O rigor está-lhe gravado na personalidade. A audácia, no entusiasmo que dedica a
cada projeto. E o sucesso é verificável na matriz da alma de tudo o que criou. As lutas, os
problemas, as dúvidas, as decisões difíceis, as noites mal dormidas. Não
faltaram motivos para demover Tomás Barbosa de transformar a Engimov naquilo
que é hoje – uma das empresas de construção civil de maior renome a nível
nacional e internacional. Mas não. A
história fez-se de suor e determinação. Onde viu oportunidade, apostou. Ainda jovem, deixou o ensino preparatório para trabalhar com os
pais. Seguiu-se um começo a pulso em França. Pouco depois, um outro salto para
o Canadá. E
que aventura. Ali criou a sua primeira empresa e venceu. Mas foi em Portugal, na sua
terra natal,
em Braga, que verdadeiramente viveu os grandes desafios da construção. Anos
de luta e persistência. Anos de conquistas. Já correu os quatro cantos do
mundo e neles semeou as várias empresas. Viu o crescimento, a cada ano de
trabalho. Hoje, com 16 anos, a Engimov é uma empresa sólida. Tomás Barbosa orgulha-se do seu
percurso sem tirar os olhos do horizonte. Ou não fosse ele um fazedor de obras
de sonho a tempo inteiro.
A história de Tomás conta com um longo caminho de desafios e superações. Como é que tudo começa?
Era muito jovem, saí da escola preparatória e fui trabalhar com os meus pais, até aos 17 anos. Depois, fui para França, com o meu cunhado. Trabalhei seis meses com ele. Regressei de lá, e a minha irmã (Belmira) tinha comprado um bilhete para um dos meus irmãos ir passar o Natal com ela ao Canadá. Ele não quis ir. Então, aproveitei o bilhete e fui eu. Acabei por ficar lá durante três anos, sem vir cá. Foi duro, muito duro, mas aguentei-me. Passados esses três anos, vim a Portugal 15 dias e voltei ao Canadá, onde constitui família (tive três filhos, o Christopher, a Maegan e a Ashley), e trabalhei por mais 12 anos.
Foram 15 anos no Canadá?
Sim, nesses 15 anos, tentei abrir uma empresa, em Toronto. Criei sociedade com um amigo. Tivemos a empresa durante três anos, mas, com a crise financeira que houve nos anos 90, tivemos de parar. Voltei a trabalhar para o anterior patrão. Na reta final desses 15 anos, comecei a olhar para Portugal. Muito pelo desenvolvimento que aqui se passava. E também pelo facto de os meus filhos estarem crescidos e de eu começar a achar que era a altura de regressar. Comecei a vir a Portugal duas vezes por ano e a fazer alguns trabalhos cá, comprando um terreno, construindo um pavilhão e angariando pequenas obras.
Há, então, um dia em que regressa definitivamente...
Sim, depois das coisas preparadas, regressei definitivamente. Um dia, surge a proposta para concluir um prédio, aqui em Portugal, e os apartamentos que me tocaram, vendi-os. Comprei outro terreno, fiz promoção imobiliária, juntamente com o meu irmão e o meu pai. A partir daí abri uma empresa, a Sousa Dias e Barbosa, em sociedade com dois amigos. Começámos a fazer alguns trabalhos, entre o ano 2000 e 2004. Findámos essa sociedade. Abri uma nova empresa (a Sousa Dias e Barbosa C) e mantive um dos sócios (que tinha tido um problema de saúde) a trabalhar comigo. Nessa altura, fiz uma obra, em Lisboa, que não correu tão bem – ficaram a dever-me quase 300 mil euros e isso era muito dinheiro para mim. Então, tive de fazer pela vida. Através de um contacto que arranjei, em Espanha, comecei a trabalhar nesse mercado, inicialmente com obras para a Adolfo Domínguez, por todo o país. Nessa altura, conheço uma pessoa ligada aos bowlings, que me apresentou uma proposta, e aceitei o desafio. Ganhei a confiança dessa pessoa, do Sr. Amaral, e ainda hoje somos parceiros e grandes amigos. Comecei a fazer todas as suas obras. Foram anos difíceis, eu praticamente dormia e comia dentro do carro, porque fazia muitos quilómetros e tinha prazos a cumprir. Cheguei a fazer mais de 200 mil km num ano. Mas a verdade é que foi esse meu esforço, e dos que trabalhavam comigo, que fez com que eu conseguisse pagar as dívidas que tinham ficado por saldar, por causa daquela obra de que não recebi. Isso deu-me coragem para o futuro que se avizinhava.
