístico, entre outros, e ficou muito clara a sua pertinência. A Linha do Douro irá transformar a região e permitirá aproximar duas regiões transfronteiriças, o Douro e Castela e Leão. Se queremos turistas em todo o território e não apenas concentrados nas grandes cidades, então temos de investir mais na mobilidade.
Por outro lado, também a conectividade aérea tem vindo a criar um maior fluxo de entradas de passageiros/turistas no Norte. Terá o Norte que pensar também, a um curto/médio prazo, na possibilidade de se construir um novo aeroporto?
O aeroporto Francisco Sá Carneiro está a receber em média 50 mil turistas por dia, um número bem acima do ano recorde de 2019, em que registou 13 milhões de movimentos de passageiros. Temos hoje 105 rotas, operadas por 29 companhias aéreas, o que diz bem do crescimento operado nos últimos anos. Tenho a informação de que o aeroporto pode crescer até à capacidade de 40 milhões de passageiros, com obras, obviamente, mas sem ter de mudar de localização. Ou seja, a possibilidade de novo aeroporto não se coloca, já basta a vergonha e o embaraço que temos de enfrentar por não termos conseguido construir um novo em 50 anos, o que seria se fossem dois.
«O Instituto do Turismo de Portugal é dos mais prestigiados a nível europeu e mundial»
Está o Norte preparado para receber turistas de luxo? Isso requer serviços e alojamentos de qualidade. E, para isso, é essencial capacitar as cidades, e os interiores, com alojamentos de maior qualidade.
Queremos receber turistas ao longo de todo o ano e nos quatro sub-destinos. Com exceção de Trás-os-Montes, onde é evidente a necessidade de alojamento – embora, no último ano, tenham surgido investimentos muito interessantes, alguns deles já em construção –, o resto da região regista um bom equilíbrio entre a oferta e a procura. Claro que a aposta está concentrada na atração de segmentos de alto rendimento, nomeadamente de longa distância, o que felizmente temos conseguido, e não me refiro apenas ao segmento de luxo. Esses mercados resolvem vários problemas, aumentam a estada média, contribuem para a diminuição da sazonalidade, consomem mais e preferem territórios menos povoados. No entanto, a região está preparada para receber turistas de vários segmentos e tem, neste momento, oferta para todos, o luxo é um deles, mas, para que fique claro, para dar resposta a este segmento não chega a aposta na hotelaria. Claro que seria importante para o nosso posicionamento receber na região mais marcas internacionais de grande notoriedade, a exemplo do que já acontece no Douro com a cadeia Six Senses, ou em Vila Nova de Gaia com o Yeatman. Para atrair os mercados de luxo é necessário que toda a jornada do cliente seja irrepreensível, desde o primeiro contacto com o destino, até ao pós-venda, é um trabalho 360º.
Importa referir que este objetivo tem de assentar numa base de sustentabilidade da região, até porque é hoje consensual que esse trabalho reforça a competitividade de um destino. É por isso que queremos provocar na região um enorme desafio de mobilização em torno desta questão, um movimento de empresas, municípios, academia, que se comprometa com a sustentabilidade nos seus 4 pilares – social, económico, cultural e ambiental. Se tiver de fazer opções, hoje, não tenho a menor dúvida de que a aposta tem de ser na sustentabilidade.
O Norte está a ser apoiado, pelo atual governo, em relação aos investimentos direcionados para o setor do turismo?
É uma luta antiga e transversal a todos os governos, esta disparidade sempre existiu, a diferença é que as restantes regiões têm hoje uma força diferente e que as faz atrair milhões de turistas, apesar dos poucos recursos de que dispõem. Somos talvez mais criativos e realizamos autênticos milagres. Os grandes eventos internacionais são essenciais para a projeção internacional das regiões e, por essa mesma razão, deveriam ter uma distribuição mais homogénea.
De que forma está o Norte preparado para ser um Golf Destination de destaque internacional? O que tem a oferecer de diferente? E que medidas estão previstas?
Pela primeira vez, o Turismo do Porto e Norte participou em 2022 na IGTM, em Roma, uma participação em conjunto com a associação Porto Golf Destination. Obtivemos boas e más notícias. Os grandes operadores internacionais são muito claros – a nossa região tem de crescer no número de campos de golfe de 18 buracos, ter pelo menos 7 a 10 campos, só assim poderemos ambicionar ser considerados um destino de golfe. As boas notícias são que há, hoje, novas tendências, no perfil do turista de golfe, que obriga os operadores a encontrar produtos que facilmente possam cruzar/complementar com o golfe, como, por exemplo, o enoturismo, a gastronomia, ou o touring cultural. Esta é, por isso, a nossa grande oportunidade, pois o que não nos faltam são ativos passíveis de ser cruzados com o golfe. Mas isso ainda não chega, é necessário estruturar produto turístico ao longo de todo o ano e complementar com eventos internacionais. Queremos contribuir nesta tarefa e mudar o paradigma, é um segmento onde estamos a apostar e a nossa presença em feiras internacionais é um exemplo disso.
