Com este boom turístico, o
turismo de qualidade também passa pelo Alojamento Local?
O Alojamento Local foi uma falha
de coordenação de interesses, pois deveria ter sido negociado entre três
partes: o turismo em si, o sector imobiliário e o sector turístico. Uma coisa
que eu sugeri, e que agora estão a mudar, é o facto de o Alojamento Local ter
de pagar um pouco mais de condomínio do que o residente permanente. Isso já
atenua muitas coisas. Enfim, tem de haver regras.
Mas, por exemplo, há muitas reabilitações que estão a ser feitas sem
grande qualidade. O erro está em não haver quem controle?
O lobby dos
construtores conseguiu do Governo a liberalização das regras normais de
segurança. Há projetos com qualidade, mas alguns aproveitam-se do grande
aumento da procura, o que pode causar problemas.
Portugal é cada vez mais seguro, estável, tem um excelente clima, resorts, campos de golfe... No seu
entender vai continuar esta procura excessiva no ramo imobiliário e turístico?
Portugal teve, realmente, as suas
virtudes descobertas: paz, clima, segurança e boa comida. Precisaremos de
empreendimentos na medida em que os estrangeiros, que vieram inicialmente só pelo
Turismo, vêm agora também pelos negócios. É uma coisa para a qual esse tal
conselho estratégico deveria olhar e deveria aconselhar como fazer. Deveria
haver escritórios de apoio para empresas que se transferem para Portugal, de
forma a ajudá-los a integrar-se. Vai haver mais construção, mais procura de
empreendimentos. Vejo, por exemplo, no Arco Sul do Tejo, uma potencial zona de
desenvolvimento de empreendimentos.
Recentemente lançou o Lisbon
Green Valley, no Belas Clube de Campo. É um projeto especial?
Temos aqui um clube de campo, que
oferece lazer e habitação e está a 15 minutos do centro de uma capital
(Lisboa). Não há no mundo nada igual. Eu próprio morei cá, fui para Lisboa e,
agora, estou a voltar. Aqui não há poluição, não há barulho, e é muito perto.
Esteve envolvido na construção de vários campos de golfe. Temos bons
campos de golfe ao nível mundial. Ainda assim, estão centrados no Algarve e em
Lisboa. Não devíamos estender os campos
ao nível do país, por exemplo, no interior?
Não. Vou explicar porquê. No
Algarve, 90% dos golfistas são estrangeiros, e, em Lisboa, 10% são estrangeiros.
Há muito poucos nacionais. Infelizmente não tem havido a união dos promotores com
o Estado e com a Federação do Golfe para desenvolver o golfe nacional. No
interior não há jogadores, e os turistas não vão para um lugar que tenha um
único campo, querem jogar em vários campos centrais. Para haver, tinha de
existir uma cultura de golfe, que não existe.
Na vida, como no golfe, sempre deu as tacadas certeiras?
Não. Dei
tacadas em mim próprio. Cometi muitos erros. A gente, para estar certa, também
tem de estar num estado emocional que permita o raciocínio funcionar. (risos)
O que nem sempre acontece?
Nem sempre. Quando
vim para cá, depois de uma vida atribulada e da morte do meu pai, o turismo já
existia, já começava a ter sucesso. Eu contribuí também para que os
empreendimentos turísticos do Algarve não fossem nacionalizados. Naquela
altura, propusemos ao Governo um plano para apoiar os empreendimentos, para
sobreviverem e não serem nacionalizados. O Governo aceitou, mas depois os
sindicatos e os bancários quiseram apoiar o plano, mas exigiram que as
administrações fossem postas na rua. Para
salvar o empreendimento e os empregos então fomos para a rua. Elaborámos uma
procuração da administração da nossa empresa para a comissão de trabalhadores
gerir a empresa, porque senão a empresa afundava por falta de receitas. Uns
anos depois, fomos chamados para retomar. Salvou-se o turismo.
«O alojamento local foi uma falha
de coordenação de interesses»
É um homem de centro esquerda. O que acha
da ‘geringonça’?
Sou social
democrata; sou a favor da livre empresa, e ao mesmo tempo de medidas de apoio social.
Acho que a ‘geringonça’ é um recurso político que veio incorporar o arco do
poder. Dois partidos influentes, mas sem capacidade de aceder ao mesmo. Porém, sou
a favor de um acordo geral, com todos os partidos, de um programa nacional de
desenvolvimento e consolidação económica. A política ideológica morreu, acabou,
tanto assim que nós elegemos um Presidente pós-ideológico. O Marcelo é o primeiro Presidente do
Mundo que, mesmo que tenha ideias ideológicas, abandonou-as por razões práticas.
