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Marcelo Rebelo de Sousa

«Gosto de olhar sempre para o lado mais positivo da vida»

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Muitos dos portugueses já gozaram as suas férias de verão, outros ainda estão a pensar nelas. Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, não é exceção. Entre a agenda sobrecarregada e a indecisão do destino de férias, o Presidente de todos nós ainda teve tempo para uma entrevista à Villas&Golfe, onde aproveitou para dizer que iria gozar alguns dias «um pouco por toda a parte». E gozou. Ora com um sorriso no rosto, ora a distribuir acenos e beijinhos, ora a dar mergulhos, entre as selfies e a dor incómoda da hérnia, que lhe apareceu no início deste ano, o Chefe de Estado já teve momentos de descanso, sem nunca descansar verdadeiramente da sua missão. E, evitando o chamado populismo, Marcelo diz-nos continuar a atuar próximo das pessoas e dos seus problemas, porque é importante responder sempre ao «vazio» que outros criaram. Eis, aqui, o Presidente do povo. 

É trabalhoso ser Presidente de todos os portugueses?
Hoje, como sempre, é uma missão complexa e trabalhosa, mas muito mobilizadora, pela sua essencial dimensão de serviço. Talvez, nestas últimas décadas, tenha ganho um grau de exposição e escrutínio mais intenso, como é próprio da Democracia, e, nela, da mais participativa mediática e mesmo inorgânica.

É um homem cheio de energia. Gosta de pregar partidas. Com o que é que o Marcelo se diverte? 
Gosto de olhar sempre para o lado mais positivo da vida. Quanto aos tempos de lazer, eles existem, mas todos compreenderão que são mais limitados no exercício de uma função que não tem horário nem folgas, e, às vezes, nem férias. No ano passado, o que vivemos com os incêndios, mais o atentado em Barcelona, mais o acidente no Funchal, tudo isso dominou o que teriam sido as férias de verão. É assim o mandato presidencial, como o são todos os mandatos de serviço público.

Portugal tem recebido turistas de todo o mundo. Foi eleito como melhor destino turístico do mundo. Reconhece que este impulso turístico está a mudar Portugal? 
Todos percebemos a importância crucial do turismo como exportação privilegiada cá dentro e como expressão da nossa vocação inata para o encontro entre culturas, civilizações, oceanos e continentes. E vemos com júbilo a sua evolução muito positiva.

Que aposta o governo deve fazer para que o país continue a ser um destino de férias a visitar? 
Todos estamos empenhados em apostar em mais e melhor turismo, e mais presente em todo o Portugal. E ainda mais diversificado em origem e especificidades e menos sazonal. Penso que o caminho seguido vai nessa orientação.

É importante haver regulamentação no setor turístico?
Mais do que de leis e regulamentos, o turismo tem beneficiado da colaboração virtuosa entre público e privado e da criatividade da nossa sociedade civil, bem entendida e apoiada. Na hotelaria, na restauração, nas estruturas, nas componentes cultural, religiosa, gastronómica, científica, tecnológica, além da natural e da única capacidade de receber que temos e demonstramos ter.
«Somos muito melhores do que o retrato que costumamos fazer de nós próprios»
Serão necessários novos aumentos de impostos no Alojamento Local, setor que está a ajudar o país a crescer na área do Turismo?
Não cabe ao Presidente da República estar a comentar formas concretas de acolhimento turístico e menos ainda em momento de debate sobre elas. Basta que diga que está atento e acompanha os debates e procura soluções equilibradas entre pontos de vista muito diversos.

Esse sufoco não vai ‘estrangular’ o setor?
Como disse, o que mais importa é a busca de um equilíbrio que seja bom para a nossa economia e também para a nossa vitalidade social.

Para além do turismo que outros setores devem estar no foco do desenvolvimento do país? 
Investir mais e melhor. Exportar mais e melhor. Tirar proveito da vocação da plataforma na Europa, no mundo que fala português, no universo ibero-americano, no quadro transatlântico, noutras realidades geográficas e humanas. E, para isso, apostar mais na educação, na qualificação, na inovação, na coesão social e territorial.

Fala-se agora tanto do interior. E o setor agrícola? Não acha que é uma aposta fundamental?  
Claro que a agricultura, que deu saltos notáveis nestas derradeiras décadas, é um exemplo de mudança, inovação, rejuvenescimento, incisividade exportadora e excelência.

Houve recentemente a promulgação das leis laborais pelo bloco central. Qual o seu comentário?
A matéria conhece um acordo de concertação, que louvei publicamente, e será objeto de debate e deliberação parlamentar depois do verão. Não gosto, por princípio, de me pronunciar sobre processos legislativos pendentes no Parlamento.