«Os grandes eventos internacionais são essenciais para a projeção internacional das regiões e, por essa mesma razão, deveriam ter uma distribuição mais homogénea»
O turismo nacional passou por uma fase de regressão, com a pandemia, e o regressar à normalidade demorou o seu tempo. Os apoios oferecidos aos empresários do setor nem sempre foram suficientes. Muitos fecharam portas. No seu entender, que tipo de apoio deve ser dado ao setor turístico nacional para que este continue a corresponder às expectativas do turista?
O turismo foi o setor mais afetado pela pandemia, razão pela qual entre 2020 e dezembro de 2022, o estado investiu no apoio às empresas com 2,8 mil milhões de euros, quase 800 milhões a fundo perdido. Num contexto pós-pandemia, os desafios são outros, embora reconheça que muitas empresas ainda não recuperaram e, por isso, o governo tem de estar atento a esses casos, razão pela qual muitos deles ainda se mantêm. E acho muito importante o surgimento de novas ferramentas, como a Agenda para o Interior. Há, no entanto, outros fatores que dependem do Estado e que podem ser determinantes para resolver a gestão das expectativas dos turistas, algumas delas já aqui faladas, outras não – como a urgência de um novo aeroporto, mais e melhor mobilidade, a rápida execução da solução que vai substituir o SEF, a rapidez nos processos de atribuição de vistos, tendo em conta a escassez de mão de obra...
Qual será, no futuro, o grande problema do setor do turismo em Portugal?
Os desafios estão identificados, a falta de mão de obra é seguramente um deles, assim como o são a possibilidade de novas pandemias, conflitos como o que se vive na Ucrânia, ou as alterações climáticas. Mas queria destacar um outro tipo de desafios, mais ao nível do governence e da organização. A par da definição de uma política de desenvolvimento turístico humanizado, para os destinos turísticos, defendemos que as organizações turísticas operem a nível regional e integrem as competências de governação e gestão do destino numa administração que integra as 4 hélices que corporizam os principais stakeholders do destino: setor público; dinâmica empresarial, orientada para o mercado; conhecimento através da contribuição da aplicação da ciência, produzida pela academia; e o poder da relevância sociocultural, conferido pelo compromisso com o bem-estar da comunidade.
Conclua: é tempo de...
acreditar neste setor, que é unido e tem dado bons exemplos ao país, quer seja no reconhecimento que permite à marca Portugal e que beneficia todos os outros setores de atividade, quer nas receitas e resultados alcançados. Com estes resultados, o setor pode afirmar que é também tempo de ver revisto o orçamento do turismo, quer seja do Turismo do Portugal, das Entidades Regionais e das Agências de Promoção Externa. Com muito pouco, fizemos autênticos milagres, é tempo de acreditar que podemos fazer ainda muito mais. O propósito do turismo é claro, contribuir para a coesão social e territorial, apostar e investir onde porventura outros já desistiram, como por exemplo no Interior, que para nós é uma maravilhosa oportunidade.
Queremos receber turistas ao longo de todo o ano e nos quatro sub-destinos. Com exceção de Trás-os-Montes, onde é evidente a necessidade de alojamento – embora, no último ano, tenham surgido investimentos muito interessantes, alguns deles já em construção –, o resto da região regista um bom equilíbrio entre a oferta e a procura. Claro que a aposta está concentrada na atração de segmentos de alto rendimento, nomeadamente de longa distância, o que felizmente temos conseguido, e não me refiro apenas ao segmento de luxo. Esses mercados resolvem vários problemas, aumentam a estada média, contribuem para a diminuição da sazonalidade, consomem mais e preferem territórios menos povoados. No entanto, a região está preparada para receber turistas de vários segmentos e tem, neste momento, oferta para todos, o luxo é um deles, mas, para que fique claro, para dar resposta a este segmento não chega a aposta na hotelaria. Claro que seria importante para o nosso posicionamento receber na região mais marcas internacionais de grande notoriedade, a exemplo do que já acontece no Douro com a cadeia Six Senses, ou em Vila Nova de Gaia com o Yeatman. Para atrair os mercados de luxo é necessário que toda a jornada do cliente seja irrepreensível, desde o primeiro contacto com o destino, até ao pós-venda, é um trabalho 360º.
Importa referir que este objetivo tem de assentar numa base de sustentabilidade da região, até porque é hoje consensual que esse trabalho reforça a competitividade de um destino. É por isso que queremos provocar na região um enorme desafio de mobilização em torno desta questão, um movimento de empresas, municípios, academia, que se comprometa com a sustentabilidade nos seus 4 pilares – social, económico, cultural e ambiental. Se tiver de fazer opções, hoje, não tenho a menor dúvida de que a aposta tem de ser na sustentabilidade.
