Em 2018, assumiu o Comando-Geral da GNR, não como mais uma missão, mas como «a Missão». Nessa altura, delineou quatro linhas orientadoras que, nunca como agora, perante a Pandemia, tiveram tão plena aplicação. Luís Francisco Botelho Miguel possui um longo curriculum ao serviço da Nação e dele constam inúmeros louvores, mas realça o trabalho de equipa como o grande responsável pela concretização dos desafios. À Villas&Golfe, o Comandante-Geral destacou o sentido de cidadania dos portugueses e disse acreditar que, neste novo estado ‘normal’, os cidadãos responderão novamente com grande sentido de consciência colectiva.
Depois de muitos anos ao serviço no Exército, no Estado Maior General das Forças Armadas e em organismos externos, como encarou a missão de cumprir a divisa «Pela Lei e pela Grei»?
Servir os portugueses na Guarda foi um desígnio que sempre me acompanhou ao longo da minha carreira. Quando o convite surgiu, disse de imediato ‘Pronto’. Direi, com muita tranquilidade, que encaro esta passagem pela Guarda não como mais uma missão, mas como a Missão.
Chegou ao Comando-Geral da GNR em 2018. Como tem sido a experiência?
Ao assumir a função de Comandante-Geral delineei como caminho de acção quatro linhas mestras que designei de ‘4S’: Security, Safety, Social and Support. No meio desta imprevisível pandemia, nunca como hoje aquelas linhas orientadoras estão a ter a sua plena aplicação. O exercício desta função tem sido realizado numa postura de procurar viver todos os minutos da minha acção de Comando com os meus militares e para os meus militares.
Da sua folha de serviços constam inúmeros louvores e condecorações. Que significado têm?
O reconhecimento público, quer através de louvor ou de uma simples, mas valiosa, referência por parte de um cidadão anónimo, é sempre um momento de particular satisfação e recompensa pela missão cumprida. No meu caso, recordo sempre todos os militares com os quais interagi e convivi ao longo da minha carreira, e que me ajudaram a concretizar os desafios que me foram lançando. A concretização de uma missão é, a maior parte das vezes, fruto de um trabalho de equipa.
«A generalidade dos portugueses cumpriu com denodo as orientações. Ainda assim, a GNR teve de proceder à detenção de cerca de 170 pessoas»
Como foi a aceitação das medidas de confinamento impostas no Estado de Emergência?
A esmagadora maioria dos portugueses cumpriu as normas que regulam o Estado de Emergência e seguiu as orientações das autoridades de saúde e das Forças de Segurança. A GNR tem desenvolvido, em permanência, um conjunto de operações de pedagogia, sensibilização e fiscalização, procurando que os incumprimentos sejam cada vez menores. Em paralelo, desenvolvemos o Programa 65 longe + perto, a fim de levar aos idosos que vivem sozinhos e isolados, um momento de conforto, um potenciar do contacto, através de terminais de dados, com os seus familiares, e sinalizar aqueles que se encontravam mais ansiosos que acompanhamos com a nossa equipa de psicólogos.
Houve a necessidade de muitas acções mais coercivas para resolver os casos de desobediência?
Posso afirmar que a generalidade dos portugueses, para além de ter procurado informar-se, cumpriu com denodo as orientações das autoridades de saúde. Ainda assim, a GNR teve de proceder à detenção de cerca de 170 pessoas.
Há alguns militares infectados com a Covid-19. Isso compromete a operacionalidade da GNR?
Ao dia de hoje (1 de Maio) temos o registo de 27 casos positivos, num universo de 23 mil militares, com tendência evidente de descida há vários dias. Nunca esteve em causa o cumprimento da missão, nem sequer houve necessidade de equacionar o encerramento de postos ou qualquer outro órgão da GNR.
«Nunca esteve em causa o cumprimento da missão, nem sequer houve necessidade de equacionar o encerramento de postos»
A crise económica poderá desencadear uma crise social. Antevê que as forças de segurança tenham de recorrer a medidas mais musculadas para travar a eventual insegurança?
Penso que os portugueses já deram provas do seu sentido de cidadania e de consciência colectiva. Estou convicto de que assim será também neste caso. Encontramo-nos num momento de virar de página para um novo normal, a que os portugueses responderão com grande sentido de oportunidade. A GNR acompanhará os seus desenvolvimentos e, enquanto garante da autoridade do Estado, ajustará a sua actuação em função dos princípios da necessidade e da proporcionalidade, na defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos e da manutenção da ordem pública.