Defendeu uma meta de cinco anos para resolver o problema das desigualdades entre o litoral e o interior. Acha que essa meta é exequível, tendo em conta a disparidade que existe entre o litoral e o interior?
Se falhássemos esse prazo para darmos passos claros e seguros, teríamos falhado, porventura irreversivelmente, uma componente essencial da nossa coesão social...Tudo devemos fazer para que assim não venha a ser.
«Demasiados responsáveis políticos perderam o hábito e a paciência para estarem mais perto do povo» 
O envelhecimento da população e o futuro da nossa comunidade. No seu entender, acha que são necessárias reformas sérias nesta matéria?
Políticas específicas mais desenvoltas ajudariam. Mas essencial é também que haja crescimento económico sustentado e emprego igualmente sustentado. E estruturas sociais à medida do incentivo desejado à natalidade. Além de que a capacidade de inclusão de surtos migracionais importantes para o nosso emprego e essa natalidade não deixa de ser relevante.

Nas próximas eleições legislativas, que decorrerão daqui a menos de um ano e meio, como se vai posicionar? Vai manter o equilíbrio? 
Por definição, e como já demonstrei em meio mandato por estilo de exercício das funções, o Presidente é e será sempre um fator de estabilidade, concertação, proximidade, diálogo, com permanente isenção no contexto da vida política nacional, com ou sem eleições.

Rui Rio é o líder do PSD. Uma vez que tem tido atitudes que parecem não estar de acordo com grande parte dos membros do partido, será a pessoa certa para estar à frente do PSD nesta altura?
O Presidente da República respeita as decisões internas dos partidos e tudo faz para manter as melhores relações com todos eles e seus líderes. No caso vertente, como
noutros, conhecendo há muitas décadas as pessoas e tendo com elas um natural e bom relacionamento pessoal.

O que acha da possibilidade de termos um bloco central em detrimento da atual ‘geringonça’? 
Os portugueses dirão o que querem. E os partidos escolherão as posições a adotar em finais do ano que vem. Na base desse quadro, o Presidente da República nomeará o
primeiro ministro e o governo que melhores condições tenham para servir Portugal o mais duradouramente possível.

As relações entre Portugal e a CPLP. Que importância têm para Portugal?
A CPLP mostrou ter condições para entrar, depois da Cimeira do Sal, numa nova e mais estimulante fase da sua vida. Esperemos que assim seja, porque considero essencial o seu papel entre Estados-Membros, observadores e no mundo em geral.

E as relações de Portugal e Angola. Que passos se estão a dar?
Vivemos, também aqui, um ciclo novo, promissor. Espero que, com a visita do Senhor primeiro-ministro a Luanda, em setembro, esse ciclo conheça um arranque muito motivador.

A Europa está a «entrar numa era perigosa» - palavras suas. O que quis dizer com isto?
Tempos de escolhas múltiplas e difíceis para a União Europeia, em curto espaço de tempo. Isto é, até às eleições europeias, e com sensibilidades muito diversas e pulsões eurocéticas a crescerem. E aliados de sempre com sinais desconcertantes. Tudo isto teremos de enfrentar os que acreditamos no projeto europeu e no seu papel no mundo – com firmeza, decisão, lucidez, capacidade de intervenção e inquebrantável junção de valores com realismo na compreensão do que hoje desilude ou frustra tantos europeus em relação à Europa que têm.

Portugal positivo e genial, Portugal mais próximo. Sente-se como promotor desta mudança?
Sim, sempre. Puxar para cima quem tem tantas razões para acreditar em si próprio, apesar do muito que haja de mau ou de menos razoável. Somos, ainda assim, muito melhores do que o retrato que costumamos fazer de nós próprios.

Como vão ser as suas férias? Vai para o interior?
Veremos onde e quando. Mas um pouco por toda a parte, tentando descansar depois de um tempo muito cheio e com muitas deslocações cá dentro e lá fora. E uma hérnia incómoda que me surpreendeu na transição para este ano.

É o Presidente da Selfie, popular, e que dá atenção a todos por igual. É «querido» pelos jovens e velhinhos. Como é estar nesse papel? Estar perto das pessoas evita o populismo?
Evitar o chamado populismo passa, sobretudo, por retirar razões económicas, sociais e políticas em que se baseia. Evitando, assim, os riscos de atuação contra o sistema democrático ou os tropismos intolerantes que o caraterizam nos direitos humanos como nos princípios da separação de poderes e da independência institucional. Mas admito que estar, sempre, próximo das pessoas e dos seus problemas, mas mesmo próximo, ajuda. Porque, em muitos casos, demasiados responsáveis políticos perderam o hábito e a paciência para estarem mais perto do povo. Acham que basta defenderem-no nos discursos, nas leis ou nas decisões administrativas. E, depois, descobrem que descolaram da realidade. E descobrem, muitas vezes, quando já é muito tarde... Nesse momento outros ocuparam o seu espaço. E, se o ocuparam com posições não só de ligação ao concreto, como de rutura com o núcleo duro dos valores democráticos, aí já temos o chamado populismo a responder a um vazio que outros criaram. Por distração, arrogância intelectual ou comportamental deslumbramento, fechamento, desajustamento às dinâmicas sociais.

Maria Cruz
T. Maria Cruz
F. Alfredo Cunha
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