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· Presidente da Câmara Municipal de Bragança · · T. Joana Rebelo · F. Direitos Reservados

Hernâni Dias

«A gestão do tempo é sempre um grande desafio»

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No território de Bragança, o património é natural, a ciência é insurgente e o turismo é valioso. A gerir tudo isto, está Hernâni Dias, há três mandatos. Ao todo, 43 freguesias, 1173,6 km2 de área e 12.2804 habitantes. As fronteiras do distrito demarcam a sua gestão, semeando frutos que, mais tarde, espera virem a ser colhidos pelo país. O Presidente da Câmara Municipal de Bragança calça as galochas, quando é preciso. Veste a bata de laboratório, quando necessário. Veste a tradição e a história que carrega com orgulho, para onde quer que vá.  Entre seguir a razão ou a emoção, Hernâni opta por ambas, realçando o caráter humano de que nunca prescinde na tomada de decisões. Aqui, agora, um homem de causas, condutor da sua terra e da sua paixão. 

Assume a liderança da autarquia de Bragança e, em simultâneo, ocupa o cargo de Presidente do Centro de Ciência Viva do município. Na perspetiva de gestor, como administra as duas organizações?
Embora sejam realidades distintas e entidades completamente diferentes, os princípios que, na perspetiva do gestor, norteiam a liderança das instituições são muito idênticos, visto que são os que devem estar sempre na base da conduta de qualquer gestor, com principal enfâse e destaque para a questão da gestão de dinheiros públicos. A administração é feita de forma pacífica, também porque, em ambas, tenho excelentes colaboradores.  

Como atual Presidente da Câmara Municipal de Bragança, como descreveria a experiência que perdura há três mandatos?
Em primeiro lugar, devo referir que encaro, desde o início, a missão de ser presidente da câmara com grande responsabilidade, pois trata-se da missão de representar os concidadãos, que depositam em nós (enquanto equipa) essa confiança, quer da representação, quer da gestão dos bens públicos, que são de todos. É, ainda, uma experiência muito enriquecedora, ao nível da aprendizagem constante, do ponto de vista da gestão e do ponto de vista pessoal, que obriga a uma adaptação constante e exigente, levando à procura de um equilíbrio entre a firmeza, o rigor, mas também a proximidade, a escuta ativa e a afetividade necessária. E é, por fim, uma experiência muito gratificante. Quase no final do terceiro mandato, olhar para trás e pensar na visão estratégica que idealizámos para toda uma comunidade, depois de executá-la, verificar o resultado e constatar que contribuímos para a melhoria do bem-estar, do conforto e das condições de vida da população, traz, inevitavelmente, um sentimento de grande satisfação, e de dever humildemente cumprido.  

De que forma se gerem áreas tão distintas como a cultura, a economia e a política, sem descurar nenhuma vertente?
O presidente da câmara assume um papel de liderança e de coordenação no topo da pirâmide. Mas, por detrás dessa coordenação, há um grande trabalho de equipa. Desde logo a começar pelos vereadores, fundamentais para a tomada de decisão e definição de prioridades nas áreas que lhes são delegadas. Como também das chefias intermédias, através da execução de medidas e da implementação da estratégia definida, pelo executivo, para as áreas que dirigem. A perfeita articulação destes três níveis de gestão é fundamental para o sucesso de uma organização com a dimensão e o grau de complexidade de uma autarquia como a de Bragança.

Desempenha, inclusive, cargos em fundações, associações, entidades de cooperação... Como é que faz a gestão do seu tempo?
É verdade que a gestão do tempo é sempre um grande desafio e, por isso, é necessária a ferramenta de saber dizer não. Saber dizer que não, na gestão, de forma ponderada e assertiva, é uma virtude e é essencial para o sucesso da organização. É importante conseguir manter o equilíbrio entre a proximidade com as pessoas e o saber dizer que não, quando tem de ser.

«Saber dizer que não (...) é uma virtude»
Relativamente ao Centro Ciência Viva de Bragança, que importância desempenha no distrito?
O Centro Ciência Viva de Bragança tem como missão apoiar as entidades e instituições académicas, culturais e tecnológicas nas suas atividades e na relação de proximidade com os cidadãos. Por outro lado, é também seu objetivo primário atrair os investigadores, de forma a estimular essa forma de participação pública e a ajudar toda a comunidade a definir as agendas de desenvolvimento tecnológico e científico.
Temos três prioridades estratégicas: atividades e projetos de comunicação de ciência e cultura científica, virados para a sociedade e para a comunidade; uma forte ligação à academia e à investigação e inovação; e uma forte ligação à comunidade escolar.
A Escola Ciência Viva de Bragança é, por isso, um projeto muito importante e abrangente. As vantagens das cidades pequenas é poderem abranger o meio rural e o meio urbano, o ensino privado e o ensino público, e este é verdadeiramente um projeto colaborativo com a Câmara e com o politécnico, que disponibiliza, todas as semanas, um cientista para vir à escola Ciência Viva, cumprindo-se também a missão de aproximar os cientistas, tirando-os dos muros das universidades e dos politécnicos e trazendo-os para a sociedade. 

Crê que a tecnologia possa ser utilizada como uma aliada do ambiente?
Existe, sempre, um potencial muito grande à volta dos avanços tecnológicos, mas o aproveitamento desse potencial dependerá do bom uso que dele fizermos. Colocar os avanços tecnológicos ao serviço da sustentabilidade ambiental é, sem sombra de dúvida, um dos bons e proveitosos usos que lhe podemos dar. 

Que opinião partilha sobre a regionalização?
Sou um convicto e acérrimo defensor da regionalização. Entendo que ela é necessária para o país. Temos vindo a assistir, ao longo do tempo, a esta inclinação centralista dos vários governos, e é bom que a regionalização venha pôr um ponto final a esta tendência. Os níveis de desenvolvimento dos territórios são heterogéneos. Devemos ter a capacidade de sermos nós próprios, enquanto região, para termos a capacidade de definir aquilo que é importante para o território, sem que isso esteja sempre dependente da visão centralista de Lisboa. 

O que é que está a ser feito no município para reverter o êxodo rural?
O Município de Bragança tem vindo a pôr em prática, há já vários anos, diversas medidas para a atração de população, seja através de medidas diretas à fixação de pessoas, incentivos fiscais, seja através da promoção da atratividade do território para a fixação de pessoas e empresas. Estas políticas têm surtido alguns resultados interessantes, que se traduzem, por exemplo, na fixação de empresas na nova Zona Industrial das Cantarias ou no Brigantia Ecopark. Contudo, esta problemática é de tal ordem que não pode ser invertida apenas com medidas locais, pois o combate isolado, por cada município, está irremediavelmente condenado ao fracasso.
Joana Rebelo
T. Joana Rebelo
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