VillaseGolfe
· Economia & Negócios · · T. Carla Martins · F. Nuno Almendra

Omar Guerra

«Tive de conhecer as minhas limitações e aprender (...) a lidar com elas de forma sustentável.»

Villas&Golfe Pub. PUB HOMES IN HEAVEN Pub.
Vidago Villa Pub.
PMmedia PUB Pub.

Nascido em Luanda e com nacionalidade portuguesa, Omar Guerra é o atual Presidente da Comissão Executiva do BAI Europa, que completa 26 anos de atividade em Portugal e se distingue pelo sucesso na relação com Angola e com outros países africanos de língua portuguesa. À Villas&Golfe, Omar Guerra fala do percurso de sucesso e dos ensinamentos que a vivência de um burnout trouxe à sua vida pessoal e profissional.

Fale-nos um pouco sobre o seu percurso pessoal e profissional.
Nasci em Luanda e tenho origem portuguesa, angolana e cabo-verdiana. Com quase um ano de idade vim para Lisboa e mais tarde ingressei na faculdade, no curso de Gestão de Empresas do ISCTE. Depois, iniciei a minha vida profissional como auditor financeiro na Deloitte e também passei pela área de consultoria fiscal, acabando por me tornar Revisor Oficial de Contas. Iniciei funções no Banco BAI Europa, quando este se tinha acabado de transformar em filial em Portugal, e criei o gabinete de auditoria interna; fui Diretor Financeiro e, mais tarde, nomeado administrador executivo. Neste período, também acumulei funções de administrador não executivo na Fomentinvest. Mais tarde, exerci funções de administrador não executivo no conselho de administração da nossa casa-mãe, o BAI Angola. Desde 2021, sou presidente da Comissão Executiva do BAI Europa.

O BAIE foi o primeiro banco de matriz angolana a abrir uma sucursal no nosso país. Passaram-se 26 anos. O que significa chegar até aqui?
Tem um duplo significado. Por um lado, fomos os pioneiros e este é um valor que faz parte do ADN do Grupo BAI. Por outro lado, isso acarreta uma responsabilidade acrescida. Temos de garantir a sustentabilidade da instituição a longo prazo, num contexto de mercado extremamente competitivo e, seguramente, num dos setores mais regulados.

Têm feito um percurso de sucesso com empresas portuguesas, mas também de outros países da EU, que realizam operações de exportação e investimento em Angola. Qual é exatamente o posicionamento do BAIE em Portugal?
Pelo facto de a nossa casa-mãe ser uma instituição de crédito líder em Angola, tanto Portugal como Angola são, simultaneamente, parceiros comerciais relevantes e o BAI Europa tem vantagens competitivas importantes na área do trade finance. Somos especialistas muito experientes neste segmento de mercado e, claramente, temos uma oferta competitiva, que nos permite ter acesso a várias empresas em Portugal.

Em 2021, expandiram a vossa atividade ao segmento de particulares. Quais são as suas principais áreas de negócio? De que forma é que o BAIE se destaca das restantes instituições bancárias?
O negócio do BAI Europa desenvolve-se em três linhas de negócio principais: Banca Institucional, com o serviço de correspondente e intermediário de outros bancos fora do espaço europeu; Banca de Empresas, com enfoque no nicho de mercado das empresas residentes em Portugal, ou em outros países da União Europeia e que realizam operações de exportação e de investimento em Angola; e Banca de Particulares, alicerçada em produtos simples de poupança e que surgiu com o objetivo de diversificar a base de financiamento do banco.


Como é que a instituição se tem adaptado aos desafios do setor?
O atual quadro regulatório é um desafio acrescido para as instituições financeiras de menor dimensão, como é o caso do BAI Europa. Por outro lado, um dos objetivos do atual Plano Estratégico e de Negócios é o de gerar mais produto bancário e melhor acomodar um maior investimento tecnológico e na estrutura. Outro dos desafios é o enorme encargo suportado com as várias contribuições para o setor bancário e que resultam tanto da regulação europeia como da legislação nacional.

Portugal é cada vez mais procurado por milionários para viver e investir, e o setor de luxo continua a crescer. Esta dinâmica social e financeira tem tido impacto na vossa instituição?
Para já não tem tido muito impacto. O atual Plano Estratégico não privilegia a captação de clientes de alto rendimento. Mas, em 2025, iremos iniciar um novo ciclo de revisão do Planeamento Estratégico e, eventualmente, estes clientes poderão ser target.

