Desde que tomou posse, tem passado muito do seu tempo a visitar populações e municípios que muitas vezes parecem estar esquecidos pelos políticos. De que forma este contacto com as populações lhe vai trazer vantagem no futuro?
Tem sido uma experiência fantástica de enriquecimento humano, político e cívico. Sentir e conhecer tanta gente espalhada por todo o território ajuda muito à tarefa de escrutínio e fiscalização do Governo e habilita-nos a sermos mais competentes e certeiros nas escolhas que teremos de fazer no futuro, quando nos apresentarmos para governar Portugal.
E sobre o Orçamento de Estado, que olhar crítico tem?
Vivemos um ciclo de empobrecimento. As pessoas, as famílias, as empresas e as instituições pagam cada vez mais impostos e os serviços públicos prestados pelo Estado estão cada vez mais longe de responder às necessidades. Economicamente, crescemos em termos acumulados, de 2016 a 2021, 7,1%, quando os países da coesão da União Europeia cresceram em média 18,4%. Somos o 21.º país da Europa com o rendimento per capita a 27. Estamos cada vez mais na cauda, a assistir ao desenvolvimento do Leste e à deslocalização para outras geografias dos investimentos e da mão de obra. A passividade e o imobilismo deste Governo agravam o retrocesso dos últimos anos e o OE 2023 é mais uma expressão disso.
Que estratégia está a implementar para fazer frente à governação socialista?
Firmeza e exigência na oposição. Abertura, ponderação e ambição no desenho de uma alternativa ganhadora, credível e maioritária que traga uma nova esperança a Portugal.
«O Brasil é importantíssimo no contexto económico e ecológico mundial, e é importantíssimo no âmbito da lusofonia, cuja mãe-pátria é Portugal»
Tem praticamente três anos até às legislativas. Está ansioso por essa altura?
Pessoalmente, não tenho nenhuma ansiedade. Quem começa a ficar ansioso por ter um novo Governo é o povo português e tem muitas razões para isso. Os portugueses deram uma maioria absoluta ao PS, deram a maioria das câmaras municipais e juntas de freguesia ao PS, mais deputados no parlamento europeu ao PS e, neste momento, dizem, com fundamento, que o PS está a desmerecer a confiança que recebeu. O PS está a confundir o partido com o Estado. O PS está a falhar ao país.
Enquanto observador da política mundial, como acha que vai ser a governação de Lula da Silva, no Brasil? Irá condicionar a política mundial dos próximos anos?
Antes de mais, desejo que o povo brasileiro se reconcilie de uma divisão literalmente ao meio. Depois, desejo que a governação não seja de fação nem do ponto de vista institucional nem programático. O Brasil é importantíssimo no contexto económico e ecológico mundial, e é importantíssimo no âmbito da lusofonia, cuja mãe-pátria é Portugal.
Como é o Luís Montenegro pai?
O melhor é perguntar aos meus filhos…, mas tento ser o mais pedagógico na transmissão dos valores do trabalho, da honestidade, da tolerância e da solidariedade. A característica que mais lhes procuro incutir, porque é a que mais aprecio, é que sejam sempre capazes de se colocar na posição dos outros. No mais, fazemos muitas coisas juntos, a começar pelo gosto pelo desporto que partilhamos e praticamos muitas vezes, apesar de o golfe ainda não ser uma das modalidades a que eles tenham aderido. Enfim, o amor de um pai não se consegue descrever, sente-se. E eles dão-me esse privilégio.