E o que veio a seguir?
Em 2007, compro a participação da outra pessoa da empresa, do Sousa. Mas como precisava de aumentar ao alvará, porque a Sousa Dias e Barbosa faturava pouco mais de 200 mil euros por ano, resolvi abrir uma nova empresa, com um alvará melhor. É aí que surge a Engimov.
A Engimov Construções SA nasceu com que propósito?
Já estávamos no mercado espanhol, onde fazíamos remodelações de lojas e onde passámos a fazer obras de raiz. Construímos vários edifícios, parques de estacionamentos, ao mesmo tempo que aqui, em Portugal, também íamos fazendo alguns trabalhos. Entretanto, em 2018, foi-me proposto, por um grupo, vender parte das participações da empresa. Chegámos a acordo. Vendi 50% das participações da empresa a esse grupo. Contudo, passado um tempo, comecei a ter alguns problemas, obras que fizemos e que não nos foram pagas. Na altura, um dos sócios queria fechar a empresa, porque estava com prejuízos significativos. Não aceitei. Pensei: se fui eu que criei, vou assumir a responsabilidade e vou dar seguimento, porque tenho uma cara a dar aos meus fornecedores e tenho de cumprir com eles. Então, chamei o meu financeiro e todos os fornecedores e fiz um acordo com eles. Uns fizeram descontos, outros concordaram com um prazo de pagamento alargado. No fundo, fiz um planeamento e cumpri rigorosamente com toda a gente. Mas, teria sido mais difícil de cumprir, se não tivéssemos a sorte de ter, nessa altura, uma obra em África (República do Congo), que nos ajudou bastante. Na verdade, aproveitei a boa relação que tinha com um cliente, para quem estava a fazer uma obra, que me recomendou procurar novas oportunidades em África, e esse foi o meu desafio. Peguei na mala e fui à procura da oportunidade. Era uma empresa brasileira, que já estava no Congo há três anos e me queria contratar para fazer lá obra. Eu não conhecia o Congo. A minha filha Maegan ficou preocupada, porque tinha andado a pesquisar sobre o país e disse-me: «Pai, aquilo é perigoso». E eu respondi-lhe «Ó filha, não te preocupes, há lá muita gente e não morrem todos». Aventurei-me e fui. Levei um membro da equipa. Ficámos lá uns dias. Começámos as fundações para uns armazéns. Foi uma obra para dois milhões de euros. Acabamos por fazer lá obras para cima de 50 milhões de euros. Estivemos lá durante sete anos.
Depois disso, surge Cuba, um outro mercado onde entrámos. Mais um desafio, porque lá as coisas eram difíceis. Mas como não gosto de coisas fáceis, aventurei-me. Estamos lá há seis anos. Nesta mesma altura, inicio também a empresa em França. Começámos com as obras de uns cinemas. Tínhamos um prazo de três meses para concluir a obra. Conseguimos. Foi uma obra que acabou em mais de treze milhões de euros (apesar de que nos ficaram a dever mais de três milhões). Mesmo assim, continuamos nesse mercado até aos dias de hoje.
E o Luxemburgo, quando é que surge?
O Luxemburgo surge há três anos. Foi o último mercado em que entrámos. Mas também já estivemos em Angola (três anos) e em Moçambique (dois anos), destinos onde não correu tão bem. Apesar de estarmos em vários países, cada país tem a sua gestão própria, a sua estratégia, são empresas independentes. Portugal foi sempre o país onde trabalhámos e tivemos um crescimento sustentável. A Engimov Construções tem crescido todos os anos. 2023, por exemplo, é o ano com maior crescimento – dobrámos a faturação, em relação ao ano transato.
