Quem exige mais de si: os
filhos, o marido, o partido ou a própria Assunção Cristas?
As exigências são múltiplas, são
permanentes, são simultâneas. Eu costumo dizer que eu fico para último lugar
porque quando chega a mim às vezes já não há tempo. Mas o grande desafio é
conjugar o partido, a exigência da política, com a minha família. Aqui, acho
sempre que quem fica com a parte mais difícil é o meu marido. Porque dentro da
esfera familiar a atenção tem de ser dada por mim e por ele, porque em primeiro
lugar estão os nossos filhos. Mas eu vou procurando que as coisas também sejam
equilibradas. Penso que o meu marido compreende e apoia. Tenho essa felicidade.
A forma como tem vindo a
construir a sua carreira política tem deixado muita gente espantada consigo?
As pessoas acham que eu estou no CDS
há pouco tempo e, de facto, eu estou no CDS há nove anos, e para mim já me
parece muito tempo. Na política, as coisas têm sucedido a um ritmo rápido, mas
para mim não foi só na política, já era assim antes. No meu trabalho, na
faculdade, tudo foi muito rápido. Doutorei-me com 30 anos, fui monitora quando
ainda era aluna do quarto ano, depois fui assistente de estagiária, depois
comecei logo o programa de doutoramento… portanto, foi tudo muito rápido…
passados três anos era professora associada… Se pensar na minha vida pessoal,
casei com 23 anos, muito cedo para os padrões actuais. Aos 30 já tinha três
filhos e agora, felizmente, tenho mais uma filha. O contexto da minha vida
profissional, partidária e familiar é bastante intenso e rápido, e eu gosto
disso.
O facto de começar a cuidar
mais a sua imagem, de, por exemplo, ter começado a correr, é também uma forma
de fazer campanha política?
Comecei a correr por uma questão de
necessidade, porque ter um filho aos 26 anos ou aos 28 ou aos 30, como eu tive
os primeiros, e ter uma filha aos 38, é muito diferente. Tive mesmo de me
empenhar, se não queria ficar ‘bolinha’. Por isso, primeiro comecei a andar, e
depois comecei a sentir vontade de correr, coisa que eu nunca acreditaria. Se
me dissessem há dez anos, acharia impossível. Eu sempre detestei correr.
Se ganhar a Câmara de Lisboa
deixará a presidência do CDS?
Não vejo nenhuma incompatibilidade
entre uma coisa e outra. Se um primeiro-ministro pode ser um líder do seu
partido, eu não vejo porque é que um presidente da Câmara de Lisboa não pode
continuar a ser líder do seu partido também. Aí está mais um exercício de
equilíbrio e de articulação.
As próximas eleições
autárquicas vão dizer muito sobre o seu trabalho enquanto líder do CDS? Como
acha que o eleitorado vai reagir nas urnas?
As eleições autárquicas são sempre um
desafio difícil para o CDS. O partido está, neste momento, a reganhar algum
espaço e o meu objetivo é mobilizar o CDS. Dizer-lhes que o caminho não é
fácil, mas se fosse fácil nós também não estaríamos aqui. Temos de nos
empenhar. Eu própria dou o exemplo, porque, em Lisboa, vejo muito por fazer e
creio que posso protagonizar um projeto muito mobilizador para a cidade. Temos
o dever de, em cada momento, darmos o máximo que pudermos. Há essas questões
estruturais e históricas de grande primazia de outras forças políticas que são
difíceis de ultrapassar, todos o sabemos, mas temos de estabelecer objetivos
ambiciosos, por um lado, e realistas, por outro.
Como está a relação entre o CDS
e o PSD?
É uma relação cordata, em que dois
partidos, que têm um percurso histórico conjunto significativo, têm a sua
autonomia, a sua identidade, o seu trilho próprio e onde partilhamos, neste
momento, de uma convicção de que sozinhos somos capazes de crescer mais, de
afirmar melhor as nossas propostas. É esse o trabalho que estamos a fazer com
lealdade e com respeito recíproco. No CDS, tenho-me empenhado para que se
perceba exatamente isso. Nós crescemos pelo nosso pé, temos um desafio, olhamos
em frente, temos a máxima ambição. Também sabemos que temos no PSD um parceiro
natural e um aliado em muitas batalhas, como é notório, aliás, em matéria de
autárquicas, por exemplo.
CDS e PSD voltarão a concorrer
coligados?
Estou confiante de que o CDS e o PSD
podem protagonizar uma alternativa ao governo das esquerdas unidas, com o PS
apoiado nas esquerdas radicais. É preciso construir o caminho para chegar a
essa alternativa. Essa construção far-se-á, na minha perspetiva, de forma mais
eficaz se for feita com autonomia.
Disse, em diversos momentos,
que gosta de ouvir os outros. Quem são as pessoas de quem se rodeia para se
aconselhar? Paulo portas faz parte desse grupo?
Falo muito com as pessoas da comissão
executiva, que reúne a cada 15 dias, e com a comissão política nacional, que
reúne todos os meses. Depois, falo com as pessoas que trabalham mais
proximamente. Há um contacto diário com vários dirigentes do partido e
parlamentares, a ponto de até falarmos significativamente através de um grupo
de WhatsApp onde vários de nós estão ligados para
irmos contribuindo com referências, com ideias, com notícias, com aspetos a
sinalizar. O Paulo Portas está, neste momento, muito ocupado e muito
entusiasmado com a sua vida. De vez em quando falo com ele, mas não com
regularidade, nem diária, nem semanal.
«O
contexto da minha vida profissional, partidária e familiar é bastante intenso e
rápido»