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· Fundador do atelier João Cabrita Arquitecto · · T. Maria Cruz

João Cabrita

«Tal como a Humanidade, a arquitetura atravessa um processo de adaptação e transformação»

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F. Marcelo Lopes
No Algarve está sediado o seu gabinete, lugar onde a prática da arquitetura se evidencia pelo esplendor das magníficas casas e resorts de luxo. Os lápis, as canetas e os estiradores sempre marcaram a vida do arquiteto João Cabrita. Cedo se viu a criar desenhos, a partir de um papel em branco. E o tempo ensinou-o a ver a arquitetura com um olhar entusiasta. E passou a contar uma história, a cada projeto realizado. Será ele um bom contador de histórias? Diríamos que sim. Prova disso são os inúmeros trabalhos arquitetónicos, desenvolvidos em terras lusas, com a sua assinatura. Inspirado por um toque de «magia», sempre procurou criar obras marcantes. Em entrevista, João faz referência ao avanço tecnológico dos últimos 30 anos e ao marco que a Inteligência Artificial terá nas próximas décadas. Fala, ainda, do processo de «arrefecimento» no setor, devido à sobrevalorização das propriedades, ao aumento da inflação e das taxas de juro. E o que lhe dará verdadeiro gozo na arquitetura? Fácil, «o sorriso de um cliente feliz».   

De que forma a infância e o sítio onde nasceu e cresceu o influenciaram a seguir o caminho da arquitetura? 
Sempre vivi no meio de desenhos, cópias heliográficas, lápis, canetas e estiradores. Aprendi a conviver com esta realidade em casa e no escritório. A arquitetura era, na infância, um nome que se traduzia em «desenho de casas» e só mais tarde aprendi o seu verdadeiro sentido. Tornou-se não só uma prática, mas também uma forma de estar na vida, que me moldou no que sou hoje. 

As referências que tinha enquanto estudante são as mesmas de hoje, ou seja, a sua forma de ver a arquitetura mudou com o tempo? 
Aprender arquitetura é muito mais de que aprender a desenhar edifícios e transformar o espaço. E a forma de ver vai-se ajustando com o tempo. Enquanto estudante de arquitetura, os Movimentos Modernista e Pós-Modernista eram alguns dos modelos de estudo que maior referência e preferência para nós, estudantes, mas, o início da prática profissional e o encontro com uma arquitetura mais tradicional e Vitruviana, veio, de certa forma, complementar uma forma diferente de olhar a linguagem arquitetónica. O Tempo altera tudo e, igualmente, altera a forma como nos centramos na arquitetura.  

Vê o Algarve e a Quinta do Lago, o local onde tem o seu atelier, como algo que caracteriza o modo como faz arquitetura? 
O Algarve, no geral, e a Quinta do Lago, em particular, têm condições muito próprias para a prática da arquitetura. Desde logo pela situação balnear, pela sua enorme atracão turística e pela forma como investidores nacionais e estrangeiros veem este pedaço de território nacional. Por outro lado, ainda, pelo gradual incremento de qualidade turística que se tem vindo a sentir nos últimos 50 anos, o que faz com que haja cada vez mais investidores com expectativas de investimentos de excelência, em particular na zona de Quinta do Lago, Vale do Lobo e Vilamoura. Naturalmente que, ao longo do tempo, nos temos vindo a ajustar a esta realidade e, por conseguinte, na forma como qualificamos a arquitetura que produzimos. 

Nestes anos, qual o projeto mais desafiante que fez? 
Foram vários e não queria particularizar um só! Na realidade quando produzimos, a partir de um papel branco, há sempre uma história a contar e cada projeto tem uma narrativa. No final do dia, o arquiteto será um contador de histórias, que sempre procurará atingir o melhor resultado possível para o seu cliente.


«Estou certo de que o futuro passará pela total sustentabilidade»
Onde vai beber inspiração para os projetos que faz? Tem algum ritual associado?
Não tenho nenhum ritual. A inspiração advém da experiência e do trabalho, mas é onde a criatividade simplesmente acontece, como se de um processo de «magia» se tratasse.  

Se pudesse eleger, qual seria a grande história da sua carreira enquanto arquiteto? Algo que seja memorável para si. 
Diria que a força pela capacidade de me reinventar em alturas muito adversas, a beleza da humildade, na procura constante por um melhoramento interior, e a sabedoria com que o tempo nos vai lapidando. Tal qual nos refere o escritor e jornalista uruguaio, Eduardo Galeano, acerca da Utopia, como sendo o lugar que não existe e cuja única função é fazer-nos caminhar, assim me revejo na carreira que escolhi – como um caminho para a sublimação. 