Que outros horizontes é que ainda há para conquistar?
Se as coisas correrem bem, estou com os olhos postos no Senegal e, talvez, em algum país da América Latina. Olhando para o facto de termos a empresa em Cuba e para a facilidade que essa localização nos dá de saltar até aos países vizinhos, pode ter algum interesse. Mas tudo a seu tempo.
«Não foram os projetos, mas sim as dificuldades que fizeram a empresa crescer»
A história de Tomás conta com um longo caminho de desafios e superações. Como é que tudo começa?
Era muito jovem, saí da escola preparatória e fui trabalhar com os meus pais, até aos 17 anos. Depois, fui para França, com o meu cunhado. Trabalhei seis meses com ele. Regressei de lá, e a minha irmã (Belmira) tinha comprado um bilhete para um dos meus irmãos ir passar o Natal com ela ao Canadá. Ele não quis ir. Então, aproveitei o bilhete e fui eu. Acabei por ficar lá durante três anos, sem vir cá. Foi duro, muito duro, mas aguentei-me. Passados esses três anos, vim a Portugal 15 dias e voltei ao Canadá, onde constitui família (tive três filhos, o Christopher, a Maegan e a Ashley), e trabalhei por mais 12 anos.
Foram 15 anos no Canadá?
Sim, nesses 15 anos, tentei abrir uma empresa, em Toronto. Criei sociedade com um amigo. Tivemos a empresa durante três anos, mas, com a crise financeira que houve nos anos 90, tivemos de parar. Voltei a trabalhar para o anterior patrão. Na reta final desses 15 anos, comecei a olhar para Portugal. Muito pelo desenvolvimento que aqui se passava. E também pelo facto de os meus filhos estarem crescidos e de eu começar a achar que era a altura de regressar. Comecei a vir a Portugal duas vezes por ano e a fazer alguns trabalhos cá, comprando um terreno, construindo um pavilhão e angariando pequenas obras.
Há, então, um dia em que regressa definitivamente...
Sim, depois das coisas preparadas, regressei definitivamente. Um dia, surge a proposta para concluir um prédio, aqui em Portugal, e os apartamentos que me tocaram, vendi-os. Comprei outro terreno, fiz promoção imobiliária, juntamente com o meu irmão e o meu pai. A partir daí abri uma empresa, a Sousa Dias e Barbosa, em sociedade com dois amigos. Começámos a fazer alguns trabalhos, entre o ano 2000 e 2004. Findámos essa sociedade. Abri uma nova empresa (a Sousa Dias e Barbosa C) e mantive um dos sócios (que tinha tido um problema de saúde) a trabalhar comigo. Nessa altura, fiz uma obra, em Lisboa, que não correu tão bem – ficaram a dever-me quase 300 mil euros e isso era muito dinheiro para mim. Então, tive de fazer pela vida. Através de um contacto que arranjei, em Espanha, comecei a trabalhar nesse mercado, inicialmente com obras para a Adolfo Domínguez, por todo o país. Nessa altura, conheço uma pessoa ligada aos bowlings, que me apresentou uma proposta, e aceitei o desafio. Ganhei a confiança dessa pessoa, do Sr. Amaral, e ainda hoje somos parceiros e grandes amigos. Comecei a fazer todas as suas obras. Foram anos difíceis, eu praticamente dormia e comia dentro do carro, porque fazia muitos quilómetros e tinha prazos a cumprir. Cheguei a fazer mais de 200 mil km num ano. Mas a verdade é que foi esse meu esforço, e dos que trabalhavam comigo, que fez com que eu conseguisse pagar as dívidas que tinham ficado por saldar, por causa daquela obra de que não recebi. Isso deu-me coragem para o futuro que se avizinhava.
E o que veio a seguir?