Ele é um exemplo, curioso e inesperado, de um político pós-ideológico.
De um lado, temos o homem com preocupações sociais, do outro lado temos
o empresário. Como é que ‘gere’ as ideias políticas?
Já tive situações
de estar num jantar ou almoço – por exemplo, da eleição do Mário Soares e do
Diogo Freitas de Amaral, de quem fui e sou amigo – e todas as 40/50 pessoas serem
a favor de Freitas de Amaral e, quando eu disse que era Mário Soares, o mínimo
que disseram foi «Você não é português». Ficaram todos furiosos, só faltou expulsarem-me.
Há pessoas, do meu sector social, que são muito da direita e muito conservadoras,
e acham que qualquer pessoa que não é assim é comunista.
Não é verdade?
Não, claro que
não. Sempre fui muito independente.
Acredita que o turismo em Portugal
continuará a ser a principal atividade / receita económica do país?
Já é. Não é
reconhecido. Podemos ter as novas tecnologias, as indústrias, como as dos
tecidos, dos sapatos, etc., a contribuírem para a economia do país, mas a única
atividade que pode gerar realmente grande volume de receita é o turismo e o imobiliário
turístico.
Que medidas devem tomar o Estado e os empresários?
Depende de uma
maior coordenação de estratégia entre o Estado e o sector privado, de analisar,
com muito cuidado, o lado fiscal, para ver que medidas se podem tomar, sem prejudicar
o país. O país merece um ministro de muita categoria para o turismo.
Concorda com a taxa aplicada em Lisboa aos
turistas? Também querem implementar no Porto. No seu entender, deveria abranger
o país?
Concordo. O país
inteiro não interessa porque, fora Lisboa, Porto, Algarve, Madeira e Açores, não
há receita.
Foi a favor?
Fui. Era do Conselho
Consultivo da Associação da Hotelaria de Portugal, quando Fernando Medina foi
lá propor a taxa. Houve uma grande gritaria, toda a gente a dizer que era
contra, mas o Medina ouviu, ouviu e quando chegou ao fim disse: «Ah, mas eu vou
aplicar a taxa de qualquer maneira».
Tem sido um sucesso gerido por um grupo composto pela Câmara, o Turismo de
Lisboa e a AHP.
Já foi galardoado com prémios de melhor Promotor Imobiliário Turístico. É um
homem orgulhoso do seu percurso. Algum prémio o marcou mais?
É uma boa
pergunta, nunca ninguém ma fez. O Presidente da Câmara de Loulé deu-me uma
medalha de ouro de Loulé e disse-me: «Isto para si não quer dizer nada, você tem
tantos prémios». Respondi: «Ser reconhecido pelo povo deste lugar… acha que não
me diz nada?» Claro que sim. Cada prémio tem o seu valor. Eu adoro recebê-los.
O que é que a vida tem de melhor, no seu entender?
Viver é um milagre. Viver a vida
com todos os seus lados bons e maus, mas o melhor mesmo é o amor. O amor inclui
a amizade, porque amizade é uma forma de amor. A gente quando chega a certa
altura da vida dá muito valor. Dou muito valor às pessoas de quem eu gosto, que
eu amo, e que gostam de mim.
Que livros gosta de ler?
Sou um leitor
compulsivo, mas há muitas décadas não leio ficção. Li, na minha juventude, toda
a ficção inglesa, francesa, alemã, brasileira e americana. Leio muitos livros
sobre política, biografias e sou viciado em informação. Leio jornais, leio
revistas, vejo na internet, vejo a
televisão, tenho de saber tudo. Sei mais da vida do Trump do que ele. (risos)
Ocupa assim os seus dias?
É uma das
coisas principais. Passo muito tempo sozinho e se não tiver informação fico
nervoso. Adoro caminhar, adoro nadar, faço alguma ginástica, converso e estou
com os meus filhos e com os meus netos.
Última. Também na 1.ª entrevista à Villas&Golfe
foi-lhe questionado: «O que sentiria André Jordan se estivesse sentado sozinho
na Lua a ver a Terra no céu?». Hoje, o que responderia? Como olha para o Mundo,
para a Terra?
O que é que eu
respondi na altura?
A sua resposta foi, passo a citar: «A Lua
está dentro de mim»
Oh, que bonito!, mas, eu falo com a Lua,
porque ela é o astro dos amores.