O Norte está a ser apoiado, pelo atual governo, em relação aos investimentos direcionados para o setor do turismo?
É uma luta antiga e transversal a todos os governos, esta disparidade sempre existiu, a diferença é que as restantes regiões têm hoje uma força diferente e que as faz atrair milhões de turistas, apesar dos poucos recursos de que dispõem. Somos talvez mais criativos e realizamos autênticos milagres. Os grandes eventos internacionais são essenciais para a projeção internacional das regiões e, por essa mesma razão, deveriam ter uma distribuição mais homogénea.
De que forma está o Norte preparado para ser um Golf Destination de destaque internacional? O que tem a oferecer de diferente? E que medidas estão previstas?
Pela primeira vez, o Turismo do Porto e Norte participou em 2022 na IGTM, em Roma, uma participação em conjunto com a associação Porto Golf Destination. Obtivemos boas e más notícias. Os grandes operadores internacionais são muito claros – a nossa região tem de crescer no número de campos de golfe de 18 buracos, ter pelo menos 7 a 10 campos, só assim poderemos ambicionar ser considerados um destino de golfe. As boas notícias são que há, hoje, novas tendências, no perfil do turista de golfe, que obriga os operadores a encontrar produtos que facilmente possam cruzar/complementar com o golfe, como, por exemplo, o enoturismo, a gastronomia, ou o touring cultural. Esta é, por isso, a nossa grande oportunidade, pois o que não nos faltam são ativos passíveis de ser cruzados com o golfe. Mas isso ainda não chega, é necessário estruturar produto turístico ao longo de todo o ano e complementar com eventos internacionais. Queremos contribuir nesta tarefa e mudar o paradigma, é um segmento onde estamos a apostar e a nossa presença em feiras internacionais é um exemplo disso.
«Os grandes eventos internacionais são essenciais para a projeção internacional das regiões e, por essa mesma razão, deveriam ter uma distribuição mais homogénea»
O turismo nacional passou por uma fase de regressão, com a pandemia, e o regressar à normalidade demorou o seu tempo. Os apoios oferecidos aos empresários do setor nem sempre foram suficientes. Muitos fecharam portas. No seu entender, que tipo de apoio deve ser dado ao setor turístico nacional para que este continue a corresponder às expectativas do turista?
O turismo foi o setor mais afetado pela pandemia, razão pela qual entre 2020 e dezembro de 2022, o estado investiu no apoio às empresas com 2,8 mil milhões de euros, quase 800 milhões a fundo perdido. Num contexto pós-pandemia, os desafios são outros, embora reconheça que muitas empresas ainda não recuperaram e, por isso, o governo tem de estar atento a esses casos, razão pela qual muitos deles ainda se mantêm. E acho muito importante o surgimento de novas ferramentas, como a Agenda para o Interior. Há, no entanto, outros fatores que dependem do Estado e que podem ser determinantes para resolver a gestão das expectativas dos turistas, algumas delas já aqui faladas, outras não – como a urgência de um novo aeroporto, mais e melhor mobilidade, a rápida execução da solução que vai substituir o SEF, a rapidez nos processos de atribuição de vistos, tendo em conta a escassez de mão de obra...
Qual será, no futuro, o grande problema do setor do turismo em Portugal?
Os desafios estão identificados, a falta de mão de obra é seguramente um deles, assim como o são a possibilidade de novas pandemias, conflitos como o que se vive na Ucrânia, ou as alterações climáticas. Mas queria destacar um outro tipo de desafios, mais ao nível do governence e da organização. A par da definição de uma política de desenvolvimento turístico humanizado, para os destinos turísticos, defendemos que as organizações turísticas operem a nível regional e integrem as competências de governação e gestão do destino numa administração que integra as 4 hélices que corporizam os principais stakeholders do destino: setor público; dinâmica empresarial, orientada para o mercado; conhecimento através da contribuição da aplicação da ciência, produzida pela academia; e o poder da relevância sociocultural, conferido pelo compromisso com o bem-estar da comunidade.
Conclua: é tempo de...
acreditar neste setor, que é unido e tem dado bons exemplos ao país, quer seja no reconhecimento que permite à marca Portugal e que beneficia todos os outros setores de atividade, quer nas receitas e resultados alcançados. Com estes resultados, o setor pode afirmar que é também tempo de ver revisto o orçamento do turismo, quer seja do Turismo do Portugal, das Entidades Regionais e das Agências de Promoção Externa. Com muito pouco, fizemos autênticos milagres, é tempo de acreditar que podemos fazer ainda muito mais. O propósito do turismo é claro, contribuir para a coesão social e territorial, apostar e investir onde porventura outros já desistiram, como por exemplo no Interior, que para nós é uma maravilhosa oportunidade.