Pedro Couto assumiu há 25 anos as rédeas da Telhabel, hoje uma reconhecida empresa de construção civil e obras públicas, que herdou do pai e que em 2023 comemora meio século. Para trás fica o retrato de um percurso feito de altos e baixos, mas trilhado sempre com muita garra. O passado e o presente desta construtora partilham, aliás, muitos pontos. Qualidade, fiabilidade e humildade são apenas três deles. Mas a grande aposta do PCA da Telhabel Construções, um homem que gosta de riscos controlados, é ter os olhos postos no futuro.
A Telhabel começou em 1973, com um sonho do seu pai. Que caminho percorreu a empresa até chegar às suas mãos?
A Telhabel surge em 1973 como Telhabel – Fábrica de Telha de Betão Lda., graças à visão de mercado dos respetivos fundadores – de entre os quais, o meu pai – que cedo perceberam que as telhas em betão tinham um potencial significativo.
Na década de 80, a Telhabel diversificou a sua atividade dedicando-se à produção de estruturas pré-fabricadas de betão, antecipando, uma vez mais, uma tendência de mercado. Esta atividade, que era geralmente desprezada pelas grandes empresas, acabou por constituir uma excelente oportunidade para uma pequena empresa conseguir uma posição de liderança através de uma oferta muito específica e adaptada às características e necessidades da indústria da construção civil. Consolidada que estava a posição da empresa no mercado dos pré-fabricados em betão, na indústria da construção civil, ainda no decorrer dos anos 80, a Telhabel expandiu o seu ramo de ação para o campo da construção de naves industriais, aproveitando deste modo todo o know how adquirido no início da década com a entrada no negócio das estruturas pré-fabricadas. A partir de meados da década de 80, a Telhabel considerou que devia voltar a diversificar a sua atividade, apostando fortemente na construção de edifícios para habitação.
O ano de 1996 é especialmente importante porque marca a entrada da Telhabel no setor da construção de obras públicas, uma aposta que permitiu um maior crescimento e presença da empresa em todas as vertentes da construção em Portugal. E é precisamente no final da década de 90 que começo o meu percurso na Telhabel. Fui tirar o curso de Contabilidade e comecei a trabalhar com 19 anos, fiz o curso enquanto trabalhava, basicamente. Quando o meu pai faleceu, em 1997, faltavam-me três cadeiras para acabar. Acabei-as passados uns quatro anos.
Como foi para si agarrar a empresa tão novo?
Eu tinha 25 anos e foi muito difícil. Já trabalhava com o meu pai, mas nada nos prepara para uma mudança tão dramática e inesperada… Foi muito complicado.
«Privilegiaremos as parcerias e o desenvolvimento em rede»
Em quase 50 anos aprende-se muito, sobretudo sobre resiliência. Estas décadas têm exigido muitos sacrifícios, mas também foram muitos os sucessos. Que balanço fazem?
Faço 50 anos este ano, a empresa faz para o ano, e temos um orgulho muito grande em tudo o que fizemos e uma expectativa ainda maior no que nos propomos fazer. Olhando para trás, hoje é particularmente claro que: existiu coragem e assertividade quando tinha de existir; o nosso trabalho tem qualidade e fiabilidade; conseguimos criar e manter uma equipa superlativa; e contamos com os melhores parceiros, clientes e fornecedores. Ainda assim, consideramos estar numa corrida de fundo, em que os nossos olhos estão postos no futuro, mas com a humildade de que temos sempre que aprender e melhorar. Espero continuar por muitos anos com esta postura de aprendizagem constante.
Quais foram os momentos mais marcantes da empresa?
A internacionalização. Fomos das primeiras empresas a internacionalizar bem. Com avanços e retrocessos, pois é um processo inerente. Em Espanha acabamos por fechar, mas Angola é um mercado onde ainda permanecemos e continuamos a apostar. Andámos por muitos outros países, mas acabamos por regressar, tendo em conta o equilíbrio do grupo na medição de risco, que sempre fizemos questão de manter.
«A nossa principal motivação é deixar para as gerações futuras a melhor Telhabel possível»
Dentro do que está a ser trabalhado, o que nos pode dizer sobre o futuro?
Arrisco dizer que nestes quase 50 anos de atividade nunca o futuro foi tão incerto, para todos. Quando achávamos que tínhamos superado uma pandemia, estala uma guerra na Europa e o cenário em que nos movemos muda drasticamente. Não obstante, a maturidade atingida pela Telhabel vai permitir-nos, por um lado, consolidar os investimentos e projetos em curso e, por outro lado, expandir seletivamente a nossa internacionalização. Com efeito, queremos continuar a crescer para outras geografias, mas esse crescimento terá sempre de ser apoiado numa forte gestão de riscos e operacionalizado de forma sustentável. Por isso, privilegiaremos as parcerias e o desenvolvimento em rede.
Quantos postos de trabalho garantem, direta e indiretamente, a Telhabel de Portugal e de Angola?
O Grupo Telhabel tem hoje, diretamente, 300 trabalhadores. Indiretamente, o grupo garante, seguramente, milhares de postos de trabalho. O principal fator de orgulho para nós é, no entanto, o baixíssimo nível de rotação de trabalhadores. Temos o privilégio de contar com colaboradores contemporâneos do tempo do meu pai e com uma antiguidade na Telhabel superior à minha, pelos quais nutro um profundo respeito.
Hoje são especialistas em várias áreas: educação, saúde, projetos residenciais, mas também em obras de arte. Como se consegue este nível de excelência?
Com a melhor equipa e com um grande «espírito de corpo». Tenho a forte convicção de que cada um dos colaboradores da Telhabel tem uma predisposição especial para desafios. O entusiasmo e a adrenalina sentem-se a cada novo projeto. Somos também muito permeáveis à inovação – não é por acaso que costumamos dizer que temos o ADN de empreendedor. Concomitantemente, a nossa principal motivação é deixar para as gerações futuras a melhor Telhabel possível. Acredito que é neste jogo de forças – ímpeto de superação, mas com responsabilidade e sustentabilidade – que reside o nosso valor acrescentado.