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· PCA da AGROS · · T. Joana Rebelo · F. André Rolo

Idalino Leão

«A vida agrícola nunca foi fácil, nem nunca será»

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A AGROS é da terra, dos agricultores, das cooperativas. A AGROS é das gentes. E de quem a quiser. Orgulhosamente do Norte, é o leite com tradição que dá o nome ao negócio, erigido em 1949. Gota a gota, é medida a sua qualidade, em laboratórios certificados, sendo resultado de um processo cuidado, que assume o bem-estar animal. É neste seguimento que Idalino Leão se apresenta, como Presidente do Conselho de Administração da AGROS. A licenciatura em sociologia torna-o um analista da realidade, ainda para mais quando o assunto é a luta pelos interesses dos agricultores.

É natural de Paços de Ferreira, um concelho intimamente ligado à produção de leite. Considera que o meio em que nasceu o poderá ter influenciado, de alguma forma?
É verdade que Paços de Ferreira sempre foi tradicionalmente forte na produção de leite. No meu caso, trata-se de uma herança familiar que me foi naturalmente transmitida, e este é o modo de vida que genuinamente assumi como sendo meu. A vida agrícola nunca foi fácil, nem nunca será, mas ser agricultor é mais do que uma profissão, é uma forma de estar na vida. 

Atualmente é o PCA da AGROS, uma organização com mais de 70 anos de existência. Qual é o desafio em assumir esse cargo?
Será sempre um misto de orgulho e de tremenda responsabilidade assumir os destinos da AGROS. Face à situação particularmente difícil e adversa que o setor agrícola atravessa, a AGROS, pela sua dimensão e representatividade, irá exercer o seu magistério de influência na defesa dos interesses dos agricultores e das cooperativas agrícolas, nos locais certos e de forma responsável e construtiva. Vivemos tempos em que urge fomentarmos a união e recentrarmos a AGROS como uma das grandes embaixadoras da agricultura nacional.   

Do animal à mesa dos portugueses: onde é que a AGROS entra em ação?
A AGROS dedica-se à recolha, ao transporte e à comercialização de leite a granel, assim como à prestação de serviços técnicos aos produtores que fazem parte das cooperativas agrupadas. Conhecemos as famílias que estão por detrás de cada exploração agrícola, tal como os cuidados que têm com a criação dos animais e a forma como o leite é ordenhado e conservado, até ser recolhido pela AGROS, cumprindo todas as exigências da segurança alimentar. A última etapa dá-se quando o leite é entregue à Lactogal Produtos Alimentares S.A, organização responsável pela respetiva industrialização e comercialização. Repetimos diariamente esta atividade, junto dos produtores associados de cada uma das 44 cooperativas que compõem a nossa união. É em nome deles que gerimos e operamos um processo de recolha de 24 horas por dia, 365 dias por ano, perfazendo milhões de litros de leite anuais.

«Este é o momento de fazer justiça à produção»
É verdade que a qualidade do leite está associada ao bem-estar do animal?
A melhor qualidade do leite surge do acompanhamento diário das nossas explorações, que promovem boas práticas de produção a partir da prestação de condições favoráveis aos animais, tanto ao nível da alimentação, como da higiene e conforto. A AGROS consegue, também, aferir a qualidade através de um laboratório acreditado e independente. Com 100% do leite recolhido em cada exploração, é-lhe possível detetar qualquer problema que possa existir, desencadeando, de imediato, a resolução da anomalia. 

Que impacto tem tido a seca, a inflação e o contexto geopolítico na produção de leite em Portugal?
Os custos de produção sentiram um forte incremento com o conflito Ucrânia-Rússia, nomeadamente, nos custos de energia e de matérias-primas, facto que não tem ajudado na situação de seca severa que parte do território português vive. Estas condições, para além de contribuírem para o desequilíbrio da sustentabilidade das explorações, criam um ambiente de verdadeiro desânimo nos produtores, pelo que também em nada contribuem para a atração de novas gerações para o setor.
O atual panorama ainda é difícil. Continuamos a assistir ao agravamento dos custos intermédios e às consequentes reduções no rendimento da atividade e na viabilidade de alguns negócios. O desafio mais complexo que se impõe é o da competitividade e crescimento. Este é o momento de fazer justiça à produção, que deu provas da sua capacidade de adaptação durante a pandemia, para que nada faltasse na casa dos consumidores. Necessitamos de propostas de trabalho equilibradas e não de visões radicais e economicamente insustentáveis por parte da tutela. 

Nos últimos anos, Idalino afirma que foram encerradas centenas de explorações. Se nada for feito, o desaparecimento do setor leiteiro em Portugal pode ser uma realidade?
A produção de leite vive um momento difícil, devido ao aumento sem precedentes do preço dos fatores de produção, desde o combustível aos alimentos e fertilizantes. A transmissão de preço, ao longo da cadeia de valor, tem sido praticamente nula, pelo que a fileira leiteira tem acumulado prejuízos incomportáveis. É fundamental que se crie uma legislação que traga mais equidade e transparência para todos os elos da cadeia produtiva, onde a valorização do produto seja uma realidade.  

Que medidas é que poderão ser tomadas para combater o envelhecimento e cativar os jovens para o ramo?
Podemos dizer que esta é uma questão muito séria e que nenhum dos intervenientes, ao longo dos anos, tem conseguido acautelar ou minimizar. Durante muitos anos, o setor agrícola foi olhado com algum desdém por parte da sociedade. Mas a questão de base é a sua justa remuneração. Nunca conseguiremos cativar jovens para a atividade, se não conseguirmos melhorar a remuneração. Cabe a todos os intervenientes, políticos e responsáveis da área, encontrar uma solução que promova a necessária continuidade geracional da nossa atividade.
Joana Rebelo
T. Joana Rebelo
F. André Rolo
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