Quais são as áreas de investimento em Portugal em que vale a pena apostar atualmente?
A área que tem sido a grande aposta de investimento em Portugal tem sido o setor imobiliário. Apesar do crescimento dos preços, permanece o entendimento de que, comparativamente com outras metrópoles europeias, estes ainda têm margem para crescer. Quanto ao setor financeiro, constatamos que as instituições financeiras a operar em Portugal (incluindo o BAI Europa) têm apoiado o dinamismo neste setor. No entanto, observamos que apolítica de concessão de crédito é mais conservadora do que no passado.

O BAIE tem defendido uma cultura de suporte da saúde mental e foi público o seu testemunho pessoal de burnout, superado com apoio especializado. Há algum ensinamento valioso que tenha ficado depois desta experiência?
Ficaram vários .O primeiro foi compreender que o processo de aceitação é um ponto de partida para o crescimento. Aceitar que temos limites, que passámos os limites, que precisamos de ajuda. O outro aspeto importante foi compreender que o maior responsável pelas situações em que nos encontramos somos nós próprios. Para o bem ou para o mal, as opções e decisões que tomamos ao longo da vida refletem-se em nós. Este processo de responsabilização e aceitação foi fundamental para compreender que, mesmo com ajuda, deveria ser eu próprio a dar os passos para ultrapassar a situação. Tive de conhecer as minhas limitações e aprender como poderia desenvolver as ferramentas para lidar com elas de uma forma sustentável. Não tenho dúvidas de que, depois deste processo, me tornei muito mais feliz em todos os papéis que desempenho na minha vida.

Em que medida considera que os bancos devam ter um papel social mais alargado? Isto no que se refere a causas sociais, à sustentabilidade e mesmo a questões como a da saúde mental.
Em primeiro lugar, pelo papel que as instituições de crédito têm na sociedade e como a concessão de crédito impacta tanto a vida das empresas e das pessoas. Relativamente ao processo de transição para uma economia hipocarbónica, não é desejável que os bancos apenas apoiem os setores com baixas emissões de carbono. Antes pelo contrário, devem apoiar as empresas que de facto estão a trabalhar no processo de transição dos seus modelos de negócio para, a prazo, baixarem os níveis de emissões. Por último, sendo o setor bancário uma atividade tão exigente, é fundamental estarmos atentos aos próprios colaboradores, nomeadamente para estarem instituídos os mecanismos internos de alerta e de prevenção, mas também disponibilizar serviços de suporte especializado.

Como ocupa os seus tempos livres? Ler? Estar em família? Viajar? Como recarrega energias?
Estar com a família mais próxima e com os amigos é essencial. Os meus papéis de pai e de companheiro são aspetos essenciais para a realização e crescimento pessoal em equilíbrio com a minha vida profissional. Desde há muito tempo que faço desporto com muita regularidade, antes de começar o dia. Este é o meu método de carregamento de bateria diário. Os fins de semana, as férias e as viagens com a minha companheira e com os nossos filhos são o método de carregamento de bateria reforçado. Também gosto de ler livros que me obriguem a refletir e a desafiar-me a mim próprio.

O que considera um privilégio na sua vida?
Ter saúde e ter as pessoas de quem gosto ao meu lado.

Tem nacionalidade angolana e portuguesa. O que, para si, pode ser potenciado entre os dois países?
Com as alterações geopolíticas que resultam do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, surgiu um forte interesse estratégico por parte dos EUA e da UE em aproximarem-se e reforçar a parcerias estratégicas com o continente africano. Creio que Portugal poderá desempenhar um papel de intermediação importante neste processo, no que diz respeito à UE.

Que conselho financeiro ou de investimento deixaria a um jovem estudante, prestes a terminar o seu percurso académico?
Destinar parte dos recursos financeiros ao futuro, para temas essenciais (habitação, saúde, educação) e fazer um investimento seguro, simples e que compreendam. A outra parte: colocar num investimento de maior risco, mas que compreendam também. Importa não esquecer que um investimento com alta rentabilidade tem sempre alto risco, na medida em que pode levar a perdas significativas.


«Somos especialistas muito experientes [na área do tradefinance
Carla Martins
T. Carla Martins
F. Nuno Almendra
Política de Cookies

Este site utiliza Cookies. Ao navegar, está a consentir o seu uso. Saiba mais

Compreendi