Em 2007, compro a participação da outra pessoa da empresa, do Sousa. Mas como precisava de aumentar ao alvará, porque a Sousa Dias e Barbosa faturava pouco mais de 200 mil euros por ano, resolvi abrir uma nova empresa, com um alvará melhor. É aí que surge a Engimov.
A Engimov Construções SA nasceu com que propósito?
Já estávamos no mercado espanhol, onde fazíamos remodelações de lojas e onde passámos a fazer obras de raiz. Construímos vários edifícios, parques de estacionamentos, ao mesmo tempo que aqui, em Portugal, também íamos fazendo alguns trabalhos. Entretanto, em 2018, foi-me proposto, por um grupo, vender parte das participações da empresa. Chegámos a acordo. Vendi 50% das participações da empresa a esse grupo. Contudo, passado um tempo, comecei a ter alguns problemas, obras que fizemos e que não nos foram pagas. Na altura, um dos sócios queria fechar a empresa, porque estava com prejuízos significativos. Não aceitei. Pensei: se fui eu que criei, vou assumir a responsabilidade e vou dar seguimento, porque tenho uma cara a dar aos meus fornecedores e tenho de cumprir com eles. Então, chamei o meu financeiro e todos os fornecedores e fiz um acordo com eles. Uns fizeram descontos, outros concordaram com um prazo de pagamento alargado. No fundo, fiz um planeamento e cumpri rigorosamente com toda a gente. Mas, teria sido mais difícil de cumprir, se não tivéssemos a sorte de ter, nessa altura, uma obra em África (República do Congo), que nos ajudou bastante. Na verdade, aproveitei a boa relação que tinha com um cliente, para quem estava a fazer uma obra, que me recomendou procurar novas oportunidades em África, e esse foi o meu desafio. Peguei na mala e fui à procura da oportunidade. Era uma empresa brasileira, que já estava no Congo há três anos e me queria contratar para fazer lá obra. Eu não conhecia o Congo. A minha filha Maegan ficou preocupada, porque tinha andado a pesquisar sobre o país e disse-me: «Pai, aquilo é perigoso». E eu respondi-lhe «Ó filha, não te preocupes, há lá muita gente e não morrem todos». Aventurei-me e fui. Levei um membro da equipa. Ficámos lá uns dias. Começámos as fundações para uns armazéns. Foi uma obra para dois milhões de euros. Acabamos por fazer lá obras para cima de 50 milhões de euros. Estivemos lá durante sete anos.
Depois disso, surge Cuba, um outro mercado onde entrámos. Mais um desafio, porque lá as coisas eram difíceis. Mas como não gosto de coisas fáceis, aventurei-me. Estamos lá há seis anos. Nesta mesma altura, inicio também a empresa em França. Começámos com as obras de uns cinemas. Tínhamos um prazo de três meses para concluir a obra. Conseguimos. Foi uma obra que acabou em mais de treze milhões de euros (apesar de que nos ficaram a dever mais de três milhões). Mesmo assim, continuamos nesse mercado até aos dias de hoje.
E o Luxemburgo, quando é que surge?
O Luxemburgo surge há três anos. Foi o último mercado em que entrámos. Mas também já estivemos em Angola (três anos) e em Moçambique (dois anos), destinos onde não correu tão bem. Apesar de estarmos em vários países, cada país tem a sua gestão própria, a sua estratégia, são empresas independentes. Portugal foi sempre o país onde trabalhámos e tivemos um crescimento sustentável. A Engimov Construções tem crescido todos os anos. 2023, por exemplo, é o ano com maior crescimento – dobrámos a faturação, em relação ao ano transato.
Que outros horizontes é que ainda há para conquistar?
Se as coisas correrem bem, estou com os olhos postos no Senegal e, talvez, em algum país da América Latina. Olhando para o facto de termos a empresa em Cuba e para a facilidade que essa localização nos dá de saltar até aos países vizinhos, pode ter algum interesse. Mas tudo a seu tempo.
«Não foram os projetos, mas sim as dificuldades que fizeram a empresa crescer»