Raúl Borges

Já lá vão mais de 25 anos na gestão da BF Consultores – uma referência nacional, no âmbito da consultadoria –, e, mais recentemente, a criação do projeto Icecare – uma marca que procura «transformar o gelado num alimento que seja veículo de saúde e bem-estar, deixando vislumbrar aquilo que são os segmentos "Health & Wellness”». Na gestão é Raúl Borges quem está à frente, rodeado de uma equipa competente e eficaz. Nesta entrevista fala-nos dos desafios passados com o encerramento dos projetos PT2020; faz referência ao arranque do PT2030; e do caminho que a Icecare tem traçado. Uma coisa é certa, o gestor tem bem presente na sua vida «que o amanhã não está garantido, está apenas perspetivado». Raúl passou a dar mais importância às coisas boas da vida, tais como às viagens pelo mundo, vividas em família.  

Atualmente, e com esta panóplia de fundos comunitários, como se tem adaptado o grupo BF Consultores ao mercado?
Não tem sido fácil. Mesmo numa fase crescente relativamente aos negócios, o lançamento de avisos de pacotes de fundos comunitários distintos, tais como o PRR, o arranque do Portugal 2030 e o encerramento dos projetos do PT2020, têm complicado a vida às equipas de trabalho da consultora e aos organismos públicos envolvidos. A consultora, porque tem hoje um conjunto de projetos disruptivos, provenientes de novos programas, tais como a Descarbonização da Indústria (hidrogénio, biometano, armazenamento de energia, biomassa, solar), as Agendas Mobilizadoras com especificidades próprias, a Mobilidade e Eficiência Energética, e, por fim, a Digitalização – tudo no âmbito do PRR. Isto obriga a BF a procurar, com os seus clientes, soluções disruptivas para o mercado, alinhando sempre a sua exequibilidade, com viabilidade económica. Não tem sido tarefa fácil. Por outro lado, temos os organismos dotados de equipas reduzidas face ao número de programas e candidaturas existentes, com bastantes dificuldades de cumprirem os prazos estimados e criando, assim, vários constrangimentos e atrasos no mercado.  

Em que é que a BF consultores e a Icecare se destacam das ofertas que habitualmente vemos no mercado?
A BF, no acompanhamento à implementação dos projetos e no seu encerramento. Normalmente, processos com muita informação e detalhe. Dossiers volumosos. Alterações significativas ao inicialmente proposto. Justificações descritas com suporte técnico. Já a Icecare, a nossa fábrica do piso 0 e -1, destaca-se por se envolver em investigação e desenvolvimento no laboratório, com o intuito de transformar o gelado num alimento que seja veículo de saúde e bem-estar, deixando vislumbrar aquilo que são os segmentos «Health & Wellness», a curto prazo, e «medical food», a longo prazo. 

Com a BF Consultores dedicada à prestação de serviços de consultoria, esclareça-nos, quais os benefícios em aliar a Inteligência Artificial ao ramo?
Como benefícios, a agilização de processos. Respostas mais rápidas, precisas, mais cirúrgicas nas pesquisas, com a vantagem de nos fornecer rapidamente mais conhecimento. Onde e como, o que se está a fazer!

«O amanhã não está garantido, está apenas perspetivado»

A Icecare foca-se na produção de gelados desenvolvidos com base em biotecnologia e processos inovadores. Quais são as perguntas frequentes que os consumidores fazem relativamente a este produto?  
Os consumidores, nas degustações do El Corte Inglés e nos hipermercados Pingo Doce (grupo Jerónimo Martins), questionam muito as suas características, sentem ser algo diferente, inovador. Explicamos, então, que temos gelados biológicos, com formulações adaptadas à escala industrial, mantendo a ausência de corantes e conservantes, mas garantindo a vida útil destas «inovações» por períodos até um ano. Fruto desta estratégia de ambidestralidade (apostar em conceitos tradicionais e apostar na sua inovação em simultâneo), a Icecare desenvolveu projetos de investigação e desenvolvimento que a deixam trabalhar com o Instituto de Nanotecnologia e a Universidade do Minho para criar gelados que melhoram a vida de quem os consome, não possuindo tanta gordura e/ou açúcar, ou incorporando constituintes que ajudam a melhorar problemas de saúde, como os fitoesteróis ou o cânhamo.  

Qual o seu papel no grupo BF?
A gestão do grupo, esse é o fundamental. Passa por ter responsabilidades e tomadas de decisões, em áreas de negócio, áreas estratégicas e de investimento. A área de desenvolvimento da BF está sob responsabilidade do meu sócio, Norberto Fernandes e de alguns colaboradores de longa data.  

Presente no mercado há 25 anos, qual foi a lição mais importante que a experiência lhe deu?
Que muitas vezes, mesmo muitas, temos de saber relativizar.  

De que é que não prescinde de fazer todos os dias?
De ter sempre presente que o amanhã não está garantido, está apenas perspetivado. Com isso, não me distrair, não embarcar nestas loucuras do ‘querer sempre mais’ e deixar de usufruir das coisas verdadeiramente boas da vida. Aproveitar as viagens aos quatro cantos do mundo, quando possível, com a família, em boa companhia. Afinal, só no fim é que sabemos o tempo que aqui estivemos.