Uma das suas imagens de marca é a tecnologia de ponta que agrega aos seus projetos. Um dos grandes dilemas da sociedade atual passa pelo debate de «até onde nos devemos deixar levar pela tecnologia». O que pensa disso a curto e longo prazo?
Atravessamos um choque tecnológico nos últimos 30 anos. E ainda estamos no meio do processo. O desenvolvimento foi exponencial e estamos próximos de mais um «salto» com a Computação Quântica, que irá exponenciar a capacidade de cálculo tecnológico a uma velocidade nunca antes permitida. Juntamos a este facto a emergente IA (Inteligência Artificial) que irá marcar, seguramente, as próximas décadas. É inquestionável que a tecnologia veio para ficar e o grande desafio da Humanidade será o reencontro com o equilíbrio e com valores humanistas, que estão cada vez mais subjugados às tecnologias de informação.

A aposta no mercado de luxo é outra das suas características. Tem vindo a aumentar o número de clientes nacionais e estrangeiros?
Este território denominado de «mercado de luxo» tem sido, nas últimas duas décadas, a «folha» de trabalho a que me tenho dedicado. Se bem que, na última década, houve um aumento muito considerável de projetos e de clientes, essencialmente estrangeiros. E estamos num processo de «arrefecimento», com a conjugação de três fatores: as propriedades sobrevalorizadas com o mercado a autorregular-se; o aumento considerável da inflação, quer ao nível dos materiais, quer ao nível da mão de obra; e um grande aumento das taxas de juro nos últimos meses. Esta conjugação de fatores marca um abrandamento inevitável do investimento sobre o qual importa refletir e discutir. Os nossos projetos têm sido essencialmente em território português, no entanto, em casos pontuais, temos sido convidados para projetos noutros países.

O facto de fazer projetos chave na mão obriga a grande logística, mas acaba por ser uma grande vantagem face a outros gabinetes. Fazer tudo e fazer bem não é para qualquer um...
Entendemos o serviço dito «chave na mão» como uma mais-valia para assegurar a qualidade da execução dos projetos. Seguramente que, do ponto de vista logístico e temporal, obriga a uma maior conjugação de fatores. É necessário um maior número de profissionais para as diversas valências e competências, mas que, no final, reflete o nível de qualidade pretendido. Procuramos, com esta fórmula de trabalho, ir ao encontro da expectativa dos clientes, removendo entropias desnecessárias nos processos. Procuramos fazer sempre melhor e o melhor que conseguimos.

«O Tempo altera tudo e, igualmente, altera a forma como nos centramos na arquitetura»
F. Hélio Ramos
A sustentabilidade também é uma preocupação da JCA atelier? Sentem que os clientes também a têm ou é por sugestão do atelier
A sustentabilidade deve ser uma preocupação de todos. Procuramos consciencializar os nossos clientes para a inevitável «pegada ecológica» e, nesse sentido, a responsabilidade de implementar, nos projetos, soluções tão sustentáveis quanto possível. O avanço da tecnologia tem contribuído positivamente para algumas soluções adotadas e estou certo de que o futuro passará pela total sustentabilidade. A bem das gerações vindouras. 

Se pudesse definir o momento que a arquitetura está a atravessar, o que diria? 
Tal como a Humanidade, a arquitetura atravessa um processo de adaptação e transformação. Se, por um lado, aqui falamos de construção dita «de luxo», por outro enfrentamos um gravíssimo desafio na habitação, direito, aliás, consagrado na nossa constituição. A construção vai ter de se adaptar aos novos desafios, quer financeiros, quer tecnológicos, e a linguagem de arquitetura terá de se ajustar a esses desafios, com novas formas e organização de espaços. 

O que lhe dá realmente gozo em ser arquiteto? 
O sorriso de um cliente feliz. 

Como analisa o mercado imobiliário do país atualmente? Em termos gerais e, particularmente, ao nível do luxo.
O mercado é dinâmico e atravessamos os problemas enumerados na pergunta atrás. Imagino que igualmente o setor «de luxo» possa sofrer as adaptações necessárias a esse enquadramento sendo que, no entanto, o Algarve continua e continuará a oferecer as qualidades atrativas que os investidores procuram. O espaço para o crescimento vai depender das políticas estáveis de investimento e da capacidade de os nossos governantes entenderem esta captação de investimento nacional e, principalmente, estrangeiro como um dos motores da nossa economia.  

O que falta ainda ao país perceber nessa área específica do requinte?
Poderia traduzir que o requinte será a eterna procura pelo equilíbrio pleno e sendo este o tal lugar que não existe! O exponente máximo do requinte será quando o utilizador do espaço arquitetónico conseguir a simbiose máxima com o próprio espaço na conjugação e equilíbrio de formas texturas, cores, cheiros, etc, que possam contribuir para a felicidade do utilizador. A perceção de requinte será porventura uma questão mental, emocional e espiritual e, nesse sentido, procurar o requinte em arquitetura significará muito mais para além da transformação do espaço e da forma. Será a transformação do próprio Ser Humano!
Maria Cruz
T. Maria Cruz
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